O Conto das Parcas: As Três Maldições - Vol II

Mike em: "Olhe nos Meus Olhos"

Mike era um sujeito calmo. Pelo menos era como ele gostava que os outros o encarassem. Dificilmente, durante seus meses no Acampamento, se espalhou alguma coisa dele que não fosse um plano mirabolante ou uma brincadeira exagerada. Durante os jogos ele entrava num modo competitivo e os campistas estranhavam essa personalidade que destoava da indiferença de sempre. Houveram alguns boatos sobre sua reclusão após uma missão fracassada que ficou ao encargo do Chalé 11, que acarretou a morte de uma legado de Mercúrio. E há quem dissesse que num Conselho de Guerra ele tentou esfaquear o líder de Apolo. Ele nunca se preocupou em se retratar nas duas situações. A primeira ainda o machucava e a segunda o frustrava por não ter conseguido.

Porém os mais próximos passavam por aquela falsa máscara de "frio e calculista" e encontravam um garoto que surtava quando as coisas saiam do seu controle lógico. E foi isso que aconteceu quando brigou com César e era isso que estava escancarado agora. O ver espancado à beira da morte fez com que uma revolta incontrolável lhe tomasse conta. Literalmente chegou na voadora sem nem tentar entender a situação. Sentia os olhares de cautela de Thiago sob suas costas. Todo seu lado cuidadoso e observador foram cegados pela raiva. Ele só queria destruir aquele deus bonito com rosto esnobe. Mike usava toda a sua força de vontade para não pirar, mas a linguagem corporal da divindade o fez se lembrar do tipo de pessoa que mais o irritava: o adolesente popular musculoso que se acha o rei do mundo.

Olhando como um todo, o semideus era azarado. Em sua forma romana, Metus não empunhava armas, ou seja, se os dados mágicos tivessem se transformado nos gládios, teria a vantagem da distância. Mas não, o soco inglês obrigava Mike a encarar o mesmo estilo de luta que o deus. Acertar um chute de surpresa fez com que o oponente ficasse momentaneamente chocado, porém, ao se levantar, seus olhos ardiam como uma queimada descontrolada. Um riso de escárnio estampava em seu rosto:

-Você acha que sou como um dos heroizinhos do seu acampamento ou um dessas divindades esquecidas? EU SOU UM DEUS! UM DEUS ROMANO DA GUERRA!

Ele tinha um ponto que Mike não conseguia contestar. A maioria dos rivais do garoto haviam sido meio-sangues ou monstros, e os comparando com Metus, era como tentar matar o minotauro com um pedaço de madeira. Por mais pesado e intimidador que possa ser o porrete, seria apenas um graveto perto de um monstrengo imenso meio humano e meio vaca. Exceto por Alastor, que era algo muito mais antigo e cruel, os gêmeos filhos de Marte e Vênus tinham uma presença mais intensa, viva e voraz.

Mike tentou cruzar os braços em frente ao seu tórax para evitar o soco surpreendentemente rápido. Ele foi pego de surpresa, pois Metus não correu a distância que os separava,na verdade ele se empertigou como uma cobra pronta para o bote e saltou. E o impulso forte somado a um soco direcionado seriam o suficiente para nocautear qualquer humano. A ideia era aparar o golpe com os membros superiores e usar a guarda baixa para dar uma rasteira no adversário. Mas, no último instante o punch se transformou num agarrão. O filho de Mercúrio se viu lançado ao ar com um movimento de alavanca, um de seus pulsos e seu ombro foram travados pelas mãos fortes do deus, que usou o próprio peso do garoto para aumentar o impacto contra o solo. As costas bateram pesadamente sobre os paralelepípedos da praça, por um instante o oxigênio sumiu de seus pulmões, sua visão se turvou e ele não conseguiu pensar em mais nada. Por instinto rolou para o lado e se obrigou a ficar em pé.

Cambaleante, sentia um gosto ferroso na boca. Seu estranho interesse por biologia e informações aleatórias fez com que soubesse distinguir duas costelas quebradas e uma lesão no diafragma. Além de todas as outras escoriaçoẽs. Respirar não queimava, isso era pouco para retratar a dor. Era como se a cada inspiração sua caixa toráxica se incendiasse. Manter o foco era essencialmente difícil. Metus estava com uma fisionomia predadora, outro golpe daquele seria letal.