Thiago em: "Tarde demais para reclamar!"

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Thiago não parava de pensar numa hipótese. Todos os semideuses eram azarados com automóveis ou então eles em questão acumulavam todas as probabilidades negativas. Não eram problemas simples como pneu furado,  falta  de óleo no motor e escapamento estourado. Estava mais para coisas como perseguições de cavalos demoníacos com tiroteio e neblinas mágicas, invasões inesperadas a 180 quilômetros por hora e colisões frontais com prédios militares. Sendo que as duas últimas foram unilateralmente arbitrárias.

César era o motorista oficial, mas como ele estava destruído e jogado no fundo da van, foi o conselheiro de Hipnos que assumiu o volante até Curitiba. Mike estava jogado no banco de passageiro, uma espada enorme à tiracolo, vários hematomas na pele e muitos respingos de ícor. Dormia tranquilamente como um adolescente despreocupado, com seus cachos pretos volumosos precisando de uma hidratação evidente e o óculos grande e redondo torto no rosto. Nem parecia o cara tenebroso que matou dois deuses sem hexitar um instante sequer na fúria de vingar o amigo caído. Fazia mais de uma hora que a luta havia acontecido mas Thiago ainda sentia calafrios. De tempos em tempo ele tocava a testa do líder do chalé 11, queria que ele descansasse o máximo possível e também não queria conversar com ninguém. O poder do sono era realmente útil.

Não ousou transformar sua arma em luvas, elas estavam de prontidão no chão, à distância de um curto movimento. Toda vez que parava para administrar um pedaço de ambrosia na boca de César, estacionava no acostamento e descia da van armado. Uma ventania estranha os acompanhava desde Criciúma, tinha a sensação de estarem sendo observados. Ao dar o alimento divino para o amigo machucado notou que grande parte dos piores machucados já estavam estancados e os inchaços diminuíram, mas também aquele era o limite, seu corpo começava a chamuscar. Mesmo os semideuses tinham uma tolerância a quanto podiam consumir da refeição imortal sem virarem cinzas. 

Saltou do fundo do automóvel e se recostou no capô. A lua já descia no horizonte. O GPS enfeitiçado de Aiacos indicava o destino e mostrava uma distância a ser percorrida em 4 horas. Ele suspirou fundo e encarou o céu estrelado. Thiago pensava em tantas coisas ao mesmo tempo que a sua cabeça parecia zumbir mais que a ventania que os assolava. Ele sabia que estavam rumando para uma grande batalha, provável que fosse o estopim da guerra. E como qualquer luta daquele porte, apesar de ser algo que ninguém falava no Acampamento Perdido, vidas seriam perdidas, muitas delas. Pois diferente de filmes Hollywoodianos onde tudo dá certo no final, para os semideuses, as coisas começam a dar errado desde o momento que nascem.

Sua garganta estava seca, mas beber água não sanava aquela sensação. Não era sede, parecia mais uma sensação. Quando olhou para o horizonte percebeu uma estranha movimentação. Uma nuvem, mais negra que o próprio céu noturno, parecia vir em sua direção. E aquilo não era um bom sinal.

Thiago correu para o volante  e arrancou. Acelerou pela estrada na maior velocidade que conseguiu alcançar. O velocímetro batia 180 quilômetros por hora, o chassi tremia, o câmbio vibrava pois aquele carro não era feito para corridas. As mãos do semideus estavam molhadas de suor e os nós de seus dedos estavam brancos pela força que faziam. Ele estava sozinho. E mesmo que corresse a neblina estranha se aproximava.

Ele não sabia quanto tempo havia passado. O Sol começou a raiar e os primeiros raios de luz ofuscaram os olhos de Thiago. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que a nuvem negra tomou conta da van. Na mesma velocidade que chegou, se esvaiu, mas não antes de deixar um pesado estrondo no fundo do automóvel e um insuportável cheiro de enxofre. Thiago olhou pelo retrovisor na tentativa de identificar o monstro perseguidor.

-PERNAS? - Exclamou o garoto - ALEX?

Alex estava caído em cima de César, literalmente sentado na cara do filho de Dionísio. As pernas de Betina balançavam no alto, a garota estava de ponta-cabeça entre os assentos, e Ariel, de alguma forma, era o único que estava em uma posição correta:

O Conto das Parcas: As Três Maldições - Vol IIOnde histórias criam vida. Descubra agora