O Conto das Parcas: As Três Maldições - Vol II

Vanessa em: "Brilho natural né, queridas?!"

A conselheira de Iris nunca havia entendido as motivações que levaram os Argonautas a terem se juntado em tantos heróis para uma missão. Sempre ficou claro para ela, em seus estudos no Acampamento Perdido, que grupos pequenos de semideuses eram mais eficientes para lidar com profecias e tarefas designadas pelos deuses. Os heróis que embarcaram no primeiro Argo somavam um total de cinquenta tripulantes. Nada disso fazia sentido pra ela, pelo menos até ver a organização das Amazonas e como um número grande de pessoas, se bem organizado, facilita muito as coisas.

Maia, Cíntia e Sara, apesar de jovens, lideravam dezenas de mortais inebriados pela névoa, uma rede nacional de entregas e uma frota absurda de caminhões e pégasos, além de todas as missões que solucionavam independentemente a mando da Rainha Hylla. Todo esse poder fez com que Vanessa e as suas amigas, em segurança e sem demora, descobrissem e chegassem até Petrópolis, a cidade que escondia uma das armas divinas retratadas na profecia.

A chamada cidade da família real brasileira, era onde os descendentes da coroa moravam, e onde também Vanessa já havia passado várias de suas férias. Era localizada na serra carioca, em meio a uma zona preservada de mata com uma mistura de edificações antigas e modernas, um ponto turístico e encantador. Quando o caminhão chegou ao destino, a garota já sabia onde estavam, mesmo muitos quilômetros antes de pararem. As memórias das subidas e descidas, das ruas de paralelepípedos e a sensação de altitude surgiram frescas em sua mente como uma nostalgia agradável e saudosista. 

O caminhão de entregas as havia deixado em frente a um imenso jardim, no alto de uma serra. O Sol subia preguiçosamente e tonalizava as árvores em tons rosados e amarelados, o céu azul e limpo contrastava com as nuvens brancas que se moviam segundo a brisa cálida.  Vanessa foi a primeira a descer do caminhão e ao se deparar com a cena magnífica lembrou-se imediatamente da família e dos dias felizes que viveram ali. Ela não sabia dizer quando poderia ter um dia de paz com seus pais novamente. E aquilo fez seu coração bater descompassado, um leve tremor abateu seu corpo e suas mãos começaram a brilhar em tons violetas. Ela respirou profundamente, não podia perder o controle agora, muito menos chamar a atenção. Clara e Flávia estavam estranhas desde o dia anterior, ela não queria dificultar as coisas ainda mais com emoções que não cabiam no momento. Tudo daria certo e ela garantiria isso.

As duas amigas desceram do veículo como se tivessem sido atropeladas. Os cabelos cacheados completamente revoltados, os rostos amassados, olheiras e longos bocejos. Não era necessário dizer que ambas estavam irritadas com a noite mal dormida:

-Cara, eu não consigo entender como você consegue acordar já arrumada, Vanessa! Se você for do Chalé 10 não me culpe se eu te esfaquear sem querer! - Clara colocava sua camiseta vermelha por dentro da calça na tentativa de ficar mais apresentável.

-Era o que me faltava! Depois de viajar horas numa caçamba como uma vaca, imaginar você sendo uma ninfa! Me deu até refluxo! - Flávia havia feito um rabo de cavalo com seus volumosos cabelos o que havia a dado um ar esportivo, exceto por seu all-star vermelho e mini shorts-jeans.

-Deuses me livrem! - Vanessa sorriu, o clima estava leve entre as garotas, achava que a tensão foi momentânea - Mas vocês sabem, ser filha de Íris tem seus benefícios. Brilho natural né, queridas?! - Ela piscou um dos olhos e fez um "V" com os dedos, bem blogueirinha.

As três subiram uma leve ladeira enquanto gargalhavam com a brincadeira. No centro da área havia um lindo casarão todo de vidro, com jardins floridos e uma grande fonte. Vários postes de luz e bancos de madeira foram distribuídos pelo lugar, dando um ar confortável e clássico. A conselheira do chalé 14 estava encantada com o mosaico de cores que surgiam no lugar. O Sol refletido na construção e até mesmo na água do chafariz refratavam várias cores e tons.