CAPÍTULO 24

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- Ser complicada é um dom de Família

O restante daquela manhã foi baseado em indiferença. 

Depois que Gabriel me deixou sozinha na sala — e pensando sobre as merdas que faço e digo —, meus pais e minhas irmãs chegaram. Quando estávamos com eles, Ortega fingia bem e parecia o melhor namorado do mundo, mas nos momentos que tivemos sozinhos, ele sequer me olhava ou me provocava — não me chamou de amorzinho nenhuma vez no dia. E eu até estava sentindo falta disso. 

Novamente, — e para minha sorte — Tomás estava por lá e fazia companhia para Gabriel. Era bom que ele tivesse outra presença masculina por perto além do meu pai.

Depois do almoço e de toda a arrumação, me juntei a Natália que estava sozinha na cadeira de balanço. 

— Oi! — digo me sentando. 

Natália não respondeu, apenas me fitou. 

— Você está bem? — indaguei a ela. 

— Aham… — foi o que a baixinha balbuciou antes de começar a falar — Só um pouco confusa — um suspiro profundo tomou conta da baixinha — Tomás me pediu em casamento — revelou. 

Uma incredulidade me atinge. 

Sempre soube que Natália iniciaria sua vida amorosa antes de mim. Isso nunca tinha me afetado e eu até era bem tranquila quanto a isso. Mas depois de um tempo e com várias encheções de saco, e algumas insinuações sobre minha vida amorosa — com uma baita comparação incessante com minha irmã mais nova —, esse assunto começou a me irritar. 

Quando trouxe Gabriel e minha família o acolheu como meu namorado, uma parte minha ficou feliz e aliviada — não teria que responder perguntas idiota sobre minha solteirice. 

No entanto, com essa novidade de Natália e a situação delicada com Gabriel — incluindo as merdas que eu disse, o fato de não sermos um casal de verdade e a chance de todo mundo descobrir a verdade —, voltei a ficar tensa e preocupada. 

— Você aceitou? — indaguei novamente. 

— Não respondi. 

Okay, estou ainda mais perplexa. 

— Por que não? Você não o ama? 

— Eu não sei, Micaela — respondeu ela bufando — E é claro que eu o amo. Eu sei lá… — há uma hesitação em sua fala — Eu só não consegui responder. Fiquei nervosa. 

Por mais que Natália fosse sensível e extrovertida, às vezes, seu ponto fraco era falar sobre os sentimentos. Ela não se expunha muito. Pelo menos, não comigo. 

Dentre minhas irmãs, ela era o relacionamento mais estreito que eu tinha. 

Obviamente que eu a amo muito e sempre amei, mas nossas diferenças — tão imensas que davam origem à nossas brigas na infância e na adolescência — nos atrapalhavam. Quando se tem uma família grande e muitos irmãos, acabamos escolhendo um — ou mais — para nos aproximar. Isso não significa que não amamos os outros. Ao invés disso, nós apenas escolhemos inconscientemente o irmão que será nosso amigo. No meu caso, era Bárbara. No de Natália era Catarina. E no de Mirela  — quando ela não estava de mal com o mundo — éramos todas nós. 

Tento me aproximar um pouco mais da minha irmã — nesses momentos, ela ficava um pouco arisca. 

— Quer falar sobre isso? — indaguei receosa. 

— Não sei… — os olhos dela começam a ficar encharcados — Me fala alguma coisa, para eu não ter que pensar nisso. 

Não precisa nem pensar, até já sei o que irei dizer. 

Como Ele & Ela ( Série: Amores Reais - Livro 1) DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora