Regra de programação da JIA XIV: não se intimide, relembrar é viver
O nosso cérebro é como um álbum de fotos supercomplexo que tem nossas lembranças guardadas, relacionando-as a gostos, cheiros, sons e sensações, de forma que possam ser sempre desbloqueadas e recordadas, podemos sempre folhear esse álbum.
Quando relembramos de algo ou alguém, estamos em contato com o nosso passado e as coisas a qual a ele remetemos, se essa pessoa ou coisa nos promoveu boas memorias então a sensação provavelmente é boa, mas do contrário, a sensação é péssima.
Porém, há algumas situações onda apenas sentimos, aquela onda de sensações e lembranças nos atinge e nos devasta, sem que realmente saibamos como reagir, isso geralmente acontece quando não sabemos exatamente com o que estamos lidando, se ama ou odeia a presença e a volta dela.
Mesmo diante tudo isso, o passado já passou e tudo o que passa se torna aprendizado, então, não se intimide, relembrar é viver.
Yeonjun sabia que encontraria soobin, mas sabe quando já sabemos que vamos nos assustar e acontece do mesmo jeito? Foi assim, ele sabia que ia vê-lo, mesmo assim, sentiu tudo o que havia tanto se preparado para não sentir. Havia sido como uma onda de calor o atingindo, deixando seu rosto quente, os olhos arregalados e a boca entreaberta, o coração errava as batidas e a língua se esqueceu de como proferir as palavras, os lábios se abriam e se fechavam como se quisessem dizer algo, mas não formavam palavra alguma.
Soobin queria muito mesmo estar chocado ou devastado, mas ele não se sentia assim, na verdade, um sorriso se esboçava em seu rosto ameaçando aparecer, tinha seus olhos colados no garoto a sua frente, a mão ainda estendida era reflexo da ação anterior que não havia sido completa.
Doyoung encaravaos dois garotos que aparentemente estavam sem reação. Seu olhar intercalava entre os dois, o primeiro parecia completamente congelado, seus olhos estavam presos aos de soobin, como se enxergasse até os confins de sua alma. Já o mais novo, este parecia querer sorrir, como em alívio, era como se seu corpo estivesse se preparando para talvez se aproximar do outro, seus olhos corriam pela extensão corporal do garoto. O kim pigarreou chamando a atenção dos garotos.
- com licença, senhor soobin, mas é que eu imagino que queira ser breve, afinal, se o senhor choi yeonjun se interessar pelo projeto, pode se juntar com os outros colaboradores na coletiva em trinta e sete minutos – explicou
- a-ah, é claro, eu... – mordeu o lábio inferior tentando conter o sorriso – sente-se, por favor, senhor choi yeonjun
- o quê? Ah, sim – moveu a cabeça para os lados se sentando
Foram trinta longos minutos para doyoung, que não entendia bulhufas da situação, soobin explicava todo o projeto e suas intenções sorrindo, no começo o choi mais velho parecia nervoso, mas logo se permitiu mostrar suas ideias, rabiscou o quadro de planos de soobin e lhe deu sua visão de mundo, algo bem aprimorado, a visão de alguém que viu e perto o impacto que a tecnologia tem no ambiente. Trocavam risos descarados e mal se importavam com a presença dele ali.
- bom, aposto que vai ser muito bom trabalhar de novo com você, choi yeonjun – lhe estendeu a mão
De novo. Duas palavras que pegaram os dois mais velhos de surpresa.
- é, claro... eu, preciso ir – seu riso se tornou um tipo de preocupação e ele deu as costas, como quem foge de uma situação
- o encontro com os colaboradores é em sete minutos no sexto andar – doyoung disse alto para que o garoto ouvisse – vem cá, quem era ele e como assim “de novo”?
- só alguém... – sorriu de canto encarando o quadro
- não pareceu ser só alguém
- é que ele já foi mais que isso, mas ele foi embora...
O sorriso se fechou com um suspirar profundo, tirou um tipo de print do quadro digital e o excluiu, dando-o as costas.
No elevador, yeonjun tentava entender por que raios aquilo tinha acontecido, ele não podia ter se aproximado de soobin daquela maneira, ele não queria, era perigoso para si. Também se sentia irritado pelo outro ser descarado ao ponto de tratá-lo daquela maneira depois do que fez no passado.
O choi mais novo por outro lado, pensava em como havia se sentido ao reencontrar yeonjun, como seu corpo reagiu a sua presença, novamente perto de si, como sentiu novamente que eram polos opostos em eterna atração, sinceramente ele queria chegar mais perto. Precisava conversar com ele, estar com ele, esclarecer tudo. Ele escalaria o Monte Everest só para ver ele, mesmo que de longe.
Yeonjun estava de frente a uma sala de projeção com portas de vidro, cheia das mais diversas pessoas falando várias línguas, aquilo deu um leve alivio nele, nem ao menos sabia por quê. Se sentou em uma cadeira na décima fileira, não era nem tão perto, nem tão longe, era bem no meio.
Em alguns minutos a apresentação começou, quem apareceu para explicá-la era um garoto de altura mediana, seus cabelos eram tingidos de cinza e usava um jaleco que ia até a metade de suas coxas, o dando um ar importante. Hora ou outra ele olhava em volta no público, yeonjun tinha uma estranha sensação de já o conhecer, mas não havia ouvido o nome dele no começo da apresentação. Foi então que por um segundo, o acinzentado direcionou o olhar a si, sua expressão se tornou surpresa e ele mal podia acreditar. O choi ainda não o reconhecia totalmente e isso não fazia sentido para si.
Assim que houve uma pausa, o jovem de cabelos acinzentados veio ao seu encontro, tendo agora mais proximidade e iluminação ele pode reconhecê-lo.
- kang taehyun?! – exclamou surpreso
- yeonjun? Meu Deus é você mesmo, já faz cinco anos! – ele disse animado
- wow e você trabalha aqui, tipo, aqui
- sim, passei em um concurso e virei estagiário quando eles estavam no desenvolvimento de um dos primeiros modelos, fiz minhas graduações e aos poucos eu subi de posição e hoje eu trabalho diretamente no desenvolvimento da tecnologia cognitiva, minha presença garante que os androides tenham um sistema nervoso quase humano – se orgulhou
- isso é incrível, eu estou tão orgulhoso!
Enquanto conversavam, taehyun não pode deixar de notar que soobin estava ali conversando com colaboradores, empresários e patrocinadores, mas hora ou outra olhava em sua direção, ou melhor dizendo, na direção de yeonjun.
- com licença, yeonjun, eu preciso ir, mas, por favor, aproveite – sorriu se despedindo
Andou por entre as pessoas tentando ser educado, só precisava chegar em soobin, mas sua concorrência estava grande. Assim que finalmente pode se aproximar, o puxou pelo braço o arrastando até um canto.
- desde quando você virou um satélite? – exclamou o soltando
- ai você segura muito forte pra um gnomo – reclamou passando a mão no braço – não entendi o que quis dizer
- está sondando o yeonjun como um satélite, não para de encará-lo, fica o procurando, olhando onde ele vai e com quem fala, pensei que tivessem terminado cinco anos atrás
- e o que tem?
- que não te vi namorar ninguém desde então, não consegue interagir com alguém novo por mais de uma semana e não trabalha com mais ninguém em projeto nenhum porque lembra da heejin
- não é verdade – emburrou-se
- você sabe que é, na real, nem sei o que está fazendo aqui, nos últimos anos tivemos cinco projetos como esses e você não veio em nenhum, o que está fazendo aqui agora, hein?
- as pessoas podem mudar sabia?
- soobin, você sempre disse que seguiu em frente, mas é como se você estivesse sempre esperando que ele voltasse
- mas ele voltou, olha ele – apontou para o garoto que ria com alguns jovens
- mas ele voltou para ajudar o projeto, não voltou para ser seu namorado ou seu amigo, você nem sabe se ele namora, se tem filhos, se mora mesmo aqui em Seul ou se está de passagem, se tem alguém no coração, se ainda te ama...
Aquelas palavras atingiram soobin, era ao menos possível que aquilo fosse verdade? Em sua mente sempre esteve clara a ideia de que um dia yeonjun viria ao seu encontro e o mundo voltaria a ser colorido, mas aparentemente não é assim.
Não é como se ele não tivesse tentado, ele procurou em todos os lugares, conheceu as mais diversas pessoas, caras incríveis que o ensinaram algumas coisas, mas amores de uma noite não curam um coração partido. Na verdade, yeonjun foi um péssimo professor! Ele ensinou soobin a o amar, diga-o então como se apaixonar por outras pessoas, ora, pois seu coração ainda clama pelo homem que um dia teve o prazer de amar com todo o fervor, de tocar e de sentir, de ter e pertencer, poderia o universo ser cruel ao ponto de fazer isso consigo?Se ele ainda amava yeonjun, não poderia este o amar também?
Passou uma semana pensando nisso, mesmo que não deixasse seu dia a dia de lado, qual sua rotina? Dar um jeito de estar em qualquer parte da empresa que yeonjun pudesse estar.
Chegou em casa tarde da noite, depois de mais um dia estressante na empresa, onde doyoung grita, ele finge que escuta, mas está ocupado seguindo yeonjun, que estava o ignorando, claramente.
Acendeu as luzes pronto para se jogar no sofá e ouvir ji-ah brigar porque ele não tirou os sapatos da rua e estava trazendo resquícios de sujeira. Muito do contrario, quando ele chegou, encontrou seus amigos e arin sentados na cozinha.
- o que raios vocês estão fazendo aqui? Até você doyoung?
- estamos aqui porque nos preocupamos com você – exclamou beomgyu
- o que tá acontecendo?
- escuta, soobin, você já passou por muitas fases difíceis na sua vida e tá tudo bem, já aconteceu com todos, mas você não pode fazer o que fez da última vez – arin disse com voz calma
- não sei do que está falando
- uma vez você abandonou o mundo e setrancou no seu quarto, só voltou para a civilização quando conheceu yeonjun, ele te mostrou o melhor em si e vocês se amavam, mas você não soube como usar o que ele te ensinou, então quando ele passou, você continuou sem saber como responder aquela pergunta simples, a que você sempre procurou a resposta por entre as linhas de livros de mecânica e fios elétricos, você não soube amar, guardou seus sentimentos para si mais uma vez, é claro que você melhorou, na verdade, está muito melhor que no passado, mesmo assim não abandonou velhos costumes, as antigas maneiras que te impedem de seguir em frente, o yeonjun seguiu em frente, e você? – taehyun sabia como usar as palavras de forma que tocasse soobin
E de fato o fez, as sobrancelhas de soobin estavam franzidas como quem ameaça chorar, se assemelhava a uma criança que sente falta do brinquedo preferido, do consolo.
- sabe o que você precisa fazer agora, soobin? – arin se aproximou se sentando ao lado do mais velho, colocou uma de suas mãos sobre o ombro deste – você precisa conversar com ele, resolve seus assuntos pendentes, esclarece todos os mal-entendidos, coloca um pinguinho em cada I, não se intimide
- como eu posso não ter medo? Eu amo tanto ele, mas sempre o vi correr, o vi sentir dor, mas eu não aprendi como lidar com pessoas feridas, principalmente quando eu era o causador da dor – uma lagrima grossa escorreu de seus olhos – pedi que ensinasse sentimentos ao meu robô, ele prometeu que me ensinaria também, mas eu só aprendi como amar era bom e como perder era ruim, eu não quero perder de novo
Kai sentiu a dor de soobin em si, a melodia já se formava em sua mente.
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Technical Feelings
General FictionChoi Soobin era um jovem ambicioso que almejava criar o primeiro androide de inteligência artificial capaz de desenvolver sentimentos e identificar emoções. Para isso, ele precisava da ajuda de Choi Yeonjun, o guitarrista e compositor de uma banda a...