- O Everest no meu caminho
9 Anos Depois…Eu sempre dormia durante o trajeto até o hospital. Tentava ao máximo não fazer isso, mas nunca dava certo. Era quase impossível me manter sã em meio a minha rotina louca. Não é nada fácil ser uma residente de ortopedia e traumatologia.
— Moça? — escutei alguém me chamando.
Com dificuldade para abrir os olhos, apenas resmunguei alguma coisa indecifrável e ignorei o chamado
— Moça? Dona Médica? — mais uma vez a voz me chama.
A contragosto, mas atendendo ao chamado, abri meus olhos. Recobro minha consciência e noto que ainda estou no táxi — o mesmo que uso quase todos os dias.
— Sim? - deixo escapar um bocejo denso.
— Já chegamos! — respondeu o senhorzinho dono do táxi.
— Ah, finalmente! — suspirei, me espreguiçando — Muito obrigada, moço! - respondi, estando agora com minha consciência de volta ao normal e me apressando para sair do automóvel.
Peguei minhas coisas, paguei a corrida e saí do carro. Por alguns instantes, fiquei estagnada em frente ao hospital, admirando-o — um prédio de quatro andares quase todo espelhado por vidros, estacionamento subterrâneo e uma entrada até que aconchegante.
Já tinham se passado dois anos desde que comecei minha residência aqui no Hospital Olegário Portillo — ou HOP para os íntimos — pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul — a mesma que me formei —, em Porto Alegre. Eu amava com todas as minhas forças trabalhar nesse lugar.
Meu momento de contemplação não dura muito. Logo volto a realidade e lembro que tenho muito trabalho a fazer. Entrei dentro do hospital e em segundos eu já estava na sala dos médicos, me preparando para o longo dia que teria.
Para agilizar o processo, assim que cheguei guardei minha bolsa de qualquer jeito no armário, deixei o jaleco e o meu estetoscópio vermelho à mostra, impacientemente penteei, com os dedos, meu cabelo — curto num Chanel de bico, liso e numa coloração de castanho médio que ficaram bagunçados depois que saí do táxi — e a fim de sair logo dali — para não ter que ver certas pessoas — me sentei num banco de frente aos armários — velhos e azuis — para amarrar meus tênis. Enquanto fazia isso, o mais rápido possível, escutei as trombetas do inferno soando aos meus ouvidos. Senti um calafrio e uma irritação me invadir.
Tarde demais, não fui rápido o suficiente para me livrar disso!
— Bom dia, Filipa! — a voz se juntou ao rosto e para minha infelicidade, eu já sabia quem era.
Gabriel conseguiu o êxito de ficar mais chato e presunçoso a cada ano.
Ele fazia questão de me irritar.
Era algo proposital e provocativo.
Filipa… Filipa… Maldito nome! Maldita tradição de família!
Nunca uma pessoa foi tão amaldiçoada por ter um segundo nome. Antes de conhecer Gabriel, eu nem me importava com isso, mas depois que ele começou a me chamar incessantemente assim, passei a odiá-lo.
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Como Ele & Ela ( Série: Amores Reais - Livro 1) DEGUSTAÇÃO
Roman d'amourSabe quando duas pessoas se esbarram, seus olhares se cruzam, suas mãos se tocam e surge ali uma faísca? Bom... Pegue esse conceito, amasse e jogue no lixo, pois aqui não existiu nada de amor à primeira vista. Desde o primeiro instante, durante uma...