Apenas uma desculpa

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Que noite longa, né Daniel? A cada estalo que o mundo dava ele abria os olhos para ver qual demônio o espionava. A noite foi longa, não queria dormir, tinha medo de ter outra paralisia, o tanto que se arrependeu de ter falado aquilo para seu amigo, a verdade é que não queria ficar sozinho, não queria ter outra pessoa destruída por culpa sua. Por mais que ele não escrevia mais monstros... Os já escritos, estavam a solta e pessoas estavam morrendo, perdendo sua sanidade. Sentia que parte de sua culpa de acontecerem com o Alex eram indiretamente culpa sua, mas não conseguia agir normal com ele... Sua mente ainda o chamava de monstro.
E foi assim a noite inteira, seus pensamentos o impediam de dormir. De manhã, acordou com a luz do sol batendo em seu rosto. 
— Eu dormi?
Falou consigo.
Olhou em volta esperando ver alguém no quarto. Ainda estava sozinho.
Respirou fundo, e ficou olhando pra janela, esperando que saísse daquela monotonia.

Minutos se passaram e um medico entrou no quarto.
— Senhor Hartmman? 
— Sim?
— Logo, logo vamos tirar seu ferro, quem vai lhe acompanhar?
— Eu-u, não sei. 
O medico dá um sorriso leve.
— Ok, vamos resolver. Tem alguém especifico?
— Alexander Kothe, por favor. 
— Vamos ver o que podemos fazer.

...

Acordou o homem com o celular tocando. Um pouco desorientado por ter dormido muito mal e totalmente torto na cama com o livro aberto e a caneta espalhada no lençol.
—Quem tá me ligando a essa hora?
Viu que era um contato não registrado. Atendeu:
— Quem é?
— Hospital de São Paulo...
Droga. Falou consigo mesmo.
Se arrumou e foi correndo pro hospital.

Depois que ele chega lá, vê que a sala já tá vermelha. Ele se aproxima do balcão.
— Daniel Hartmman, já está em cirurgia?
O atendente vê algo na tela do PC e afirma.
— Sim ele já esta. 
O coração do mesmo acelerou. Se sentou em umas das cadeiras do hospital esperando o tempo que fosse para pelo menos ver se seu amigo teria uma boa cirurgia, não ficaria muito tempo, ainda estava triste com as palavras do amigo que foram ditas ontem, lembrou se, depois de um tempo que não havia se alimentado bem na hora que veio pro hospital, levantou se e comeu umas bolachas que estavam na mesa do hospital com um café. As horas passavam mais lentos, a tensão do momento fazia Alex suar, tempos depois chegou um agente da Ordem que o senhor Verissimo chamou para ficar no lugar do mesmo.
— Ué senhor Alex? Você não era pra vir hoje!
Falou Luiz, um homem jovial com olhar cansado e corpo robusto que se aproximara dele.
— Eu sei, mas pelo visto o Daniel me chamou antes de entrar na sala cirúrgica. Vou ficar pouco tempo, só vou ver como ele vai ficar, mas vou embora logo logo.
— Ok então, vou fazer companhia á você por enquanto.

Mas alguns minutos se passaram e Daniel Hartmman saiu da sala cirúrgica, desacordado por conta da anestesia, Luiz e Alex foram em direção ao quarto. Os médicos colocaram ele na cama e Alex se aproximou do mesmo, colocou a mão em seu cabelo e sorriu.
— Melhoras amigo... - Ele se virou para Luiz. — Quando ele acordar, não diga que eu estive aqui. Por favor! 
Luiz assentiu. 
— Até logo Dani.
Olhou para a cintura do ruivo toda enfaixada da cirurgia e sorriu. 
Foi se afastando da cama e indo em direção a porta. 
— Obrigada Luiz.
— É apenas meu trabalho Alex.
E assim Alex foi ao trabalho.

...

Daniel se acordou de tarde, olhou para os lados tentando reconhecer o local, e ainda estava naquela merda de hospital, e tinha alguém sentado na poltrona mexendo em um notebook.
— Alex?
O mesmo homem se virou.
— Olá Daniel! Não sou Alex, meu nome é Luiz e estou aqui no lugar dele.
Daniel levantou um pouco o corpo podendo ver seu corpo enfaixado.
— Onde o Alex tá?
— Trabalhando. 
Daniel bateu a mão com força na cama.
— Filho da puta!
Luiz o olhou surpreso.
— Por que está falando assim dele? Se quiser contar, claro.
Daniel sentiu seu rosto esquentar e seus olhos encherem de lágrimas. 
— Ele não pode me deixar dessa forma. Ele não pode me deixar sozinho assim....

Luiz olhou diretamente pro jovem agora que estava cobrindo seus olhos com o cotovelo. 
— O Alexander e o Senhor Verissimo não me falaram o motivo certo do Alex não poder comparecer aqui senhor, mas falaram que foi alguma briga no qual o Senhor Alex não se sentiu confortável em estar aqui.
Aquelas palavras fizeram Daniel chorar um pouco mais, quando você entende sua culpa, costuma se martirizar por isso. 
— Eu sou um grande idiota, babaca e desgraçado mesmo, hein! 
Luiz riu. 
— Talvez... 

...

Foi mais um dia monótono e sem graça até depois do almoço. Daniel estava comendo quando viu Elizabeth e Thiago entrando no quarto.
— Oi meu querido!!
Daniel sorriu de orelha a orelha.
— Thiago! Liz!
— Oi Daniel. - Falou Elizabeth se dirigindo aperto dele. Olhou para o homem quieto na poltrona que acabava de se levantar. — Quem é você?
Luiz sorriu e se apresentou:
— Luiz Heitor. Agente da Ordem, estou de companhia ao Daniel.
— Ué, mas cadê o Alex?
Perguntou o Thiago. 
Nesse momento Daniel revirou os olhos.
— Está trabalhando.
Luiz falou.
— Você pode nos dar licença Luiz. - Elizabeth se virou pra ele.
— Claro.
Falou Luiz. E logo se retirou.
Depois de um minuto em silêncio Elizabeth falou:
— Vamo Daniel, o que aconteceu com o Alex?
Ele excitou em falar por um tempo.
— Vamos meu querido, ninguém vai te julgar. - Thiago consolou.
— Eu vou sim!
Daniel respirou fundo. 
— Eu briguei com ele...

Daniel explicou tudo o que aconteceu com o coração na mão, sabia que estava errado, mas ainda sim era difícil assumir. Elizabeth suspirou e disse:
— Daniel, meu querido. Eu e você, principalmente, devemos muito ao Alex. É difícil aceitar mas, o Alex não mereceu passar por tudo isso. E devemos umas desculpas pra ele. Mas eu não vim pra cá pra falar isso, eu e o Thiago vamos para uma missão.
Daniel olhou para a amiga surpreso.
— Liz? Por que?
— Eu e o Thiago precisamos, e a gente precisa ter certeza que nossos amigos vão estar bem!
— Mas Liz...
— Meu querido- Interrompeu Thiago. — Não sabemos se vamos ficar bem, e por isso precisamos que vocês estejam aqui e bem para quando voltarmos, então vai lá e pede desculpas para o Alexander.

Daniel ainda estava incrédulo com as palavras dos amigos. Tinha medo de perder eles como tinha medo de perder sua própria vida, eles iriam embora, qual a chance de retornarem? E Alex, por sua culpa, estava distante e triste.
— Eu vou falar com ele Liz, e Thiago.
— Muito bem, meu querido. - Thiago falou colocando a mão no ombro do amigo.
Liz sorriu e abraçou o colega. 

Os agentes saíram e deixaram Daniel sozinho, mas o Luiz retornou para poltrona para continuar o trabalho, Daniel ainda refletia sobre as palavras de Elizabeth. Depois de muito silêncio, o ruivo enfim disse:
— Quando eu vou poder andar de novo?
— Não sei senhor, mas amanhã você já vai poder andar de cadeira de rodas pra fora do hospital.

Daniel se manteve calado, seria amanhã que ele falaria o que precisava ser dito, apenas um pedido de desculpa.

Coração Esmeralda || Danilex 🌸✨Onde histórias criam vida. Descubra agora