Cap: 8 A fria realidade

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   Enquanto ia de metrô para o trabalho na manhã seguinte, Gulf ouviu as palavras do Senhor Suppasit ecoando em sua mente. O melhor secretário que ele já tivera. Era o maior elogio que poderia receber. Era o maior que já receberá e, por mais lastimável que aquilo soasse, as palavras dele significavam-lhe tudo.

   Gulf  disse a si mesmo que era o forte calor do verão que o estava deixando afogueado e um tanto irracional, mas, na verdade, o que lhe acontecia tinha menos a ver com a elevação nos termômetros do que com seus próprios sentimentos.

  Dali a dois dias estaria à bordo de um avião para entrevista definitiva em Charleston e a temia agora, temia seu último dia na investimento suppasit, tudo que se relacionava com sua saída.

  Não deveria pensar naquilo, disse a si mesmo, enquanto o metrô parava na sua estação e ele se levantava. Ainda lhe restariam duas semanas antes de ter de dizer adeus. Não havia razão para sofrer por antecedência.

  O conselho fora sensato, mas, no momento em que o senhor Suppasit entrou no escritório, o coração de Gulf disparou da mesma maneira de sempre.

  O que havia naquele homem que ele amava tanto? Observou lhe os olhos, os lábios, o queixo e, embora os traços fossem perfeito, seu interesse tinha mais a ver com a intensidade que havia por trás.

  Havia algo no homem, pensou, algo mais profundo, mas complexo do que ele queria revelar. Mas o que era?

  _ Bom dia.

_ Bom dia, senhor suppasit. _ Gulf conseguiu abrir um sorriso firme, profissional. _ O presidente do banco acabou de ligar. Deseja que eu retorne a ligação?

  _ Ainda não. Tenho de cuidar de algumas coisas primeiro. Eu avisarei quando estiver com tempo.

_ Certamente, senhor suppasit. Há mais alguma coisa que eu possa lhe fazer no momento?

_ Não. Apenas anote meus recados.

  _ Sim, senhor Suppasit. Farei isso.

  Quando ele entrou em seu escritório e fechou a porta, Gulf afundou na cadeira e cobriu o rosto com as mãos. Poderia soar mais patético? Sim, senhor Suppasit. Não, senhor Suppasit. O céu não está de um azul perfeito, senhor Suppasit?

  Soava como um imbecil repetitivo. Sem dúvida, precisava arranjar vida própria. Precisava ser bom em algo mais além de suas funções como secretário. Precisava ter outros interesses além de Mew Suppasit. Precisava parar de esperar que algo bom acontecesse.

  E, de repente, lágrimas inundaram-lhe os olhos, lágrimas absurdas que não tinham nada a ver com trabalho, mas sim com o fato de querer tanto aquele homem e não saber o que fazer a respeito.

  Uma vez que as lágrimas começaram, parecia não conseguir contê-las. Num instante, estava chorando porque era o filho do meio, o mais desajeitado, o único de seus irmãos que não era espetacular. Alex e Morgan eram lindos, talentosos e incrivelmente populares. Ao contrário de Gulf, que nem sequer tivera par para acompanhá-lo ao baile de formatura, Alex e Morgan nunca haviam perdido se quer uma festa na escola.

  Ele jamais fora bonito ou especial e, por mais horríveis e embaraçoso que as lágrimas fossem, eram reais. Era difícil ser medíocre e apagado quando o mundo valorizava tanto o estilo ea beleza.

  As lágrimas continuaram a rolar copiosamente e Gulf, que acreditava firmemente que o escritório não era lugar de chorar, viu-se obrigado a apanhar um lenço de papel e tirar os óculos para enxugar os olhos.

  _ Você está bem?

  Era o senhor Suppasit, sua voz suave junto à mesa. Gulf não ouvirá a porta de seu escritório se abrindo, seus passos se aproximando. Esforçando-se para esconder as lágrimas, atirou depressa o lenço úmido no cesto de papéis.

  _ Sim, Senhor Suppasit. Estou ótimo.

   Mew percorreu-o com olhar, demonstrando Evidente ceticismo, o cenho franzido.

  _ Pois não me parece nada bem. Quer ir para casa? Sair para almoçar mais cedo?

_ Céus, não! Não são nem sequer nove e meia, e não é nada... acontece apenas que... que...

  _ O quê?

  _ Eu cometi um erro.

  _ Tenho certeza de que pode ser reparado.

_ Não, é tarde demais.

  _ Mas que erro foi esse?

  _ Em relação ao meu emprego. Este emprego e aquele que me candidatei em Charleston. Não sei mais o que devo fazer. Não sei mais o que é o certo... _  Gulf se interrompeu lágrimas aflorando em seus olhos novamente e colocando os óculos depressa. Sabia que o que dizia não estava fazendo sentido, o quê só o atingiu ainda mais.

  _ Lamento _ disse, respirando fundo, tentando se recompor. _ Estou bem agora. Eu só estava com alguma coisa no olho...

  _ Acho que isso se chamam lágrimas.

  Gulf abriu um débil sorriso diante do gracejo. Foi um tanto tolo, mas apreciou.

  _ Sim, tem razão. E estou bem agora. Por favor volte para seu trabalho e esqueça isso.

  _ É mais fácil dizer do que fazer.

  _ Está longe de ser algo impossível. _ Gulf virou-se para o monitor de seu computador, as mãos pairando acima do teclado, enquanto esperava que Mew desaparecesse.

   Mas ele continuou ali, junto à mesa, emanado a deliciosa fragrância da colônia amadeirada. Gulf levantou os olhos devagar, observando-o no alegant terno cinza claro, admirando o queixo forte, os lábios masculinos, sensuais. Às vezes, achava que seria capaz de qualquer coisa para ser beijado por aqueles lábios...

  E ali estava outra vez, fantasiando, como fizera durante boa parte da noite anterior, em sua cama.

  Imaginara-se andando na BMW preta de Mew, ambos se beijando sofregamente. Mew o tocava e ele soltava gemidos baixinhos, correspondendo ao beijo com ardor, ansiando cada vez mais por seu toque. Em seus sonho, não fora o velho e prático Gulf, mas alguém excitante, um homem moderno, divertido e bonito. Mas, evidentemente a manhã chegará, fazendo-o despertar para fria realidade.

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