Amisterium: O Herdeiro Legítimo

Capítulo IX: Fraquezas

Hector Phill tinha um talento secreto, um talento que Mich chamava de "meter o nariz onde não era chamado e em algum momento se meteria em uma enorme confusão por isso, por favor Hector para de fazer perguntas que ninguém quer responder!", mas Hector apenas chamava de intuição altamente aguçado.

O fato era que ele tinha o poder mágico de aparecer repentinamente em qualquer lugar que algo interessante estivesse acontecendo, mesmo que as pessoas envolvidas no fato não estivessem tão felizes com sua presença, e foi assim que sua vontade repentina de um treino em sua manhã de folga – apenas para não perder a forma – resultou em encontrar Augustus treinando sozinho no pátio, balançando a espada furiosamente de um lado para o outro como se tivesse a certeza de que ninguém seria idiota o suficiente para interrompê-lo; ele parecia se esquecer com frequência que seu amigo de infância era o maior dos idiotas neste tipo de assunto.

— Você está em um daqueles humores — Hector disse ao se aproximar de Augustus, tão silenciosamente que o príncipe quase arrancou sua cabeça assustado pela presença repentina, e o teria feito se Hector não desse um passo para o lado e o olhasse com repreensão — Cuidado, isso é uma espada de verdade.

— Obrigado pelo aviso, eu com certeza não saberia a diferença — Gus respondeu com um tom petulante que geralmente usava com os amigos, soando como o jovem sarcástico que era, e não como o príncipe sério e aristocrata que vestia como uma fantasia — Não deveria aparecer sem aviso, eu não o tinha visto.

— Eu notei, por isso chamei sua atenção — o loiro disse como se fosse óbvio, e sentou-se no chão, aos pés do boneco de palha que o amigo despedaçava alguns segundos atrás — Então, vai me contar o que houve?

Augustus hesitou, ele sempre hesitava quando Hector ou Max o chamavam para uma conversa de coração aberto – exceto que Hector era o único que realmente abria uma conversa de coração aberto, Maxon soltava sermões confusos e cheios de palavrões que eram inspiradores de certa forma, quando era possível entender o que ele queria dizer.

Entre os três, Augustus era o mais prático, ele tinha suas opiniões, seus pontos de vista, e os expressava de forma metódica e clara, quase como uma lista de prós e contras, o que geralmente facilitava muito a resolução de problemas dos outros dois,era uma pena que nenhum deles tivesse capacidade de fazer o mesmo por ele.

— Como foi com você e o soldado Harris? — Augustus perguntou no lugar, claramente se desviando do questionamento de Hector, que preferiu fingir ter sido enganado, pois aceitaria qualquer oportunidade para falar de Michael.

— O que quer dizer?

— Quero dizer — o príncipe suspirou, abrindo e fechando a mão com sempre fazia quando não conseguia se expressar, instintivamente Hector alcançou a espada, tirando-a da posse do rapaz, evitando a tentação de fechar os dedos na lâmina como o loiro o vira fazer em diversas ocasiões — Como ele aceitou seus sentimentos por ele?

— Mich teve seus problemas em aceitar meus sentimentos, em primeiro lugar por não aceitar os dele. Acontece que, para Michael, a vida que eu escolhi era apenas o meio para um fim, ele nunca quis lutar ou ser um soldado, ele não teve escolha. E ele tinha medo, medo de que me amar significaria me perder. Então não foi fácil, ainda não é, mas ele escolheu aproveitar nosso tempo sem pensar no amanhã. No fim, não é só isso que temos? Quero dizer, do padeiro ao soldado, do rei à criança pulando no colo da mãe, todos nós temos um tempo limitado e nunca sabemos quando vai acabar. 

— Não era isso que eu queria dizer. Como ele o aceitou como um homem? Como o convenceu de que seu amor não era...

— Anormal?

—  Abominável —  Augustus completou, e Hector sentiu a palavra como uma flecha no peito.

— É assim que pensa a nosso respeito?