CAPÍTULO 5

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- O Nerd gostosão

A hora do almoço chega e além de faminta -  e muito! - eu também estava aérea. Não consegui me manter muito concentrada nesse último período. Passei o restante da manhã pensando naquela mulher. 

Por sorte, os casos que peguei depois foram mais tranquilos. Não deu para fazer merda ou matar alguém. 

Saio da emergência e vou ao encontro de Guilherme, que já estava no refeitório. Prometi para mim mesma que tentaria não pensar no que aconteceu hoje cedo - pelo menos, não agora e não pelo resto do dia. 

Chegando lá, o vejo sentado sozinho em uma das várias mesas de MDP e aço verde limão. Aproximei-me dele e sentei-me ali. 

A conversa com Guilherme fluiu naturalmente. Era como se nos conhecêssemos há muito tempo. Ele era o tipo de cara, pelo qual qualquer um se apaixonaria. Era engraçado, simpático, um pouquinho tímido - o que dava mais charme a ele -, e muito bom de papo. Pude conversar sobre diversos assuntos com ele, e em nenhum momento me senti desconfortável. 

É… Eu estava gostando dele… 

- Tu vai na festa do Gabriel? - indagou ele, enquanto tomava um gole do seu suco.

- A festa que não era para você saber? - devolvi. 

- Essa mesma! - afirmou ele, rindo da situação. 

- Não sei! - desencostei da cadeira e me apoiei na mesa - Não sou muito fã do anfitrião - complementei. 

- Uma resposta válida! - Guilherme ri um pouco e depois fita-me novamente - Nunca entendi o porquê de vocês não se darem bem… 

- Sem querer ser chata, mas… - penso bem no que irei dizer - Seu irmão é um mala! - respirei fundo - Durante os anos de faculdade, ele fez um inferno na minha vida - pausei minha fala relembrando aqueles momentos tenebrosos - O inferno foi tão grande e intenso que passei a odiá-lo - o filme da nossa tenebrosa história se passou em minha mente - Sem contar que sempre achei que Gabriel não tinha méritos próprios e as poucas coisas que conseguia fazer eram praticamente dadas a ele de graça - respondi. 

Guilherme fita-me seriamente. 

- Compreendo sua dor - concordou ele - Em casa, Gabriel sempre foi o queridinho dos meus pais. O que eu, como filho mais velho, não dei de trabalho a eles, o "queridinho" lá só se metia em confusão - Ele encostou-se na cadeira e cruzou os braços acima do seu peitoral - Tu sabia que Gabriel já foi preso umas duas vezes? - Guilherme aqueia a sobrancelha - Uma por dirigir embriagado e a outra por fazer sexo no banheiro químico do Oktoberfest. 

- É, fiquei sabendo… - respondi - Ele ficou orgulhoso  do feito e espalhou isso na Universidade. 

Uma gargalhada surgiu entre nós ao compartilharmos essa história. 

- Mas sendo sincera, duvido que você não tenha dado nenhum pouquinho de trabalho aos seus pais. Principalmente sendo assim, tão… tão… - hesitei, tomando consciência do que iria dizer. 

- Tão… ? - indagou Guilherme, parecendo bem curioso. 

- Tão bonito e simpático - respondi descaradamente. 

Guilherme solta uma risada baixa, mas calorosa. 

- O que foi? - A reação dele me deixou preocupada. 

- Nada… É, que é estranho escutar alguém falando isso de mim - respondeu ele, tentando conter o riso. 

- Por quê? Você já deve ter escutado isso, sei lá, umas mil vezes? - retruquei. 

- Na verdade, não. É a primeira vez! - respondeu ele - Digamos que eu sempre fui meio nerd - Guilherme pigarreia - Na escola, eu era o típico adolescente anti-social que só tinha um amigo, no caso, o Júlio. Minha aparência, não era lá grande coisa também - ele novamente se apoia na mesa - Usei aparelho até os 20 anos e não consegui reverter minha miopia só usando óculos, então também tive que apelar para as lentes. Isso sem contar, que naquela época eu tinha um corpo magricelo, muitas espinhas e péssima aptidão para qualquer esporte. Na verdade, até hoje, eu ainda não curto coisas muito esportivas - Ele respira fundo e pisca lentamente - Resumindo a história… Eu era um desastre completo. 

O olho quase incrédula. 

Guilherme ri. 

- Está vendo, te deixei entediada! - Complementou ele. 

- Claro que não! Apenas… Apenas pensei que se tivéssemos nos conhecido nessa época, eu certamente teria me apaixonado por você - digo sem pensar. 

Ele fitou-me fixamente e atentamente. 

Meu Deus! O que acabei de dizer? Eu realmente dei em cima dele, na maior cara de pau? 

- Então seu tipo era os esquisitos e nerds? - indagou Guilherme arqueando sua sobrancelha. 

- É, digamos que sim!  - sem nenhuma decência continuei - E acho que hoje em dia, meu tipo ainda é o esquisito e nerd. Com a diferença, de que hoje, esse esquisito finge ser um médico bonitão e confiante. 

Por Deus! Como eu consigo ser tão despudorada depois da manhã que tive? 

Sério, isso não combina comigo! 

- Boa jogada! - exclamou ele esboçando um sorriso. 

Nos encaramos por alguns instantes. 

A vontade de beijá-lo ali mesmo, só aumentava… O problema é que eu não podia fazer. Ele era basicamente meu chefe. 

Somos interrompidos pelo celular de Guilherme. Ele pega o aparelho e o olha. 

- Eu vou ter que ir. Tenho uma craniotomia - disse ele, levantando-se e guardando seu aparelho. 

- Tudo bem! - também me levantei e o fixei. 

- Nos vemos na festa? - indagou ele, antes de sair. 

- É, acho que sim! - respondi. 

- Prometo que meu lado nerd não irá te decepcionar - ele abre um sorriso. 

- Espero por isso! 

Eu estou muito fora da casinha…  Tão assanhada, que até irei fazer o esforço de ir naquela maldita festa do Ortega. 

Nos olhamos uma última vez e depois seguimos caminhos opostos. 

Como Ele & Ela ( Série: Amores Reais - Livro 1) DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora