CAPÍTULO 2

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- O Irritante ataca novamente


Estamos em fevereiro, a época do carnaval e dos acidentes que poderiam ser evitados. Normalmente as pessoas não fazem muita questão de se cuidarem nestas datas festivas. 

E pior que o carnaval, nesse quesito, somente o natal e o ano novo. 

Por sorte, hoje eu estava na emergência —  meu local de atuação preferido — e por aqui as coisas estão tensas. 

Eu já tinha feito pelo menos umas cinco prescrições, atendido duas luxações e colocado um ombro e um joelho "no lugar".  

Enquanto eu atualizava a ficha de um paciente — meu momento de descanso —, uma figura de baixa estatura, gordinha, branca com sardas, cabelos ruivos e encaracolados presos numa trança aproximou-se de mim. Era Bianca. 

— Guria! - Ela me cumprimentou com seu sorriso e entusiasmo rotineiro. 

— Oi! — respondi, parando de escrever na prancheta.

Mirei o rosto dela e notei que o sorriso dela aos poucos sumiu. 

— Aconteceu alguma coisa, Bianca?

— Não! Só estou cansada mesmo. 

— Até de sorrir? — arqueei a sobrancelha. 

— Um pouco! — Respondeu ela. 

— Bianca Alonzo não quer sorrir e nem jogar sua felicidade em minha cara? — ironizei com um pequeno sorriso.

— Não enche, guria! — retrucou ela, fazendo uma careta — Bah, a emergência está uma loucura hoje, hein! — acrescentou a baixinha se encostando no balcão de atendimento. 

— Demais! — voltei a escrever — Essa galera não toma cuidado quando saem para esses bloquinhos. 

— Pois é! Acho que um pouco de juízo não faz mal — concordou ela — Mas sério, quem diria que os bloquinhos de carnaval seriam tão perigosos assim, não é? Depois sobra tudo para a gente — desabafou. 

No mesmo instante que Bianca fala sobre a falta de juízo das pessoas, um paciente de mais cedo passou por nós, e sem conseguir controlar, a ruivinha soltou uma risada. 

— Sabia que é errado rir disso, não é? - indaguei ironicamente. 

— É… É eu sei! - Bianca tenta conter o riso - Mas vai me dizer que tu também não ficou com vontade de rir quando viu esse moço chegando com a fantasia de Sininho colada no corpo? — disse ela relembrando um dos casos mais atrativos de hoje. 

— Na verdade, sim! — Fitei os olhos âmbar de Bianca — Mas diferente de você, eu não fiz isso, apenas contive minha gargalhada malvada — meu lábios se tornaram a linha de um riso — Só lembrando… Deus viu você rindo das pessoas acidentadas — provoquei.

— Que horror, Micaela! — Bianca fez uma careta de desaprovação — Tu sabes que eu levo a sério esse tipo de coisa. 

— Sim, por isso eu disse! — deixo escapar um risinho. 

Ela faz outra careta e, dessa vez, mostra a língua. 

— Desculpe, Bibi! — falei. 

Num contexto geral e concreto, Bianca era a outra mulher que estava cursando a residência em ortopedia e traumatologia. Nos tirando da conta, os outros sete bolsistas da residência eram todos homens — que mais pareciam brutamontes, do que seres humanos normais. 

Como Ele & Ela ( Série: Amores Reais - Livro 1) DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora