Cap: 5 Ele não podia estar ali

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  Não podia ser. Ele não podia estar ali. Não o ouvirá dizendo aquilo... Não era?

  Empalidecendo, Gulf virou-se para descobrir Mew Suppasit atrás de si, um casaco leve e preto dobrado por sobre o braço, os cabelos castanhos escuros quase arrumados.

  _ Senhor Suppasit _ sussurrou ele, a boca seca. _ Está de saída?

  Ele o encarou, a expressão curiosamente dura.

  _ Estive tentando encontrar você.

  Gulf sentiu o rubor espalhar-se por suas faces.

  _ Vim tomar um refrigerante.

  _ Entendo.

  Houve um momento de silêncio tenso entre ambos, algo que nunca acontecerá antes. Ele sempre falara, e Gulf sempre ouvirá. O homem nunca ficará silencioso em sua companhia antes.

  _ Gostaria de alguma coisa?

  _ Você recebeu um telefonema de uma certa senhora Lalisa. Disse que era urgente. Deixei o número na sua mesa.

  Gulf não se lembrava de nenhuma senhora Lalisa e perguntou-se o que poderia haver de tão urgente.

  _ Obrigado.

  Mew baixou os olhos, os lábios apertados.

  _ Da próxima vez, talvez você queira se lembrar de levar isto _ acrescentou, estendendo a mão para revelar um pequeno pager.

  Gulf adiantou-se para pegar seu aparelho, mas ficou tenso quando seus dedos roçaram a palma da mão de Mew e uma corrente eletrizante percorreu-o.

  Ele estava zangado.

  Em seus cinco meses e meio trabalhando para o homem, nunca o vira demonstrando nenhuma emoção e, ainda sim, agora estava com raiva.

  Rapidamente, para encobrir sua confusão, Gulf prendeu seu pagen ao cinto da calça, enquanto Tar se insinuava para Mew.

  _ Senhor Suppasit _ murmurou ele, a voz um tanto ofegante, enquanto estendia a mão.

  Mew hesitou, virou-se ligeiramente e abriu um sorriso educado.

  _ Já nos conhecemos?

  _ Nos vimos uma vez _ respondeu Tar, abrindo um amplo sorriso quando ele lhe segurou a mão. _ Quero dizer, você tratou de negócios com um dos sócios da firma onde trabalho, e eu cuidei da papelada...

  _ Você trabalha com o Long...?

  _ Sim. Ele o admira muito. Nós todos ou admiramos, aliás.

   Uma BMW preta parou junto ao meio fio, o chofer uniformizado mantendo o motor ligado. Mew suppasit soltou a mão de Tar, lançou um olhar ao veículo e tornou a fitá-lo.

  _ Tenho que me apressar. Foi um prazer conhecê-lo, senhor...

_ Sanders. Tar Sanders. E eu trabalho com Long.

  _ No sexagésimo terceiro andar, certo.
_ Mew tornou a sorrir, e Gulf pode ver porque os homens se derretiam a seus pés. Havia algo em seus olhos escuros, no magnetismo que possuía que fazia com que uma pessoa se sentisse... ainda que brevemente... Especial. Como se fosse a única na face na terra.

Gulf engoliu em seco, o coração apertado.

  Ele nunca o olhará daquela maneira, nem uma única vez sequer.

  Ele nunca nem sequer se dará ao trabalho de memorizar seu nome direito.

   Um nó se formou em sua garganta, ele desejou de todo o coração nunca ter trabalhado para o homem.

  Mew se adiantou até a BMW à sua espera, a conversa esquecida, nenhuma despedida necessária. Seguir adiante parecia ser seu lema Tácito, não havia tempo a perder, nem paciência para amenidades. Apenas ir à adiante até o compromisso seguinte em sua agenda.

   Mas, de repente, Mew Suppasit parou e virou-se, parecendo extremamente elegante e a vontade em seu terno preto, Apesar do opressivo calor do verão.

  Gulf se perguntou como o homem fazia aquilo, como lhe dava com o calor e a pressão sem transpirar, ofegar ou fazer uma única queixa.

   Como previa o mercado financeiro antes que o próprio mercado soubesse o que faria? Como realizava a dezenas de transações de milhões e bilhões de dólares sem se preocupar, entrar em pânico ou vacilar?

  Ele não sabia. Não tinha como saber. Não tinha nada em comum com o homem.

   O senhor Suppasit o encarava agora, a fronte alta ligeiramente franzida.

  _ Está procurando outro emprego, Senhor Kanawut?

   Era a última pergunta que Gulf teria esperado e certamente o desconcertou ao extremo. Céus! Seu chefe sabia a respeito de sua entrevista de emprego também? Ou seria apenas uma brincadeira, um complemento a seu comentário sobre ele poder se tornar um comediante momentos antes?

  Golf piscou algumas vezes, engoliu em seco e tornou a piscar, as lentes dos óculos ficando ligeiramente embaçados os pensamentos rodopiando em nenhuma direção lógica. O que deveria dizer ponto de interrogação Como responder a uma pergunta daquelas?

  _ Não _ disse, enfim, as faces corando. _ É claro que não.

  Mew arqueou as sobrancelhas, encarando-o diretamente e torceu os lábios de maneira quase imperceptível.

  O rubor de Gulf acentuou-se. Sentiu-se como uma criança apanhada numa travessura.

  _ É claro que não _ repetiu Mew num tom manso de zombaria em sua voz. _  Vejo você depois.

  _ Certo.

  Mew Suppasit tornou a virar-se e entrou na BMW.

   Tar desapareceu silenciosamente no saguão do Edifício Torre, deixando Gulf sozinho na calçada.

  Por um longo momento, ele não se moveu o coração disparado. O que acabara de acontecer ali? O que o senhor Suppasit quisera dizer?

   Finalmente, tratou de afastar o temor, atirou o resto do refrigerante quente num cesto de lixo e tornou a subir até o escritório.

  Trabalhou até o horário do jantar e, enfim, quando já fizeram tudo o que poderia naquele dia, desligou o computador e pegou o metrô para casa.

  Estava de volta ao escritório às 6:30 na manhã seguinte.omo de costume, era o primeiro dos assistentes administrativos a chegar e havia se incubido de ligar as luzes do escritório a cada amanhã, regular o ar-condicionado e preparar o café.

Sem compromisso ! Será??Onde histórias criam vida. Descubra agora