Capítulo 25

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Antonie Breton

Como dizia Shakespeare;

" Amor é um marco eterno, dominante, que encara a tempestade com bravura; é astro que norteia a vela errante, cujo valor se ignora, lá na altura".

O único significado que o amor tinha para mim, era uma grandiosa, estupida e patética perca de tempo. Pensamentos causados pela falta de amor e carinho que eu não recebi dentro da minha própria casa. Como eu poderia desejar tais sentimentos e afeições de duas pessoas que nunca se amaram ou trocaram um segundo de carinho? Minha mãe preferia as suas flores do que a mim, meu pai, bom, ele preferia as suas amantes do que a sua esposa e ao seu filho. Por um tempo eu deixei de lado essa ideia maluca, mas quando vi a minha Sophia pela primeira vez eu odiei os meus pais com todo o meu coração. Desejei amargamente um ambiente completamente diferente do qual eu cresci. Sua vida será marcada por momentos difíceis por causa do autismo — o que não deveria NUNCA acontecer, mas acontece — ela merece receber amor e apoio da sua família, mas nunca foi assim. Os piores momentos na vida da minha irmã não foram causados através dos seus coleguinhas ou professores, e sim dos seus próprios pai. Minha mãe nunca foi muito de demonstrar carinho para a minha irmã, mas pelo menos ela trata Sophia como sua filha, algo que o meu pai nunca fez.

Eu tentei ao máximo, ao extremo dar todo o amor que Sophia merecia dentro de casa passando a ser mais do que os seus próprios pais, por um tempo funcionou, eu era o seu tudo assim como ela era o meu. Eu ganhava presente do dia das mães e do dia dos pais, passei a frequentar as suas reuniões escolares e até autorizar a minha irmã a participar de acampamentos, o que nunca aconteceu, não por causa do meu pai e de suas ordens causadas por preconceitos, mas sim por preocupação. Faz um longo tempo que a minha irmã não tem crises, a última vez que isso aconteceu eu viajei a trabalho e fiquei uma semana sem falar com ela. Entretanto, ligações não passavam pela minha cabeça, mas qualquer contato que uma criança autista tem com a pessoa que ela gosta ou que a deixa confortável, é fundamental. E desde o dia que eu pisei em Nova Iorque não liguei mais para ela, mas pela ausência das ligações perturbadoras da minha mãe, está tudo sobre controle.

O amor fraternal era o único amor que existia na minha vida, o único amor que eu sempre deixei existir na minha vida, e não passava disso. Lembrar de todas as mulheres com quem eu já me envolvi no meu passado me deixa um pouco angustiante, e envergonhado, mas, todas elas, um terço delas, tentaram ter algo a mais comigo. Eu menti e enganei, deixei esse um terço acreditar que passaríamos a vida inteira juntos só para eu me divertir, até na manhã seguinte. E em uma dessas manhãs eu ganhei um dos melhores presentes da minha vida, a mulher que mudaria tudo isso para sempre.

Nós dois não sabemos o caminho do nosso destino, se ambos os dois vão trilhar juntos, mas respeitando um ao outro em primeiro lugar, ou se, vão caminhar separados sentindo a dor perfurar os nossos corações. Eu não quero mais me separar de Ana, quero tê-la perto de mim para sempre, para ama-la e protege-la. Tudo o que eu não fiz quando eu a conheci quero passar a fazer. Naquela época eu não a amava, estou convicto de que isso não é desculpa para a crueldade que eu fiz, mas eu quero mudar, quero que isso funcione, podemos começar com a minha viagem para Milão. Não vou suportar ficar longe dela, já não suporto estando na mesma cidade que ela imagina longe.

Hoje pela manhã Ana me enviou uma mensagem um tanto quanto misteriosa para cacete. Apenas o endereço de onde ela trabalha, sem quaisquer explicações ou algum tipo de charada para eu passar o dia inteiro tentando adivinhar.

A porta do carro se abre.

— Oi. — Ana sorriu assim que se sentou no banco ao meu lado.

Reta Final • As Cores Do Perdão • Livro II • Trilogia EnvolvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora