CAPÍTULO 15

24 5 0
                                    

- O que te come, também te ferra...

Como sempre o hospital estava abarrotado de pessoas. Desviando dos pacientes nos corredores, Gabriel e eu chegamos ao quarto onde estava minha prima e o marido dela.

Sendo residentes do terceiro ano, ainda não somos médicos especialistas, mas podemos atuar como clínicos gerais e até opinar sobre alguns casos - o que faríamos aqui.

Antes de entrarmos no quarto, me aproximei de Ortega e sussurrei em seu ouvido:

- Espero que esteja com seu jaleco aí!

Gabriel ergue e me mostra sua bolsinha.

- Sempre. Não saio de casa sem ele - seu sorrisinho aparece - Talvez eu derreta por usá-lo aqui, mas será um sacrifício válido.

Sabia que o gaúcho não ia aguentar o calor. Era só uma questão de tempo.

Entramos de vez no ambiente e logo vejo uma moça de baixa estatura, parda, e com cabelos pretos e compridos, vindo até mim.

- Micaela, quanto tempo! - disse Dália com um sorriso discreto e me puxando para um abraço.

Retribuo o gesto da moça.

- Sim, faz muito tempo mesmo - concordei, já me afastando dela - É uma pena que tenhamos nos encontrado nessa situação.

O esboço de um sorriso some e seu olhar fica baixo.

- É... - balbuciou ela - Mesmo assim, fico feliz que tenha vindo e espero que possa nos dar uma opção.

- Sim, também espero... - concordei hesitante.

Ela tinha me falado sobre o caso, mas eu precisava ver de perto como estava a situação.

Gabriel a todo momento ficou ao meu lado e em silêncio. Ele apenas tinha cumprimentado Dália e depois me seguiu para mais perto da maca.

Olhamos para o moço, e era visível seu estado avançado de câncer.

- Olá, você deve ser o Vitor - digo a ele.

- Isso mesmo! - respondeu ele com um sorriso largo.

- Bom a Dália já deve ter falado de mim. Eu sou a Micaela, a prima - tento ser o mais simpática possível - E esse moço loiro aqui do meu lado, é o Doutor Gabriel Ortega. Nós somos residentes de ortopedia e traumatologia em um hospital lá no Sul - expliquei a ele - Por conta de ainda não termos a credencial de especialistas, nós só podemos olhar e dar uma opinião no seu caso. Okay?

- Sem problemas - a voz rouca respondeu com simpatia.

Pedi a eles para me contarem mais profundamente sobre o caso e também para nos mostrarem todos os exames.

O caso do rapaz era parecido com o do paciente que Gabriel e eu operamos - a amputação - há alguns meses. A diferença, era que Vitor estava com um estágio mais avançado da doença.

Gabriel e eu trocamos os olhares e logo sabíamos qual seria o destino do rapaz.

- O que os médicos daqui disseram? - indaguei olhando mais uma vez para os exames.

- Disseram que era uma espécie de câncer que atingia os ossos e estava localizado no braço direito. Eles também disseram que a doença já tinha se espalhado pelo resto do corpo e que ele não teria muito tempo de vida - respondeu Dália segurando firme a mão do marido.

Ortega fitou-me por alguns segundos e depois mirou no jovem casal.

- Sinto muito, mas realmente não há nada que possamos opinar aqui - sua respiração está compassada - O câncer está em toda parte e tanto nós como os outros médicos não poderemos fazer mais nada, a não ser deixá-lo confortável - explicou ele - Eu... - Gabriel hesita - Eu sinto muito mesmo.

Como Ele & Ela ( Série: Amores Reais - Livro 1) DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora