Prólogo

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Essa história aconteceu há muitos e muitos anos, em uma época de reis e rainhas, príncipes e princesas, uma época que inspirou lendas, canções de amor e contos de fadas sobre romances eternos.

Mas esse não é um conto de fadas, tampouco é uma canção de amor, nem mesmo uma história de romances eternos; essa é uma história de guerras, de intrigas, traições, mentiras e omissões.

Essa é a história de um príncipe e um príncipe.

Tudo começou em uma noite chuvosa, com o grito de uma mulher cortando o peso das gotas que pingavam com força nos telhados, com o som de cavalos relinchando e brados de guerra, com uma moça correndo escondida protegendo todos seus bens em seus braços.

Mas essa história, essa especificamente, não é sobre a mulher, ou a moça, ou os cavalos, é sobre um menino.

Era justo que naquela noite estrelas tomassem o céu, que a lua brilhasse e guiasse os passos da criança que andava sozinha e desajeitada, coberta por uma capa ao escapar durante a troca de turnos de soldados e enfurnar-se em um caminho estreito no bosque, procurando pela campina onde, o pequeno sabia, sua mãe estava enterrada.

Seus olhos — um preto como a escuridão, exceto por um único ponto azul próximo à pupila, o outro quase a divisão perfeita de metade azul e metade preto — observaram ao redor, aproximando -se do túmulo de sua mãe e deixando um punhado de flores, um pequeno buquê de narcisos.

Prostrado em seus joelhos, com o rosto escondido entre as mãos e os cabelos pretos cobrindo seus olhos, lembrou -se, com uma amargura muito forte para tomar o coração de alguém tão jovem, que chovia na noite que tiraram sua vida, e lhe parecia uma ofensa agora, anos depois, que a luz da lua beijasse seu túmulo após ter se escondido e negado a ela a oportunidade de observar seu brilho uma última vez.

Absorto, não percebeu o movimento ao seu redor até que passos estivessem próximos, alcançou por sua espada no cinto, mas estava vazio já que a arma era muito grande para ser carregada — Maxon o mataria se soubesse que saiu desarmado —, mas os passos pararam a uma boa distância, seu rosto se ergueu orgulhosamente para enfrentar a ameaça, apenas para encontrar um garoto menor e esguio com olhos da cor do mel e cabelos castanhos, parado observando a lua.

— Se é o que pensa, não quero atrapalhar seu luto. — disse o menino, sua voz era ainda mais suave e infantil, provavelmente era mais novo — Você vai rezar?

— Não acredito no Grande.

— Eu também não, perguntei se rezaria para a Lua. — disse o recém-chegado, sua pele negra era um contraste gritante contra o branco que caracterizava o outro menino.

— Não acredito nisso também.

— Tudo bem. De qualquer forma, posso esperar que saia antes de treinar.

O menino de olhos estranhos colocou-se de pé, o azul de seus olhos parecendo ainda mais brilhante sob a lua.

— O que vai treinar?

— Luta. — o garoto deu de ombros — Mamãe não deixa que eu ande com as espadas de treino.

— Vai lutar sozinho?

— Luto com as árvores.

— É um péssimo treino.

— E o que você sabe? — o mais jovem questionou colocando as mãos na cintura e adotando uma expressão de desagrado.

— Qual é seu nome?

— Pode me chamar de Lucian.

— Me chame de Eric. — o garoto estendeu a mão esquerda para um cumprimento, mas o outro abraçou a si mesmo protegendo a pele escura do vento gelado, os olhos de mel voltando a encarar a lua e prontamente ignorando a criança de cabelos negros — Você é de Vallis?

— Não, minha mãe veio visitar uma amiga.

— Ficará por muito tempo?

Lucian ergueu uma sobrancelha.

— Você faz tantas perguntas. Apenas alguns dias até onde sei. — respondeu por fim e Eric assentiu.

— Bem, então até lá lutarei com você.

Lucian sorriu.

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Amisterium: O Herdeiro LegítimoOnde histórias criam vida. Descubra agora