CAPÍTULO 10

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- Tarde demais para se arrepender

Durante o restante daquele dia, não encontrei com Gabriel. Na verdade, foi até melhor assim. Se eu o visse, iria acabar lembrando do que nós fizemos no consultório e iria me sentir ainda mais envergonhada. Era melhor que não nos encontrássemos, mesmo. 

Além disso, estar perto de Gabriel fazia eu sentir muitas coisas — das quais a maioria eu não gostava —, principalmente a atração evidente de meu corpo por ele. Ficar longe dele era a única opção segura e confiável. E eu tentaria com todas as minhas forças fazer isso. 

Meu horário de trabalho acabou e finalmente posso ir para casa. Arrumei minhas coisas, assim como faço todos os dias, e saí. Quando eu já estava fora do hospital, encontrei com Guilherme descendo de uma ambulância. 

Ele estava com seu scrubs preto, sua bolsa transpassada cinza que carregava seu jaleco, o tênis também em cinza — um Adidas Lite Racer — e o seu estetoscópio preto com bronze no pescoço. Além de seu visual de sempre, Guilherme também parecia  um pouco cansado. 

Que maravilha!

O irmão bom voltou e eu só consigo pensar no irmão mau… 

Ele me notou e se aproximou de mim. 

— Oi! — seu tom era calma, porém indiferente. 

— O… Oi! — limpei a garganta. 

Nos olhamos. 

— Não sabia que tinha voltado — digo. 

— Na verdade, voltei agora à tarde — respondeu ele. 

Trocamos olhares e um silêncio constrangedor pairou sobre nós. 

— Bom… Acho que já vou indo — digo rompendo o silêncio. 

Lanço um olhar tímido e arrependido a Guilherme e depois passo por ele para ir embora. 

— Micaela! — Ele diz alto com sua voz grave. 

Freei bruscamente meus pés e virei-me para ele. 

— S… sim? 

— Eu quero resolver as coisas entre nós — Guilherme hesita um pouco — Podemos sair para conversar? — indagou ele. 

Sinto seu olhar de sinceridade e esperança e meu coração até acelera um pouquinho. Sem pensar muito, respondi:

— É, pode ser!

Um sorriso surgiu em seus lábios. 
 
— Amanhã às 20hs no Pub 87? 

— Perfeito! — respondi mais uma vez. 

Um riso tímido nos paira. 

— Bah, então nos vemos amanhã! — seu timbre ficou mais alegre.

— Sim, claro! — confirmei. 

Nos olhamos mais um pouco e rimos envergonhados. 

— Bom, agora eu tenho que ir mesmo — respirei fundo e continuei olhando ele — Boa noite, Guilherme! — me despedi. 

— Boa noite, Micaela! — respondeu ele com seu sorriso de bom moço. 

Cruzamos um último olhar e depois viro-me e vou embora. 

Enquanto me afasto, sinto o olhar de Guilherme em minhas costas. E a cada passo que dou a lembrança do sexo com Gabriel martela em minha mente. 

Assim que cheguei em casa, fui direto tomar um banho — precisava me livrar do cheiro amadeirado e fresco de Ortega.

Como Ele & Ela ( Série: Amores Reais - Livro 1) DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora