Capítulo 4

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Antonie Breton

De todas as regras que eu sigo, me envolver pela segunda vez com a mesma mulher é a que eu mais preso. Isso passou a não valer mais quando eu a reencontrei. Eu sei que isso é loucura e desumano, mas quando eu a vi na galeria — observando o seu próprio quadro e de certo relembrando o que vivemos em Paris —, o meu desejo por ela reacendeu dentro do meu corpo, ou melhor dizendo, esse desejo ainda estava lá ele apenas... aumentou.

Eu a reconheceria em qualquer lugar, a sua fisionomia ainda está fresca em minha memória, o que é algo... estranho e assustador, não costumo me lembrar das mulheres com quem eu já transei.

Nova Iorque acostumava ser tão... grande, mas naquela noite ela se tornou tão... minúscula e estreita. Por todo os lugares que eu andava, dentro da galeria, a sua presença insistia em estar a poucos metros de distância de mim, mesmo não tendo a consciência de que eu estava ali, a observando atentamente e discreto. Não quis me aproximar, um escândalo arruinaria a minha primeira noite de exposição. Hoje o meu rosto estaria estampado em qualquer manchete, e os meus quadros deixariam de ser tão valiosos como são.

Mas eu tinha que conspirar contra o universo, não é mesmo?

Por mais que eu tenha tentado mil vezes não me aproximar dela, lá estava eu caminhando em sua direção, pois tudo o que eu queria era ver a sua reação diante a mim, o que ela faria contra mim na frente de várias pessoas.

E por mais que eu já sabia a resposta, as atitudes de Annaelle Lancaster, como sempre, surpreendem, e naquele momento qualquer um ficaria boquiaberto com o que ela fez ainda mais quando eu fingi que eu não a conhecia, algo que eu estou acostumado a fazer.

Ana foi tão fria e calculista naquele momento, que me deixou de pelos arrepiados. Ela poderia sim, olhar na minha cara e dizer coisas horríveis das quais, digamos que... eu mereço, mas ela não fez, e o motivo por trás dessa sua atitude era aquele homem chamado... Richard.

Pelo pouco que eu sei sobre Srta. Lancaster, ela nunca se envolveria com um outro homem em tão pouco tempo. Não que eu não queira, por mim ela pode ficar com quem ela quiser, mas os seus ideais e princípios são únicos e incomuns, o que a torna diferente de qualquer outra mulher que eu já conheci.

E naquele momento deixar o meu desejo em tê-la novamente me pareceu ser o mais sensato das minhas decisões.

Porque eu a teria novamente em meus braços? Eu já tive.

— Antonie? — Escuto Charlotte me chamar.

— Sim? — Saio dos meus devaneios. Eu observava a borda da minha xicara de café.

Charlotte me convidou para tomar um delicioso café na Woops Bakeshop.

— Você está bem?

— Estou sim, por quê?

— Eu te fiz uma pergunta.

— Ah! eu...estava...

— No mundo da lua? — Ela sorriu.

— Um pouco. — Dou um meio sorriso.

— Volto a perguntar, o que achou da primeira noite de exposição?

— Eu ache... aglomerada. — Brinco.

— Eu estou falando sério. — Ela sorri.

— Quer mesmo saber o que eu achei? — Eu a encaro.

— Sim, claro. — Charlotte beberica um pouco do seu café.

— Eu achei... formidável, ainda mais porque você a organizou.

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