Capítulo 12

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Oii pessoal! Como vcs estão??
Capítulo quentinho pra vcs <33








Regra de programação da JIA XII: o tempo é irrelativo

   O tempo é uma invenção do homem para ter controle sobre o seu dia a dia, é uma forma de organizar o caos da vida rotineira ou a monotonia de seus dias sem sol. Quando dizemos que algo é atemporal, estamos querendo dizer que não importa quanto tempo passe, aquilo sempre será o mesmo, por exemplo, se tal música é icônica e atemporal então não importa quanto tempo passe, ela sempre será icônica, um belo hino. Mas, se o tempo é uma invenção, tudo é atemporal, nada depende do tempo, não importa quanto tempo passe, a paz pode permanecer, como o respeito, como a ordem, como o amor, afinal, o tempo é irrelativo.
   Mesmo assim, ainda é uma unidade de medida e precisamos de tal para a nossa organização, assim podemos dizer que depois de uma semana, soobin recomeçou toda a sua pesquisa, não usaria nada do que havia feito com heejin, voltou completamente à estaca zero. Isso não foi totalmente ruim, viu onde estavam seus erros e números que se deixasse passar poderiam causar um grave erro.
   Beomgyu estava certo, ele precisava seguir com sua vida fazendo bom uso de tudo o que aprendeu com yeonjun. Foi assim que em uma feira de ciências, conheceu o dono de uma pequena empresa de tecnologia, ele achou a ideia de soobin ambiciosa e sem dúvida ficou impressionado quando teve chance de conhecer ji-ah.
   Em cerca de um ano o choi já tinha chegado a seu resultado e feito sua obra prima, finalmente podia ser chamada de Ah Ji-Ah, o androide junior de inteligência artificial com sentimentos. Infelizmente, para o desgosto de soobin, para ser mandada para mercado, ela precisou sofrer algumas modificações como o acesso a memória do usuário. Assim, o modelo original de soobin era exclusivo para si.
   Isso tudo aconteceu no ano de 2024, mas em pouco tempo ele já tinha sua própria empresa, choi’s technology era a febre do século, o projeto “technical feelings” era um sucesso, androides, robôs e até tecnologias de uso doméstico com capacidade de afeiçoar-se a seu dono eram parte dessa linha. A empresa fez avanços na tecnologia em grande escala, sendo famosa a nível global, hospitais, lares para crianças e idosos, ONGs importantes, grandes agencias e empresas, todas faziam uso de seus produtos eficazes. Foi assim que no ano de 2028 choi soobin era um dos jovens mais bem sucedidos do mundo, com apenas 28 anos tinha todo o seu império tecnológico erguido.
   Para quem se pergunta como está seu irmão, choi beomgyu terminou a faculdade de pedagogia e se encontrou totalmente em um serviço que ajuda crianças que não tiveram chance de serem alfabetizadas quando mais novas. Taehyun, seu namorado, conseguiu, por mérito próprio, um emprego na empresa choi’s, agora ele ajuda na programação e melhora da tecnologia empata. Kai seguiu com a banda por um tempo, mas então os garotos se formaram e ele foi atrás de seu sonho de se realizar com a música e hoje é um jovem com uma fama sem dúvida considerável, conhecido por sempre por causas importantes e sentimentos em pauta em suas músicas.
   O tempo pode até ser irrelativo, mas fez bem para cada um dos garotos que conseguiram tomar seu rumo e serem felizes da maneira deles. Se é que todos estavam realmente felizes, mas isso quem decide é o tempo desses sentimentos técnicos e atemporais.
     - é isso – ji-ah finalizou depois de contar toda a história
Arin se encontrava em choque, passou o dia todo ouvindo aquela história, já estava escuro lá fora.
     - como assim é isso? – se levantou soltando a almofada que estava segurando
     - a historia acabou ué, o que mais quer que eu diga?
     - o quê aconteceu com o yeonjun?
     - procurando no sistema... – ficou paralisada por alguns segundos –choi yeonjun fugiu para a casa de um amigo em Busan, depois de uma semana, partiu em direção a índia, onde participou de um trabalho comunitário por três anos e meio, voltou para Seul, terminou a faculdade e hoje trabalha em um escritório pequeno que é especificado em causas ambientais, atualmente divide uma casa com choi jinri, dona de uma floricultura no lado sul da cidade.
     - espera, ele está em Seul?
     - não ouviu o que eu disse?
     - você é muito grossa, meu deus, deve ser uma falha no sistema – rolou os olhos – se ele esta aqui podemos falar com ele
     - não acho uma boa ideia se intrometer na vida de choi yeonjun – disse receosa
     - vai me dizer que não sente falta do seu amigo?
     - sinto, mas eu não posso sair daqui – deu as costas
     - eu posso te tirar daqui ji-ah, só precisa me ajudar – exclamou – eu tenho tantas perguntas
     - então as faça para soobin, ele está na porta do apartamento e vai entrar em 10 segundos
   Logo que o androide exclamou, soobin entrou pela porta da frente com o smoking em mãos e a gravata desatada. Parecia cansado. Seu dia não havia sido dos melhores.
   Logo pela manhã ele tinha uma reunião marcada, mas acabou acordando atrasado e chegando 23 minutos atrasado na reunião, uma das quais ele tinha de deixar uma boa impressão.
   Assim que desceu do carro, ainda pensativo sobre as palavras da irmã, seu secretário kim doyoung veio em sua direção como uma bala pronta para atingi-lo.
     - choi soobin, seu desgraçado – exclamou já irritado – como pode chegar atrasado em um dia como esse?
     - não estou no melhor dos meus dias – andavam a passos largos em direção a sala da reunião
      - oh, eu poderia fazer algo para ajudar? – debochou – Quer mais horas de sono, majestade? Então tenta dormir mais cedo, seu banana!
      - eu tenho uma empresa pra gerir, projetos para realizar, mil e uma coisas pra checar, acha que eu tenho suas horas de sono?
      - se eu tivesse horas sono ajudava, mas você acordado significa eu acordado
      - eu deveria te demitir e contratar um robô
      - um robô não tem essa cara linda – apontou para o próprio rosto
      - inacreditável – rolou os olhos antes de entrar naquela sala enorme, cheia de homens de terno
   Os russos lhe olhavam como se pudessem o matar com os olhos, os americanos cochichavam entre si, os chineses reclamavam em voz alta que não podiam ficar esperando um jovem sul-coreano mal-educado, entre muitos outros países que estavam ali para julgá-lo. Veio em sua direção um homem baixo de face redonda, seu rosto estava vermelho como um tomate e ele suava frio.
     - escuta aqui garoto, você pode ser rico e famoso, mas isso não te dá o direito de chegar nos lugares quando quer, não faz ideia do prejuízo que já causou – disse perto de si
     - me desculpa, senhor – fez uma reverencia ao homem
     - para de se desculpar, as pessoas vão achar estranho – lhe corrigiu
  Soobin podia ouvir os murmúrios “esse garoto se acha dono do mundo” “como podemos confiar nesse moleque?” “é sempre a mesma coisa, a coreia está perdida” e principalmente “aposto que sempre teve quem fizesse tudo o que ele quer e nos usa de capacho”. Ele odiava esses comentários porque sabiaque nenhum deles era verdade, mas não fazia nada. O verdadeiro capacho era ele.
   O tempo pode ser irrelativo, pode não ter efeito sobre as pessoas, mas se isso é verdade, como aquelas pessoas podem ser ultrapassadas? Se o tempo não fosse tão impactante, tudo seria atemporal, mas aquelas opiniões conseguiam criar barreiras entre o tempo.
   Foram horas naquela sala, discutindo coisas que nem mesmo cabiam a ele, problemas políticos que não o interessavam, ele nem sequer podia fazer algo a respeito, o queriam ali para ouvir o que tinha a dizer, o intimidar, o ver errar. Soobin uma vez teve a ideia de criar a inteligência empática e fez isso pelo próprio bem, porque pessoas o faziam mal, yeonjun o mostrou que nem todo mundo era assim. Mas ele não estava mais ali, então tudo aquilo perdeu o sentido.
   Pensar em tudo o que se perdeu com esse tempo... as vezes, tão relativo. Era bom lembrar daquela conversa sobre planetas, daquela tarde gostosa, do garoto de cabelos ainda avermelhados. Em mente, soobin tinha aquele dia.
     - soobin, você sabe do que a felicidade é feita?
     - não sei, acho que nunca fui feliz de verdade
     - mas você teve momentos bons, certo?
     - mas as vezes os momentos bons não superam os ruins... – soobin olhou para baixo
     - mas é disso que a vida é feita, de pequenos momentos bons, é por isso que a gente tem tanto apresso, é por isso que o tempo é tão apressado – sorriu ficando de frente para o garoto – o importante é nunca desistir, sempre olhar para frente – ergueu seu queixo de forma que olhasse para si – olha como somos jovens, soobin, ainda temos tanto a viver, por exemplo, você ainda não experimentou a liberdade
   Aquelas palavras tiveram um impacto imenso sobre o choi mais novo, era verdade, ele nunca foi livre, sempre escravo de sua própria ignorância. Era comum esse tipo de sentimento, tudo o que yeonjun dizia e fazia tinha impacto sobre si e isso fazia de seus dias mais impressionantes, cheios de descobertas.
   Tudo isso rondava sua mente diariamente, todas vezes que yeonjun disse algo tão importante, portando uma sabedoria que nem cabia a ele, como um momento de iluminação divina onde ele dizia tudo o que soobin precisava ouvir. Às vezes, tudo parecia ser um devaneio, um sonho bom, efeito de alucinógenos, onde os momentos bons eram alucinações e os momentos ruins eram minutos longos e estressantes de lucidez.
   Foi acordado de sua própria mente assim que entrou em casa.
     - choi soobin, seu desgraçado – sua irmã exclamou vindo em sua direção
     - ué, virou moda me chamar assim?
     - por que nunca me contou que era gay?
   Soobin congelou no mesmo lugar por alguns segundos, mas logo tomou consciência novamente.
     - engraçado, o beomgyu teve a mesma reação
     - ele soube antes de mim?
     - ele descobriu sozinho
     - mas por que você não me disse? Nem se importou em me contar, poxa...
     - não pensei que fosse relevante ou algo que eu precisasse contar para alguém – deu de ombros indo em direção a cozinha
     - como não?
     - arin, me diz, você é hetero? – a garota assentiu – mesmo? Por que nunca me contou?
     - ai soobin, é diferente, você sabe que é
     - por que heteros não precisam sair do armário, mas pessoas LGBT precisam?
     - é que tipo, é o mais comum e... – gaguejava sem saber como se explicar
     - hetero normatização? Vindo de você, arin? Eu esperava mais da senhorita – exclamou o androide provocante
     - ah, cala a boca! – fez um gesto obsceno em resposta – o importante é, o yeonjun tá na cidade e vocês tem que conversar e esclarecer toda essa historia
   Arin não entendeu em primeiro momento o que havia dito de tão errado, afinal, soobin virou-se bruscamente para si apertando os olhos, parecia sério.
   Na verdade, soobin imaginava que yeonjun estivesse morando em Seul e seu maior medo era encontrar com ele na rua um dia desses, não era como se ainda não sentisse algo estranho sempre que pensava nele, mas o garoto ainda era uma ferida aberta que não estava pronta para ser fechada. O que ele diria se o visse? Ele deveria se explicar? Deveria fingir que não lembra de si? Será que ele iria acabar saindo correndo? Ele não sabia.
   Ainda doía, pensar sobre tudo isso ainda afetava soobin, ele e seus amigos nunca mais falaram sobre isso a pedido dele, por isso nunca havia contado sobre yeonjun para arin, não fazia ideia de como ela havia descoberto.
   Aquele sentimento de saudade, mesmo que distante, era atemporal, aquela dor, o arrependimento de pensar se ele não podia ter feito melhor, o arrepio que lhe corria a espinha sempre que pensava sobre isso, o estomago se revirando, sempre que avistava alguém parecido o coração batia rápido como um carro de corrida, todos aqueles sentimentos eram atemporais. Por isso ainda sentia tanto.
     - quem te falou sobre o yeonjun? – gradativamente aproximava, arin percebeu a enrascada dando passos atrás – foi o beomgyu? O taehyun? O kai?
     - não foi nenhum deles
     - então como você descobriu?
     - eu... – olhou para o androide, por mais que ela não houvesse reagido, conhecia seu irmão, ele poderia ficar bravo com ji-ah, por isso mentiu – vi uma foto sua com ele, estava entediada e lembrei da conta antiga do beom no instagram, entrei e te vi beijando um garoto de cabelo vermelho em uma das fotos que ele repostou, fui procurar quem era o garoto, usei um dos seus super computadores pra fazer uma pesquisa e depois de tudo eu achei alguns trechos do twitter antigo dele e descobri que ele tá na cidade, foi só isso
     - ah é mesmo? – ainda desconfiado deu de ombros – não quero saber dele e não quero que se envolva com isso, está ouvindo, choi arin?
     - mas por que não? –arregalou os olhos
     - porque eu disse que não, se fizer alguma coisa eu vou...
     - me descartar? É isso o que vai fazer? – o interrompeu
     - o quê? – já havia ouvido isso antes, uma sensação de dejavu o tomou, mas ele não realmente lembrou onde
     - beomgyu me contou uma vez que você tinha o péssimo habito de descartar tudo e todos que perdiam a utilidade ou te incomodavam, foi isso que fez comigo quando éramos adolescentes?
     - do quê está falando? – travou o maxilar nervoso
     - não se lembra? Então eu vou te lembrar...
Narração de arin
   Era 3 de julho de 2019, o clima emcasa não era um dos melhores,ambos sentados naquela sala de cabeça baixa ouvindo poucas e boas de nossa mãe.
   As coisas lá em casa sempre foram estranhas para nós, papai viajava o tempo todo por conta do trabalho e a mamãe passava quase o dia todo no hospital, isso quando não passava três ou quatro dias sem voltar para casa. A vida deles era o trabalho, tanto que se esqueciam dos filhos. Tudo compensado com presentes, claro.
   Desde muito novo, você assumiu a responsabilidade de adulto da casa, cuidava de mim e do beomgyu, sempre cozinhou e limpou, também nos ensinou tudo o que sabemos sobre a vida e mesmo que tivéssemos a mesma idade, era mais maduro que eu.
   Tudo isso até os dramas adolescentes baterem em nossas portas, não foi fácil para nenhum de nós, mas achamos nossas formas de lidar com isso. Quando a ansiedade social lhe fez uma surpresa, você se isolou, quando a insegurança me apareceu, eu tentei me tornar aquilo que as pessoas queriam que eu fosse.
   Foi assim que você entrou completamente em sua bolha e eu furei a minha, você se fechou para o mundo e eu deixei o mundo tomar conta de mim, você se trancou no quarto e eu mal passava um dia em casa.
   É claro que isso não durou muito, com você fechado para os seus robôs de torradeira e eu com meus roles e amigos duvidosos, o beomgyu ficou sozinho, ele ficou com medo, ele se sentiu abandonado, ele pensou que era irritante e que estava afastando as pessoas. A mamãe só foi descobrir isso quase um ano depois, ambos tínhamos 19 anos e deveríamos agir como adultos, mas não o fizemos.
   Naquele momento, naquela sala, eu a ouviafalar sobre como as notas de nosso irmãozinho tinham caído, ele não era criança, era um adolescente, isso significava que já fazia tempo que vinhamos afetando-o. Eu só queria viver minha vida, ter amigos, eu não entendia como você podia ser daquela forma, tão frio e antissocial, naquela época eu era ignorante, eu sei, mas você era mais.
   Quando a dor surgiu, quisemos culpar um ao outro.
     - mãe, a senhora está certa, eu errei, eu deveria ter passado muito mais tempo em casa e eu me arrependo de não ter o feito – exclamei do fundo do meu peito – mas sinceramente, não vê o problema que está bem em frente aos seus olhos? O soobin tá se isolando do mundo, ele estava aqui em casa, mas ele tá tão distante que o beom se sentia sozinho
     - o quê? – você se levantou indignado
     - ela está certa, soobin, querendo ou não você é o mais velho e não cuidou do seu irmão, além do mais, você nem vem mais me ver, nunca sai do quarto, parece nem mesmo sentir fome, seu peso vem caindo e a conta de luz aumentando – desta vez era mamãe quem ditava
     - sabe o que também está aumentando?    Minhas notas, meu rendimento escolar, minhas chances de fazer o que eu quero na faculdade, de passar na prova e ganhar uma bolsa, sair daqui e te dar menos trabalho, tudo o que eu faço é estudar e trabalhar no meu projeto, algo que pode realmente ajudar o mundo, mas é claro que você vai jogar pedras em mim e não nela
     - por que jogaria pedras em mim?
     - ora, vamos começar pelo fato de que suas notas caíram, você foi pra coordenação duas vezes esse semestre, está dormindo fora de casa e indo a festas, você ainda é menor! Não vê o que está errado? Tudo isso porque quer impressionar alguns garotos e garotas da escola, porque quer ser popular, quer ser o centro das atenções, quer ser perfeita, mas adivinha: vomitar suas refeições e por meias nos sutiãs não vai te fazer feliz
   Meu peito sentiu uma dor imensa, algo que eu nunca havia experimentado na vida, eu senti os olhos arregalados da mamãe queimando em minha pele, aquela pressão. De fato, eu vinha passando por muitos problemas e na época eu não percebia o quão perigoso era o que eu fazia, mas era tão ruim me sentir daquela forma. Era sempre assim, eu acordava de manhã sorrindo, mas o sorriso morria assim que eu me olhava no espelho, me sentia gorda, me sentia feia, naquela época eu pensava que a magreza era sinônimo de beleza. Mesmo quando eu sentia tanta vontade de comer tudo o que via pela frente, comer me causava medo, eu pensava que ninguém me amaria se eu fosse obesa e tivesse que ser carregada por um guindaste, eu queria ser linda, eu queria ser amada. Eu queria ser magra.
   Esse sentimento me corroeu por muito tempo, ao ponto de pular aulas pela minha fraqueza, só o que me deixava de pé eram as pílulas que uma amiga me vendia, eu nem sabia o que era aquilo, mas fazia eu me sentir viva. Hoje eu entendo que estava me matando.
   Naquele momento eu quis fugir, fugir daquela casa, daquele assunto, do mundo, tudo o que eu precisava era um empurrãozinho, e você deu.
     - minha filha...
     - não fala nada, mãe, ela vai inventar uma mentira bonita, chorar no seu colo e no final do dia vocês vão estar abraçadas e felizes, enquanto você finge que não sabe e ela finge que não faz – sua voz era sugestiva
     - por que você me odeia? – meus olhos já estavam cheios de lagrimas
     - eu não te odeio, eu quero o seu bem e é esse o problema, porque você nunca quer ficar bem
     - cala a sua boca – mesmo que eu gritasse, você se aproximava em tom de acusação
     - se não quer voltar pra casa, se não quer ser irmã, filha, aluna, então vai embora, nem precisa voltar, só some, eu quero te ver voltar e me contar que eu tava certo
     - talvez seja melhor eu sumir mesmo, você não precisa de mim
     - eu precisava, mas agora você não faz diferença, como uma peça descartável
     - pra você todo mundo é sucata, seu desgraçado – meus olhos eram tomados de raiva e lagrimas
   Foi assim que eu arrumei minhas malas e parti para a casa de uma amiga, a mamãe nunca passou muito tempo com seus filhos, por isso não sabia como lidar com aquela situação, apenas me deu dinheiro e na primeira oportunidade eu fui pra Australia, droga, eu nem sabia inglês, eu só queria sumir.
   Lá eu vi e ouvi muita coisa, as pessoas lá foram atenciosas, conversaram comigo e cuidaram de mim, não parecia um intercambio, parecia que eu tinha sido internada em um tipo de clínica aberta. Pelo menos funcionou, melhorei minhas notas, fiz faculdade e durante esse tempo eu fiz um acompanhamento com uma psicóloga e uma nutricionista, hoje sou grata por todas essas pessoas, até a você.
Fim da narração de arin

   Soobin se mantinha estático, sem saber o que dizer, não sabia como conversar com a irmã. Então a abraçou, por ter sido de surpresa, o abraço foi meio desajeitado, mas não perdeu o significado, soobin era ruim com as palavras, então arin sabia que aquilo era um pedido de perdão.
   Existe um poema que diz “se o tempo é irrelativo, por que tão abusivo? Como perder o sorriso ao acordar”. Quando nos levantamos, temos um segundo de felicidade antes de lembrarmos do caos que é a nossa vida, todos já desejamos viver naqueles segundos, naquela pequena eternidade, tão controlada pelo tempo, mas ainda sim atemporal.
   Arin prometeu para si mesma que não perderia tempo, a vida é muito curta para ser dominada por momentos ruins, são tantas as primeiras vezes que não damos lugar as segundas chances.
   Na manhã seguinte, soobin abriu os olhos encarando o despertador, havia acordado uma hora antes de seu horário normal e isso era patético. Isso, porém, o deu chance de se arrumar com calma, de comer bem, de assoviar aquela música que nem sabia que lembrava, de trocar mensagens com seu irmão, de chegar mais cedo na empresa.
   O dia parecia lindo, como se as nuvens fossem feitas de novas oportunidades, as flores entre as calçadas do lado de fora eram micro acasos querendo desabrochar, o céu azul era uma infinidade e tudo parecia lindo.
   Soobin entrou pelas portas da frente, surpreendo doyoung que pensou que iria ter que brigar consigo mais uma vez aquele dia, mas ele estava adiantado e aquilo era novo, além do mais, ele sorria.
     - não atendeu as minhas ligações por quê, senhor felizardo? – exclamou segurando um tablet
     - porque falar com você é um saco e meu dia tá sendo bom – sorriu
     - ok, você poderia ter se preparado, mas foi você quem escolheu isso – deu de ombros
     - me preparar?
     - a empresa de direito ambiental o qual estávamos conversando esses dias, a arin conseguiu conversar com eles, mandaram um representante para fazer uma reunião com você – apontou para uma poltrona – bem ali
     - ótimo, chama ele para minha sala – deu as costas, se dirigindo a seu escritório
   Sentado naquela cadeira, pensava em como aturaria um advogado hippie, o que ele bebe? Será se ele deveria oferecer um café? Espera, esse pessoaltoma isso? Não fazia ideia.
   Assim que o garoto entrou na sala, se levantou para cumprimentá-lo, estendeu a mão, amigável. Porém, o universo tinha outros planos, o advogado hippie em questão era muito mais que isso.
   Era bastante informação, mas foi naqueles olhos de imensidão que soobin se perdeu.    Foi como se milhares de galáxias habitassem seu olhar estrelado, o corpo de soobin entrou em curto, como se pequenas combustões se fizessem em sua pele e tudo explodia em si, queimava como a mais avassaladora das febres. O tempo preso ali naquele olhar não passava.
     “se o tempo é irrelativo, por quê acabou comigo, quando encontrei o teu olhar?”
   Era a última estrofe daquele poema que fez o mundo de soobin virar de cabeça para baixo. O tempo com certeza era irrelativo, tudo se baseava em pequenas eternidades que queríamos que durassem mais, de fato podiam, tudo tão imenso, tudo tão maior que nós, a vida é limitada, mas o universo é tão infinito.
   Soobin encarava aquele garoto sem saber como reagir, era choi yeonjun bem ali. Sentiu tudo aquilo de novoe, em seu corpo, se tornou loop, diversas vezes sentindo aquelas explosões em si, tanto tempo havia se passado, mas aquilo nem mesmo mudou, era tudo tão irrelativo, tão atemporal.
   Foi pensando na imensidão do caos que o homem criou sua pequena eternidade chamada tempo, ele só não entendia que estava se limitando, colocando uma barreira imaginaria entre ele e o infinito. Entre o zero e o um, habitam uma imensidão de galáxias inexploradas, faz a distância entre você e eu, caro leitor, parecer menor, mas é aí que está o pulo do gato, é a distancia entre um ponteiro e outro do relógio que aproximam dois corpos no espaço, que mostram como o infinito é escondido em pequenos traços, que diz como seu olhar acabou comigo, que mostra o quanto nosso precioso tempo é irrelativo.











Eai, gostaram deste cap? acho que vcs vão gostar de ler esses próximos capítulos acompanhados da playlist oficial da fic!
Bom, eu volto semana que vem com mais um cap :))

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