Cap. XXXVIII - Sobre a sua mãe

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Siena Dumbledore não podia acreditar na enxurrada de sentimentos que lhe invadia. Era como se cada célula do seu corpo disparasse uma emoção distinta. Para além disso, seus pés estavam inchados e suas costas doloridas. A barriga de sete meses pesava tanto, que Siena precisou arquear as costas em uma almofada amarela para se acomodar na cama. 

Ao seu lado, Cedric Diggory organizava meticulosamente as roupas do bebê no armário. Cedric havia encontrado nas tarefas cotidianas uma excelente maneira para dissipar a sua preocupação com Siena e... Sua mãe. 

As palavras de Dumbledore ainda corriam soltas na mente agitada de Cedric. A mãe de Siena fazia parte do exército de Voldemort. O exército que ressuscitou o Lord das Trevas na última tarefa do Torneio Tribruxo há alguns dias atrás. Dumbledore havia confessado à Cedric sua história quando visitou Siena na residência dos Diggory. 

O pior, para Cedric, era guardar o segredo de Siena. Cedric sentia como se uma lâmina de ferro estivesse colocada no seu peito. E se Scarlet resolvesse visitar Siena? Será que a mãe da jovem ainda tinha assuntos não resolvidos com a filha? 

E por quê Dumbledore não dizia a verdade? Por vergonha, talvez. O bruxo mais poderoso e respeitado do mundo da Magia havia se envolvido com uma Comensal da Morte. Siena era filha de uma relação amorosa ambivalente entre o bem e o mal. Seu sangue era ainda mais esplêndido.

Se Cedric pudesse colocar Siena em uma redoma de vidro para afastá-la da verdade sobre sua mãe... Cedric não pensaria duas vezes. Mas, o tempo e as experiências passadas lhe ensinaram que adiar a verdade era como adiar uma tempestade. Inevitável. 

Siena precisava saber sobre a sua descendência. Por mais que a jovem não se lembrasse da sua infância, as lacunas sobre a identidade da sua mãe precisavam ser preenchidas. E Cedric sabia que estava nas suas mãos a decisão de contar ou não. 

Dumbledore havia solicitado o seu silêncio, mas a admiração que Cedric sentia pelo diretor de Hogwarts havia acabado naquele momento. Siena, acima de qualquer outra pessoa envolvida na história, tinha o direito de saber sobre a proximidade da sua mãe. 

Dumbledore e Scarlet podiam ter assuntos inacabáveis, mas Siena também estava envolvida indiretamente. 

Com um suspiro pesado, Cedric abandonou alguns sapatinhos de bebê em uma cadeira e encarou Siena nos olhos. Siena murmurava uma canção delicada enquanto folheava um livro qualquer. A luz do por do sol refletia na silhueta de Siena, projetando a sua sombra na parede amarela do quarto. 

-Você está preocupado. 

Siena murmurou baixinho. Cedric tentou esconder o espanto. Suas sobrancelhas arquearam em resposta. O rapaz passou a mão pelos cabelos despenteados e deitou na cama ao lado de Siena.

-Nosso bebê consegue identificar as emoções.

Siena esclareceu ao pousar o livro aberto na cama e tocar a bochecha de Cedric com a ponta dos dedos. Cedric estava surpreso. Sua mãe, Claire, conseguia prever o futuro... E agora seu filho também tinha um dom? Isso era extraordinário. 

-E como você descobriu?

Cedric perguntou com a voz embargada. Só mais alguns meses e ele poderia finalmente segurar o seu bebê no colo. 

-O bebê sabia que você estava em perigo no labirinto. E agora ele sabe que você está preocupado. Assim como ele sabe que seu pai está irritado com a bagunça de Daliah na sala de jantar. 

Siena respondeu em um tom perspicaz. O seu laço materno com o bebê estava ainda mais intenso. Siena sabia que sentiria falta de acomodar sua barriga entre as cobertas, mas se sentia animada para conhecer o garotinho que dançava no seu ventre. 

-Talvez eu deva lhe contar o motivo da minha preocupação. 

Cedric sugeriu ao deitar a cabeça no ombro de Siena e afagar a sua barriga inchada. Inevitavelmente, o bebê chutou o local onde a mão de Cedric estava, provocando um sorriso bobo no jovem. 

Siena assentiu e se calou para Cedric prosseguir. O lufano respirou fundo e martelou as palavras de Dumbledore. Quase como uma súplica, Dumbledore havia pedido à Cedric para guardar o segredo. Mas, Cedric não conseguia mais lidar com o peso da verdade. 

-Dumbledore me contou sobre a sua mãe. E... Não está sendo fácil para mim honrar o segredo dele para te proteger. 

Cedric grunhiu com tristeza. Se o coração de Siena se partisse com a verdade sobre a sua mãe... Cedric iria juntar os pedacinhos com cuidado. 

-Ela é uma Comensal da Morte. Seu pai e Scarlet se conheceram antes do início da guerra bruxa. Na época, Scarlet não pretendia voltar para o exército de Voldemort. Mas, depois do seu nascimento... Scarlet retornou à sua função. Dumbledore disse que Scarlet precisava escolher entre a família e a promessa feita à Voldemort. 

Cedric fez uma pausa dramática para avaliar a expressão no rosto de Siena. O olhar da jovem estava perdido em lembranças ofuscadas pelo tempo. Discussões antigas, uma visão embaçada do cabelo vermelho de sua mãe e uma promessa feita à Siena. Dumbledore havia escolhido proteger Siena a qualquer custo. O que sua mãe não quis fazer. 

Siena resmungou alguma coisa inaudível. Cedric mordeu os lábios e esfregou pequenos círculos na palma da mão de Siena. Seu coração parecia estar despencando de uma montanha russa sem freio. Dumbledore o odiaria. 

-Eu sinto muito, Siena. Mas, Scarlet escolheu a Marca Negra. E ela retornou no cemitério do Torneio Tribruxo ao lado de Voldemort. Dumbledore teme que ela se aproxime de você e do bebê. 

Siena balançou a cabeça em negação. Era muita informação. Cedric envolveu seus braços musculosos pelos ombros de Siena e afagou seus cabelos morenos com cuidado. 

-Eu não quero que ela se aproxime de nós. 

Siena sussurrou com pesar. Seu sonho... Sempre fora entender o abandono da sua mãe. Mas, agora... Esse sonho parecia ter se tornado um pesadelo. Se Scarlet se aproximasse do seu bebê, Siena não iria responder por si. 

-Não se preocupe, nós vamos ficar bem. 

Cedric concluiu com determinação. Siena entrelaçou suas pernas nas de Cedric e inspirou o seu perfume. Siena já havia perdido a conta de quantas vezes se preocupou com o futuro do seu filho. Mas, naquele momento, os braços de Cedric foram responsáveis pelo seu sossego em meio à tempestade. 

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Nota da autora 1) Oie! Eu sumi por motivos de: minhas aulas voltaram kkk rindo, porém triste!



Febre Dourada - Cedric DiggoryOnde histórias criam vida. Descubra agora