Vanessa em: "Que Seja Suficiente"

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A filha de Íris havia desenvolvido a péssima mania de se oferecer para vasculhar os espaços e ver o quão seguro era. Após descerem o lance de escadas até o quinto andar e Clara abrir a porta com o jeitinho especial de Hermes, Vanessa usou seus poderes de invisibilidade e entrou sozinha no corredor sob protestos de William e Flávia. Dessa vez a garota esperava por um exército de inimigos escoltando Alastor, criaturas bizarras tentando matá-los ou qualquer outra coisa que perturbava suas noites de sono, mas a cena com que se deparou foi algo inesperadamente inquietante.

Quando invadiram o quartel general dos daemones o Sol estava incandescente. Apolo estava trabalhando intensamente naquele dia, o que não compactuava com o breu que dominava o ambiente. Ela não conseguia ver nada, exceto poucos metros além da soleira da porta. A sala parecia absorver toda a luz que tentava entrar no lugar. Prendeu o ar por alguns instantes e o único barulho que ouvia era o do seu coração batendo acelerado. A porta às suas costas lhe dava certa segurança, decidiu então mudar seu poder, ao invés de refletir a luz, o segredo da sua invisibilidade, começou a emanar feixes azulados de seus dedos.

Não era uma escuridão qualquer, e isso ela havia sentido no momento que adentrou ali. Parecia ser o exato oposto de seus dons, a luminosidade era tragada por uma espécie de fumaça, semelhante às de César, mas que não permitia ver absolutamente nada. Suas mãos brilhavam, mas o pretume espectral começou a assombrá-la, sua respiração ficou pesada. Não queria ficar sozinha ali. Deu três batidas na porta, que era o código para que os outros a seguirem.

Provavelmente Flávia, Clara e William ficaram mais impactados que ela, pois faziam um silêncio fúnebre, que, aliás, era algo bem raro de acontecer.

-Porque você não joga uma luz nisso aí? - Murmurou a filha de Plutão.

Vanessa levantou as mãos e revirou os olhos:

-Você acha que eu não tentei?

-Porque a gente tá sussurrando? - Questionou Clara.

-Porque somos idiotas! - Afirmou William - Vou tentar uma coisinha.

O garoto começou a se transformar em um grande felino.Que aliás era algo meio estranho de se presenciar, para não dizer bizarro. Em poucos instantes um guepardo fitava a escuridão com seus olhos afiados, mas um ronronar de frustração fez as garotas entenderem que a única solução seria entrar na penumbra.

-William, você vai na frente! - Disse Vanessa, já assumindo um lugar na retaguarda!

-Sim! A gente protege suas costas! - Concordou a filha de Hermes.

-Essas sombras não fazem parte dos domínios de Plutão... - Flávia colocou as mãos no bolso frustrada e deu um tapinha nas ancas do felino - Acredito no seu potencial, amigo!

O vice-conselheiro de Dionísio rosnou indignado mas começou a marchar escuridão adentro, acompanhado das garotas. Vanessa irradiava um brilho opaco, como um abajur com pilha fraca, o suficiente apenas para não esbarrar em paredes ou móveis, um verdadeiro orgulho de Íris.

Os minutos pareciam uma eternidade, os únicos barulhos audíveis eram os passos e as respirações. A conselheira do Chalé 14 estava angustiada e tentava afastar vários pensamentos ruins da cabeça. Diversas experiências negativas pareciam sussurrar em seus ouvidos: a fuga de sua casa após os monstros ameaçarem a família, a fuga até o acampamento, os companheiros mortos em batalha, os traumas, os medos... bruscamente ela parou quando os pelos de William se eriçaram e ele se abaixou em uma postura de ataque.

A espingarda de Clara já estava engatilhada, Flavia empunhava suas adagas ninja, as presas afiadas de William estavam ferozmente expostas e o arco de Vanessa já estava pronto para atirar, só não sabia exatamente em que. Vultos passavam velozmente pelas sombras, era mais um sentimento do que um vislumbre. Todos estavam apreensivos e alertas.

O Conto das Parcas: As Três Maldições - Vol IIOnde histórias criam vida. Descubra agora