Luca não sabia o que esperava quando Augustus o puxou pelo braço, na verdade era difícil imaginar o que se passava pela cabeça do príncipe em qualquer momento ou ambiente – às vezes Luca conseguia ler o rosto de Augustus como um livro, mas ele sabia que apenas era capaz porque o mais velho o permitia, o que era uma honra, e ao mesmo tempo o fazia questionar se um dia seu amigo de infância, seu Eric, deixaria de ser um mistério.
Às vezes, apesar de tudo, Luca ainda pensava que estava sonhando, que tinha criado na solidão da infância um garoto perfeito com olhos de cores diferentes que gostava de treinar em uma floresta escura com um ninguém.
O príncipe ainda o segurava pela mão, apressando-se pelos corredores como se a qualquer momento alguém fosse tentar impedi-lo; Luca tinha perdido as contas de quantas curvas tinham feito e por quantas portas passaram até que finalmente Augustus parou, tirando uma chave prateada de um dos bolsos de seu colete e encaixando-a na fechadura que se abriu com um estalido, as dobradiças de metal rangeram quando o príncipe a empurrou e entrou, estendendo a mão para Luca como um convite para que o seguisse.
Augustus fechou a porta atrás deles, a sala toda estava escura com a exceção do que um dia fora uma vela mas naquele momento era apenas um amontoado de cera deformada pelo calor, com uma chama fraca, quase se apagando, forte o suficiente apenas para iluminar a lamparina e um pedaço da superfície de madeira na qual estava apoiada.
O príncipe riu baixo.
— Eu não trouxe nada para acender o fogo, então que bom que esqueci de apagar essa antes de sair daqui hoje.
— Me trouxe para um lugar sem testemunhas para poder me matar? — Luca perguntou, não se moveu, não sabia o que estava escondido naquela sala, e sabia que não poderia pagar ou consertar dano algum naquele lugar.
Augustus saíra de seu campo de vista, o jovem soldado podia ouvir seus passos leves no ecoando pela sala e suas mãos tateando por algo no escuro, sons que indicaram a Luca que a sala não estava cheia, embora tivesse pelo menos uma superfície de madeira – onde a vela estava – e um armário, pois ouvia claramente que o príncipe procurava algo em gavetas.
Quando finalmente encontrou o que procurava, Augustus se aproximou da chama que quase se apagava, usando-a para acender uma nova vela, e caminhou até os quatro cantos da sala, acendendo os archotes pendurados colocados em candelabros nas paredes.
Finalmente a sala estava cheia de luz, era um local consideravelmente antiquado em comparação com os corredores e o salão luxuoso do castelo, havia prateleiras em quase todas as paredes, entre os archotes, um grande armário estava no fundo da sala, e no centro, sobre um tapete azul de tecido aparentemente macio, estava um piano.
As prateleiras estavam cheias de diferentes instrumentos musicais: flautas, tambores, pedaços de harpas quebradas, havia também instrumentos e peças de madeira que Luca não conhecia, alguns instrumentos de sopro cujos nomes lhe eram um mistério, mas que conhecia dos festivais em Stonfort, havia rolos de papel, uma harpa estava em um canto, um bandolim apoiado na parede.
O jovem jamais vira tantos instrumentos musicais em um único lugar, na verdade nem mesmo sabia que existiam tantos, e estava completamente encantado.
Augustus sentou-se na banqueta almofadada de frente para o piano e deu dois tapinhas no espaço ao seu lado para que Luca se unisse a ele, o que restava da vela derretida apagou-se quando Luca juntou-se a ele, soltando um suspiro involuntário de admiração que fez o príncipe sorrir.
— Eu tinha nove anos quando entrei aqui pela primeira vez, nunca vira essa sala antes, mas eu e minhas irmãs gostávamos de explorar, é um lugar enorme e se torna uma diversão para crianças — Gus tocou em duas teclas com as pontas dos dedos, formando uma nota simples e triste — Déli e Lari ficaram muito decepcionadas quando encontramos a chave, certo que os instrumentos são bonitos, mas Déli vê mais beleza em outras coisas e Lari sempre quis aventuras. Eu, por outro lado, me senti confortável, como se visitasse essa sala todo dia.
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Amisterium: O Herdeiro Legítimo
Romance"Essa história aconteceu há muitos e muitos anos, em uma época de reis e rainhas, príncipes e princesas, uma época que inspirou lendas, canções de amor e contos de fadas sobre romances eternos. Mas esse não é um conto de fadas, tampouco é uma canção...