Capítulo XIV: Honestidade

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Arnold chegou no amanhecer do dia seguinte, o sol mal tinha se levantado quando a comoção começou fora do castelo pela chegada do rei.

Lucian, que estava de volta na cama e extremamente irritado, não se me moveu mesmo quando Cordélia colocou a cabeça dentro do quarto informando a chegada de seu pai, a verdade era que o soldado não se importava com a presença do homem e não tinha o mínimo interesse em ver a mãe comemorando em pura alegria a chegada de seu amor enquanto colocava seu único filho em confinamento.

Na noite anterior, Augustus apareceu em seu quarto após um pequeno diálogo com Maia, ele não disse para o mais jovem o que haviam conversado, apenas o assegurou que precisavam discutir a presença de Luca no castelo e as restrições de Maia em conjunto, com a presença do rei e das princesas.

Obviamente, Luca não ficou nada feliz com a ideia, em primeiro lugar porque Augustus tinha prometido recontar o encontro todo para ele, coisa que claramente não fez, e não estava nada animado com a ideia de ter Família Real inteira envolvida em seus assuntos pessoais com sua mãe, mesmo que soubesse que, por conta do casamento, os assuntos de sua família se tornaram, muito em breve, assuntos deles também.

Mesmo assim, não parecia justo que Maia, a mulher que escondia dele mil e um segredos, tivesse mais lealdade ao seu futuro casamento que ao próprio filho a quem jurava proteger acima de qualquer coisa.

Seu humor apenas piorou quando Hanna apareceu para chamá-lo para o café da manhã e informou que a Família Real da Ilha Emi acompanhou o rei em seu retorno e ficariam até o casamento que, de acordo com determinação de Arnold, seria em três dias – Luca não tinha nada contra os Emi, lembrava-se vagamente da presença deles no Dia do Sol, mas a ideia de ter que compartilhar um dia ruim com mais pessoas era inaceitável.

Em momentos como estes, Luca sentia falta de estar em Stonfort, onde poderia fugir e se esconder no meio das árvores, treinar sozinho por horas até se sentir pronto para conviver com outras pessoas novamente.

O castelo não era tão ruim quanto o rapaz tinha imaginado inicialmente, por mais que sua relação com Eric tivesse problemas, nunca esteve tão perto dele quanto nos últimos dias e sabia que sentiria saudades quando partisse, mas também não tinha muita paz.

Entre os serviçais, as princesas, o rei, Maia, os guardas e curandeiros que batiam em sua porta a cada duas horas para checar seus ferimentos, Luca não teve um longo período de calma, não teve tempo de se isolar e recuperar as energias que precisava gastar todos os dias interagindo com dezenas de pessoas – curiosamente, era com Eric que se sentir melhor, mais relaxado,como se criasse um personagem para o restante do mundo e apenas com ele podia ser completamente honesto.

No fim, apesar de tentar debater, dizer que estava ferido, cansado e queria ficar na cama o dia todo, o rei fazia questão da presença de todos na mesa com a família Emi, e Luca se viu sendo paparicado por serviçais que não aceitaram um não como resposta, escolhendo roupas que o jovem soldado nem sabia que existiam e que tinham feitas sob medida para ele, exibindo o brasão da família Amisterium – usar o brasão o encheu de uma estranha mistura de sensações, embora quisesse arrancar brasão a força por odiar os ideais dos Amisterium, algo o lembrava o tempo todo que aquele também era o símbolo de Augustus, do reino que ele iria herdar, e isso fazia Lucian sentir uma espécie estranha de orgulho.

Em um dia normal, a mesa de café da manhã no Castelo de Prata tinha comida o suficiente para alimentar um exército, diante das condições especiais de ter uma família aliada presente, a mesa estava tão cheia que Lucian se perguntou se tinha entrado em coma e na verdade já era o dia do casamento – e aquilo não era, de forma alguma, uma reclamação, estava mais que pronto para pegar quantos pratos precisasse para provar cada iguaria apresentada naquela bela manhã – e essa única constatação fez seu humor melhorar consideravelmente, pelo menos até o rei aparecer diante dele e puxá-lo para um abraço como se fosse algo que faziam todos os dias.

Amisterium: O Herdeiro LegítimoOnde histórias criam vida. Descubra agora