Cap: 3 Não importa

1.3K 190 26
                                    


Ele sacudiu a cabeça enquanto tirava o telefone do gancho e começava a fazer outra ligação sem lançar um único olhar na direção de Gulf.

_ Não importa. Sexta-feira não é um bom dia.

_ Mas eu lhe pedi a duas semanas atrás. _ Gulf sentiu sua voz esmorecendo e fortaleceu-a de imediato. _ Você não disse não na ocasião.

_ Eu não disse absolutamente absolutamente nada.

_ Exato?

_ Você não pode tomar uma falta de resposta como um sim.

_ Mas, senhor Suppasit...

Mew ergueu a cabeça abruptamente.

_ É por causa de alguma emergência de família?

_ Não.

_ Morte na família?

_ Não.

_ Morte de um amigo, ou de um ex-colega?

_ Nenhuma morte. É uma ausência por motivos pessoais.

Mew o fitava e, de fato, tinha olhos bonitos, não exatamente castanho mas de cor escura e, enquanto o fitava daquele jeito, Gulf pode jurar que o homem enxergava através dele Literalmente. Através dele para a parede logo atrás, com o grande relógio e o quadro caro.

Perdera-o novamente. O homem nem sequer estava pensando mais sobre seu pedido. Estava pensando em cifras, índices de mercado, cotações da bolsa... Enfim, em tudo exceto no que ele precisava.

_ Ausência por motivos pessoais _ repetiu Mew num tom manso, o cenho franzido.

_ Sim.

Ele ainda o encarava, estreitando os olhos de leve.

_ Na sexta-feira.

_ Sim.

_ Durante minha reunião com clientes?

Gulf atraira-lhe a atenção por completo agora e sentiu-se bastante desconfortável sobre o peso daquele olhar.

_ Encontrei um substituto _ disse, a voz falhando, a compostura ameaçando desmoronar. _ É altamente qualificado, sabe e estenografia Informática...

_ Não. Lamento _ interrompeu ele impiedosamente. Era evidente que considerava a conversa encerrada. _ E quanto as cópias que pedi e os documentos a serem enviados por fax, Gulf, vai providenciar isso imediatamente?

Mew Suppasit observou a espinha rígida de Gulf Kanawut, enquanto ele marchava de seu escritório, o som dos práticos sapatos abafados pelo carpete os grandes óculos escorregando pelo nariz.

_ Feche a porta, por favor _ acrescentou educadamente, tornando a pegar o telefone.

Gulf virou-se para a maçaneta da porta e a frente do seu terno abriu-se um pouco. O terno pesado não era apropriado para o forte calor de Junho, e a blusa creme não lhe realçava o tom claro da pele, mas, afinal, nada do que ele usasse tinha estilo, o que estava perfeitamente bem para ele. Trabalho e prazer nunca se misturavam.

De qualquer modo, Mew não pode deixar de notar um leve tremor na mão de Gulf e teria de ser cego para não perceber que seu secretário estava aborrecido.

Bem, eram dois.

Mew Sabia exatamente porque Gulf queria folga na sexta-feira e aquilo o enfurecia.

O Senhor Kanawut, o seu reservado e despretensioso senhor Kanawut, tinha uma entrevista marcada para sexta-feira na Carolina do Sul. Seu secretário estava à procura de outro emprego enquanto era necessário ali final enquanto ele precisava dele ali.

  A imprensa estava esmiuçando o seu passado como se fosse um sítio arqueológico, à procura de aspectos interessantes. Estavam dando telefonemas, investigando pistas, tentando descobrir se o Mew Suppasit era realmente o herói de contos de fadas que parecia ser.

  Mew abriu um sorriso irônico. Vida de conto de fadas? Dificilmente. Mas os detalhes do seu passado lhe pertenciam e, mesmo agora, 20 anos depois de ter sido adotado ainda conhecia o estigma de ter origem humilde, em vez de ter nascido em berço de ouro.

  Os Suppasits eram verdadeiros Santos, pensou Mew, engolindo em seco. Haviam sabido desde o início quem ele era quais suas origens e o haviam levado para casa assim mesmo. Haviam no tornado um deles. Haviam lhe dado seu nome, seu amor, sua segurança, e aquilo foi maravilhoso. Mas, agora, o fato de ele estar tão em evidência era insuportável. Não era que tivesse vergonha do seu passado, mas não queria que Art Mike  levasse nenhum crédito, nem que obtivesse atenção, nem que saboreasse o sucesso do filho.

  A única maneira de lutar contra a  pressão de sua vida pessoal e profissional era manter rédea curta sobre suas emoções, manter sua concentração, seguir sua programação diária.

  E ninguém, absolutamente ninguém, era melhor do que Gulf kanawut para mantê-lo nos eixos.

  Ele conhecia seu trabalho. Era, sem dúvida, o melhor secretário que já tivera em anos e, depois de ter tentado uma meia dúzia de assistentes em menos de um ano, gostaria de ficar com ele.

  Olhou para a porta fechada por um momento, lembrando-se da expressão desapontada no rosto do Senhor Kanawut e, por um instante, pensou em chamá-lo de volta a seu escritório.

  Mas o que diria, então? Sei que está em busca de outro emprego e não quero que saia? Fora de cogitação.

  Ele era o chefe, tomava as decisões. Ele era o secretário executivo e as implementava.

   Impacientemente, tirou o fone do gancho, fez outra ligação, sentido a intensa pressão em que estivera durante meses. Ao longo do ano anterior, seus negócios tinham crescido vertiginosamente. O trabalho era extenuante. O grande volume de transações e as altas cifras envolvidas eram de roubaram fôlego.

  Gulf Kanawut não podia deixar a corretora. Precisava dele. Dependia de seu trabalho. Dar-lhe a sexta-feira de folga? Nem pensar.

  De volta a sua mesa, o rosto ainda afogueado, a raiva e a desolação consumindo-o por dentro, Gulf providenciou as cópias necessárias e enviou por fax os documentos que o senhor Suppasit pedirá. Depois, verificou os e-mails que haviam se acumulado durante a tarde.

  Trabalhou automaticamente, respondendo os mais urgentes, imprimindo e encaminhando o que era necessário, ainda enquanto sua mente funcionava freneticamente.

  Não podia, não iria, perder a entrevista de emprego.

  Poderia voltar ao escritório do chefe e argumentar quanto a sua necessidade pessoal de um dia de folga, ou simplesmente não aparecer no escritório na sexta-feira de manhã. A final, o senhor suppasit tinha outras secretárias na corretora capazes de substituí-lo.  A investimentos Suppasit contava com uma equipe de dezesseis funcionários, o que inclui a as duas assistentes dos analistas de mercado e as duas assistentes dos corretores.

  A presença dele não era  imprescindível na sexta-feira. Qualquer uma das demais assistentes poderia tomar notas, servir café e forçar sorrisos. Se bem que as outras secretárias provavelmente ficariam radiantes em trabalhar com o senhor Suppasit, pensou cerrando os dentes com ar desgostoso. Todos adoravam o senhor Suppasit.

Sem compromisso ! Será??Onde histórias criam vida. Descubra agora