Capítulo I: A Fortaleza de Pedra

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O nascimento da princesa Amisterium caçula foi no primeiro vislumbre de sol após catorze dias em uma tempestade tão forte que as nuvens formaram um escudo no céu; por isso, todos os anos na data de nascimento de Larissa Solária Amisterium, era comemorado o Dia do Sol.

O Dia do Sol acontecia durante a primavera, no décimo segundo dia do décimo mês, era um festival de flores e frutas que se estendia por todo reino até o anoitecer, até o baile no Castelo de Prata se encerrar com um glorioso desfile do exército de Amisterium por sua capital – Vallis.

Quando Luca Winter nasceu, um raio rasgou o céu no silêncio da noite, dando início a uma inesperada tempestade que escondeu o sol por catorze dias; mas, como ele não era Amisterium, aquilo não significava nada além de que há exatos dez dias ele completara dezoito anos e agora sua mãe precisava encontrar outra desculpa para impedi-lo de fazer parte da escolta particular de Renly M'Arhaem quando a família e seus servos marchassem para a guerra que todos sussurravam estar próxima desde que Luca aprendera a falar.

Luca não poderia dizer se acreditava ou não nessa frequente ameaça de violência iminente – para ele, uma história contada tantas vezes sem nunca se concretizar, em algum momento deixa de ser um medo e passa a ser uma antecipação, uma energia vibrando no peito e esperando ansiosamente para ser liberada –, de qualquer forma, uma rotina regular de exercícios permitia que ele mantivesse a mente sã e seus sentimentos sob controle, por isso o céu ainda estava lilás pelo sol nascendo e o vento frio da madrugada ainda o envolvia até os ossos quando fechou os olhos e respirou fundo erguendo o arco recurvo, antes de soltar a respiração e a mão que ajeitava a flecha na corda, acertando o meio do primeiro alvo.

Sentindo-se aquecido, repetiu a ação rapidamente no segundo alvo, e no terceiro, e no quarto, até que todos os alvos espalhados pelo pátio de treinamento estivessem espetados com duas ou três flechas.

Não satisfeito, recolheu todas as setas, atirando-as outra vez, e novamente, e novamente, até que a fortaleza inteira acordasse e se colocasse em movimento com o sol brilhando forte sobre eles.

Seus curtos cabelos castanho-avermelhados grudaram na testa suada, suas mãos estavam molhadas, porém, continuavam firmes.

Ele ergueu o arco para iniciar uma nova rodada e teria sido ainda mais rápido e preciso nessa nova leva de tiros — o jovem tinha a intenção de mirar exatamente nos mesmos furos que as flechas anteriores abriram — se não ouvisse um grito de "abram alas, os Amisterium estão aqui", obrigando-o a soltar o ar cedo demais e atingir a madeira que suportava a estrutura no lugar.

Com um suspirou irritado, recuperou suas flechas depositando-as de volta na aljava e deslizou os dedos pelas imagens gravadas na madeira do arco até que sua mãe surgisse caminhando lentamente ao seu lado em seu vestido em leves tecidos vermelhos.

Espero que não esteja destruindo seu novo presente. — murmurou ela em sua língua natal com um sorriso afável, tocando-o carinhosamente no ombro.

Ela era pequena, tão pequena que precisava esticar os braços e sustentar-se nas pontas dos pés para tocar a testa do filho — embora a mãe insistisse em dizer que não era baixa, era Luca quem crescera demais.

Estou sendo cuidadoso, prometo. — o garoto riu, seus olhos cor de mel brilhando sob a forte luz do sol (afinal o "Dia do Sol" precisava fazer jus a seu nome) quando a mãe acariciou seu rosto com as costas da mão, sua pele escura era um contraste forte contra a pele clara da mulher com suas bochechas rosadas e cabelos loiros como fios dourados.

Deveríamos entrar se os Amisterium estão vindo. Não confio neles.— ela abaixou a voz, mesmo em snoriano o nome Amisterium era reconhecível para qualquer ouvinte.

Amisterium: O Herdeiro LegítimoOnde histórias criam vida. Descubra agora