Oii gente! Como vcs estão?
Bom, aqui está mais um capítulo quentinho,
Espero que gostem do capítulo de hoje!
Boa leitura <3Regra de programação da JIA XIII: tudo passa, mas há mil dentes-de-leão entre o tudo e o nada
Meu pai sempre dizia que tudo o que é demais passa, minha amiga me disse que tudo passa se deixar passar, minha psicóloga explica que na nossa vida muita coisa vai passar e muita coisa vai ficar, mas tudo o que passa por nós deixa uma marca, um aprendizado. Tudo é uma palavra muito complexa, muito vaga, tudo é coisa demais. Se tudo passa, então por que esse meu sentimento ainda não passou?
Entre o tudo e o nada há um inteiro campo de dentes-de-leão, onde o acaso dá de frente com destino e eles fazem o pacto de deixar o vento levar pedidos de ninguém. Quando algo passa, nos adiciona algo, sendo isso bom ou ruim, as vezes não nos lembramos de verdade dessa pessoa ou coisa, mas nosso subconsciente tem anotado tudo o que você aprendeu. Então, não é uma verdade completa. Sim, algumas dores passam, cicatrizam e só deixam uma marquinha, outras infeccionam e se tornam um problema de longa data. Podemos então dizer que: quase tudo passa, mas é incrível como algumas coisas insistem em ficar.
O tempo de faculdade de yeonjun podia ter passado, mas sua vontade de ajudar, seu espírito jovem, sua paixão pelo certo, sua força de vontade para fazer justiça, isso tudo havia ficado.
Quando naquela noite fatídica ele saiu da casa de soobin, após ter seu coração despedaçado, ele sentiu que finalmente havia atingido o ápice daqueles sentimentos ruins que o consumiam há meses. Escorregou pelas paredes do elevador e caiu no chão fraco, tanto pela dor que sentia mentalmente, como pelo seu mundo que parecia cair aos pedaços, assim também como pela falta que as noites de sono e a boa alimentação o faziam.
Ele correu até o apartamento, já vazio, as malas na porta já o aguardavam, estavam ali havia mais ou menos dois meses, só aguardando um último empurrãozinho para que yeonjun fugisse mais uma vez. E ele fugiu.
Passou um curto período na casa de um amigo de infância, até descobrir um projeto que precisava de voluntários, foi então que ele percebeu que já não tinha nada mais a perder.
Foram anos pulando de um serviço para outro, ensinando muito, aprendendo muito, ajudando quem precisava, sendo ajudado por quem queria, fazendo laços de amizade, recebendo carinho de diversos adultos e crianças. Era algo muito maior que ele, era um sentimento de afeto, de querer proteger e ser protegido. Foi fazendo isso que percebeu que um copo d’agua pode fazer a diferença na vida de uma criança, mas que muito além disso, o amor e a amizade podem ajudá-la de diversas outras formas. Ele deu ajuda, oportunidades, a chance de uma vida melhor, viu crianças terem a chance de irem à escola, recebeu cartinhas com as primeiras palavras e se sentiu completo.
Conheceu na índia uma garotinha, Kali Mahara era seu nome. Naquela região, nomes tinham muito significado e o nome dela tinha tributos à uma importante deusa e significava ‘vaca selvagem’ um animal sagrado para eles, esse nome atribuía a pessoas provavelmente de opinião forte e era verdade. Kali era divertida, fazia piadas engraçadas e sempre surpreendia yeonjun, mas também tinha um senso de realidade muito prematuro para sua idade.
Um dia, o irmãozinho de kali, Akshay, veio correndo na direção do coreano, ele não falava inglês muito bem, mas sempre tentava se comunicar com o mais velho. Pulava por cima das coisas, subia em pedras e esbarrava nas pessoas, tudo em alta velocidade, tinha uma cartinha em mãos. Yeonjun e kali conversavam debaixo de uma tenda, onde kali sempre o contava o que havia aprendido na escola. O garotinho veio como uma bala chamando a atenção de ambos.
- olhe para ele, não tem medo de se machucar, aposto que meus pais escolheram o nome errado – ela exclamou revirando os olhos
- por que diz isso?
- o nome dele significa indestrutível ou imortal, por isso ele pensa que nada o machuca, está errado, o mundo machuca e faz doer, nada é para sempre – ela se mantinha indiferente
As conversas com a menina sempre chamavam a atenção de yeonjun, kali passou por muita coisa na infância e isso a tornou uma garota blindada, só tinha onze anos, mas era tão madura quanto um adulto.
- yeonjun! Eu escrevi uma carta – o garotinho de sete anos exclamou sorridente
- é mesmo? O que tem com você aí? – se interessou pelo papel nas mãos pequenas, o garoto lhe estendeu a carta, yeonjun pegou-o de suas mãos, aproveitando para pôr o garoto em seu colo – pode ler para mim?
- sim – disse firme –“ euestou feliz por conhecer tio yeonjun, meu herói de cabelo rosa, obrigado por me dar oportu... oportunia...”
- fala silaba por silaba comigo – ditou sorrindo –o-por...
- o-por-tu-ni... da-de... oportunidade! “Oportunidade de ler e escrever, eu te amo!” Foi o que eu escrevi, você gosta?
- eu amei, seu inglês está lindo pequeno akshay – o elogiou
- eu não sou pequeno – desceu do colo do mais velho – eu sou grande olha – fez uma pose que arrancou risos – eu vou mostrar para minha mãe – disse antes de sair correndo novamente
- ele parece feliz
- todos estamos, a ajuda do projeto é essencial para nós, dizem que não há mais o sistema de castas, mas a diferença social é óbvia, a casta mais alta sequer nos ajuda, antes nem mesmo podíamos ir a escola, mas vocês nos ajudaram, somos gratos – ela sorriu – eu queria que você fosse feliz também, você sempre me diz que sou nova e tenho chance de fazer o que eu quiser, estudar e fazer a diferença no mundo, mas você também pode, o que você faz por nós é magico, mas e a sua vida? Tudo o que abandonou? Há algo que não terminou?
Sua faculdade lhe surgiu em mente no exato segundo que a garota pronunciou tais palavras. Ela imediatamente percebeu que havia sim coisas pendentes na vida de yeonjun, muitas coisas. Kali tinha um tipo de intuição poderosa, ela reconhecia pessoas machucadas como ela, desde a primeira vez que viu yeonjun ela notou os olhos de um garotinho machucado, foi assim que se afeiçoou a ele, as vezes os iguais não se repelem. Apenas o abraçou, como quem diz que tudo vai ficar bem.
Foi naquele abraço de conforto que yeonjun achou as respostas que precisava. Ainda naquele ano ele deixou a índia para voltar para Seul, foi com muito pesar no coração, pois não sabia como kali ficaria, mas ela assegurou que era uma menina grandinha e que sabia como lidar com as coisas.
Ele voltou e terminou a faculdade, morava em um apartamento com jinri. Quando se formou, conseguiu um bom emprego e pode ajudá-la a reformar a floricultura, isso atraiu novos clientes e se tornou um ciclo onde a vida de ambos melhorou. Eles tinham, então, a casa que sempre sonharam e era linda, não saia de sua mente como Kali amaria aquele lugar, a levaria ali assim que pudesse.
Nem tudo é um mar de rosas, a vida adulta traz problemas aos quais ele era obrigado a aturar.Não foi ao trabalho aquele dia, tirou um dia de folga por conta própria sem se importar com as consequências, estava cansado. Chegou na floricultura e se jogou em um sofá colorido que havia lá, jinri terminava de atender alguns clientes.
- muito obrigada pela preferência, tenham um ótimo dia – sorriu entregando dois vasos de flor bem embalados, logo vindo na direção do garoto – o que pensa que tá fazendo?
- pulando corda – ironizou
-então faz isso em outro lugar, vai espantar meus clientes com essa carranca
- mas eu vim aqui pra te ver – fez um biquinho
- ah, eu mereço – sentou-se ao lado do garoto – qual o problema?
- aquela chata da senhora Min, mulher irritante da porra, passa o dia me enchendo o saco, dá palpite no meu trabalho, se faz de santa o tempo todo e paga de vegana politicamente correta, mas usa roupa de lã e sapato vindo de trabalho infantil, aquela hipócrita – cruzou os braços
- não sei por que você ainda reclama, você sabe que tem outros escritórios te oferecendo emprego
- mas esses escritórios são ruins, defendem pessoas ruins, odeio esses caras, só me querem porque eu sou barraqueiro
- é mesmo, nunca vi igual, metade dos juízes tem medo de ti – exclamou se levantando – bom, eu vou aproveitar que está aqui e vou sair para fazer um chá, acabei de ganhar uns sachês de jasmim, vão ficar incríveis no meu chá, se alguém aparecer já sabe, não é?
- sim, ser simpático e indicar as flores que estão marcadas na prancheta, já sei – revirou os olhos vendo-a ir para os fundos – ridículo
Era cedo na manhã, não passavam das oito, até parece que alguém iria aparecer ali, certo? Errado. Estava escorado sobre o balcão com cara de tédio quando o sininho da porta soou, era uma cliente.
-bom dia, o que a senhorita deseja? – exclamou ajeitando a postura e a expressão
- eu gostaria de falar com choi yeonjun – a moça disse gentilmente – ele está?
- depende, quem é você?
- eu me chamo choi arin, sou uma representante da choi’stechnologye...
- não, eu não tô, digo, ele não está, não quer nada com essa empresa e tá morto há uns quatro anos –fechou a cara – mais alguma coisa?
- então é você, uau, soobin tirou uma sorte grande –ela o olhou de cima a baixo
Yeonjun não gostava de ouvir aquele nome, era altamente proibido naquele estabelecimento, inclusive a tecnologia pertencente a empresa em questão. Uma grande ferida aberta, uma dor de longa data, tampada com alguns band-aids baratos.
- não sei o que você quer, mas eu não estou à fim, agora se puder se retirar – apontou para a porta
- eu quero que me ouça, choi yeonjun
- uma pena, eu sou surdo mudo, não tenho como te ajudar – cruzou os braços dando as costas
- eu sei que não quer dinheiro, mas eu tenho algo que pode te interessar, um trabalho à favor do meio ambiente em escala global – exclamou para pudesse ouvir
- que interessante, me fala mais – ele voltou a atenção para a moça
- voltou a ouvir e falar? Não era surdo mudo?
- um milagre divino – fingiu chorar, arin abriu um sorriso, ele era realmente alguém especial
Ele a guiou até o sofá onde ela lhe mostrou toda a proposta, eles na verdade já tinham tudo pronto, mas precisavam do apoio de um engenheiro ambiental e um advogado com especialidade nessa área e seu escritório havia o indicado, segundo ela. Uma mentirinha boba não faz mal a ninguém.
- amanhã você vai ter uma reunião particular com o soobin e...
- sem chance, de jeito nenhum, nem que me paguem o dobro, nem que revivam a mata atlântica, nada disso compensa, prometi para mim mesmo nunca mais encarar esse idiota
- por favor, yeonjun, pelo meio ambiente
- minha saúde mental vale mais, não passei anos fazendo acompanhamento psicológico pra serem jogados no lixo, DE NOVO, então eu recuso, pode procurar outra pessoa, obrigada – se levantou
- não yeonjun, você precisa muito fazer isso
- existem outros bons advogados, passar bem – deu as costas para a moça, não importava o quanto ela o chamasse
- eu posso te deixar ver a ji-ah
- já vi várias, em todos os lugares, até na casa da minha avozinha, não quero que me subornem com tecnologia e robôs
- não, a ji-ah original, a que tem suas memórias, sua amiga, Ah Ji-Ah
O corpo de yeonjun travou, então soobin não havia desativado ela? Ela ainda existia... ele sentia tanta falta das conversas com ji-ah, de mostrar para ela a beleza do mundo externo, de ditar poemas famosos, de contar o significado das cores, de mostrar músicas e filmes. Yeonjun havia cuidado de ji-ah como se fosse uma criança. Precisava confessar que cuidou de Kali e de Akshaypensando em bot em ji-ah. Como será que ela estava? Qual era seu rosto? Ela tinha cabelo? Amigos? Sabia quem ele era? Ainda lembrava de si? Será que ela sentia sua falta?
- olha, eu posso te levar para vê-la hoje a tarde, tudo o que você precisa fazer é estar em uma reunião com o soobin hoje às onze, se fizer isso vai poder vê-la e nem vai precisar ficar conversando com ele, só com o resto da equipe, por favor yeonjun... – ela pediu – bom, não posso te forçar, se estiver interessado pode ir a empresa no horário indicado e procurar kim doyoung, até mais yeonjun, espero que possamos nos ver na empresa.
Pensava sobre aquilo seriamente, talvez valesse a pena.
Precisou pesar os prós e contras na balança, primeiro pró: veria ji-ah, contra: veria soobin também... segundo pró: poderia ajudar o meio ambiente, contra: seria na empresa que soobin deve ter construído com heejin... terceiro pró: traria visibilidade à importância de cuidar do planeta, contra:...bom, acabaram os contras, os prós venceram.
Mordia o lábio inferior nervoso pensando nisso, quando jinri voltou com duas xicaras de porcelana, eram bonitas, pareciam coisa de filme de princesa.
- olha isso yeonjun, meu chá ficou rosa – ela sorria tentando não derrubar o liquido – eu até coloquei uma florzinha de camomila pra decorar, olha que lindo, parece de conto de fadas e... – assim que desgrudou os olhos do conteúdo da xicara, ela percebeu o nervosismo de yeonjun – o que houve?
- é complicado...
- você expulsou meus clientes não foi? Choi yeonjun, se eu te desço a mão...
- não foi nada disso, senta aí e toma seu chá de boa
- me conta – disse se sentando
Yeonjun não tinha por que esconder de sua amiga, ela já sabia de tudo mesmo, na verdade, um concelho seria até bom. Depois de contar todo o ocorrido, jinri encarava o chão pensando sobre a situação.
- olha, você acha que essa situação vai te fazer mal?
- não sei...
- se você achar que compensa fazer isso pelo projeto e pela robô, então faça, mas se certifique que não haverá nem sombra de chances de você acabar se machucando de novo por causa dele – ela disse simplista – além do mais, você lembra que dia é hoje?
- eu sei exatamente que dia é hoje – se jogou no sofá onde ela estava sentada
- e você vai hoje?
- é claro que não, nunca mais eu quero fazer aquilo, não sei por que confiei nele, dei uma segunda chance, uma terceira, até uma quarta chance, mas ele não muda, ele só sabe me machucar – pôs a cabeça no colo da amiga, seus olhos já ameaçavam lacrimejar
O dia em questão se tratava do dia de visitação na penitenciaria Nambu, onde o pai de yeonjun havia sido preso. De fato, a agressão contra o filho lhe rendeu uns anos na cadeia, mas assim que ele saiu ele logo deu um jeito de se meter em bares e cassinos novamente, foi assim que arrumou confusão, que matou alguém. De volta à penitenciaria, yeonjun nem podia acreditar que seu pai havia voltado para lá. Quando descobriu, esperou o dia de visita e quis vê-lo, quis acreditar que ele havia mudado e que havia se arrependido de o machucar.
O que sentiu quando se sentou de frente para o pai, que usava aquela roupa feia e laranja, era avassalador, o homem não havia mudado, apenas envelhecido e ficado um pouco mais carrancudo. O homem sorriu para yeonjun e o garoto teve esperança por um segundo, queria muito acreditar que o homem não o odiava, que nunca o odiou, que ele sempre foi suficiente e que antes ele só estava fora de si. Recriava o cenário de seu pai se desculpando para si em sua mente, rezando aos céus para que se tornasse real.
- vejo que pintou o cabelo... de rosa – ele riu soprado
- como o senhor está, pai?– perguntou contornando o assunto
- preso, oras, como mais poderia estar?
- eu quero saber se está comendo, se está se metendo em encrencas...
- eu estou bem, já estive preso antes, não se lembra? Foi você quem fez aquilo comigo – exclamou amargurado
- me desculpa, eu estava com medo
- de quê? De encarar a realidade? De sofrer com as consequências de seus atos? Se eu te bati foi porque você era um moleque malcriado, não fazia nada direito e ainda andava por aí como uma bichinha
- o quê? – seus olhos se arregalaram, como se pudessem o afogar em lagrimas a qualquer segundo
- você sabe que eu estou certo–disse firme – me diga, já se casou? Tem uma namorada? Um trabalho?
- eu não tenho uma namorada, muito menos esposa, eu trabalho em uma instituição para pessoas que precisam de ajuda em lugares pobres do planeta, em lugares como regiões de condições mais precárias da África e da Asia
- vocêé voluntario e chama isso de trabalho? – apertou os olhos
- isso é muito além de um trabalho, é uma forma de ajudar quem precisa, de fazer bem as pessoas e ao planeta
- eu devo ter jogado pedra na cruz para merecer ouvir isso do meu filho, não acha que já nos deu desgosto o suficiente? Sua mãe iria se envergonhar de te ver assim, uma marica de cabelo rosa que sai por aí dando pão pra pobre, toma jeito moleque!Você nunca vai ser um homem de família? Nunca vai trazer orgulho para mim? Nunca vai ser o suficiente.
Ouvir aquelas palavras doeu bem no fundo de yeonjun, que nem sequer se lembrava mais como respirar funcionava, era como se seu pai houvesse o dado um soco a cada palavra, um chute a cada silaba, um tapa a cada letra.
Tudo passa, mas o medo, a vontade de ser reconhecido por ser pai, sua autocobrança, o sentimento de fracasso, isso insistia em ficar. Porém, tudo o que passa nos ensina algo e o tempo ensinou para yeonjun que ele jamais deveria abaixar a cabeça, que quando a vida o chamasse de insuficiente, então era exatamente naquela hora que ele deveria agir, mostrar quem manda em si.
- escuta aqui – se levantou espalmando ambas as mãos na mesa de frente para si, tinha seu rosto perto o suficiente do vidro, de forma que embaçasse com sua respiração, o homem se assustou com o movimento – eu não tenho vergonha nenhuma de ser quem sou, eu me escondi por muito tempo e não vou continuar fazendo isso porque um velho troglodita está se doendo
- olhe como fala comigo!
- olhe você como fala comigo! Sabe por quê? Porque eu ajudo pessoas e você as machuca, porque eu as faço sorrir e você as faz chorar, eu sou um advogado bem sucedido e você é um velho amargurado, porque eu sempre dei o meu melhor e tudo o que você sempre soube fazer foi encher o saco e ser violento, porque eu me amo agora, assim mesmo, sendo uma marica, um gay, uma bichinha, um boiola, chame como quiser, eu me amo assim e você não pode fazer nada a respeito, porque eu estou livre e você está aí, preso, e se depender de mim você vai mofar aí dentro, então espero que não aproveite em nada sua longa estadia, espero que não morra, que viva bastante para contar seus longos dias aí dentro, até nunca mais – deu as costas ouvindo o homem gritar e bater no vidro, o xingar e dizer o quanto sentia vergonha de o ter como filho – velho escroto... – rangeu os dentes
Com a cabeça no colo de jinri ele repensava nisso, foi forte naquele dia, mas não podia dizer que não o afetou, no mesmo dia ele cortou o cabelo e o tingiu de preto, tirou boa parte dos piercings do rosto e o esmalte das unhas, passou um tempão só andando de roupas longas que tampassem suas tatuagens de orgulho.
Foi uma ferida muito profunda, demorou cerca de 2 meses para ele voltar a ser ele mesmo, mas manteve o cabelo escuro, no fundo, sentia que estava de luto, sua pazhavia morrido.
- eu dei uma segunda chance para o meu pai e saí machucado, se eu der essa chance para o soobin, é bem provável que eu me machuque
- você compara demais o soobin com seu pai, esse é o problema, o soobin pode ter te machucado, mas nunca levantou a mão para você, nunca te xingou, nunca passou dos limites e sinceramente eu acho que você errou ao não conversar com ele, você nem sabe o lado dele da historia
- e é preciso?
- o ponto é – ela rolou os olhos sem querer perder a paciência – você só vai ver ele na reunião, depois disso é só paz, amor, ji-ah e meio ambiente feliz, tenta dar uma chance, senão isso pode se tornar mais uma barreira em sua vida, as coisas só vão passar se você parar de evita-las, yeonjun.
Ela estava certa, quanto mais ele evitasse esse momento, mais ele se machucaria ao passar dos anos, era hora de seguir em frente e encarar seus traumas.
Por isso, deu um abraço em jinri e saiu para se arrumar apressado, afinal, a empresa ficava longe e faltavam apenas algumas horas. Pegou suas coisas e correu até um ponto de ônibus, ouvindo aquela playlist indie que lhe fazia bem, “Young as Cobain” era o nome da playlist em questão, precisava confessar que as vezes se lembrava de soobin quando ouvia ela.
Ao chegar na empresa ele tentou encontrar o tal kim doyoung que o ajudaria. Não sabia como achá-lo e nem onde procurar, estava perdido. A voz estressada de alguém lhe chamou a atenção.
- não, sua anta quadrada, eu não posso esperar mais trinta minutinhos, se eu pedi para as dez e meia, então era para estar as dez e meia, NÃO AS ONZE – gritou com alguém no fone
Yeonjun tentou se aproximar dele, que ainda gritava com o pequeno aparelho no ouvido. O viu ir atras de um homem que carregava um grande vazo com um tipo de samambaia de plástico dentro.
- ei! Jumento de duas patas! Eu não disse que deveria ficar naquele espaço ali? Será que eu tenho que fazer tudo por aqui? – rolou os olhos derrotado
- com licença – o choi lhe deu um toque no ombro, o homem virou-se para si
- quem é você? O estagiário? Já disse que não quero trabalhar com adolescente, vai para a secretaria e fala com a dahyun– deu de ombros
- não, na verdade eu queria...
- espere um segundo! – estendeu a mão em sinal de pare, pondo a outra sobre o fone – sim, senhora lee, eu preciso para hoje às 13:45... não, não pode ser as duas, também não pode ser as 13:30, se eu disse três horas e quarenta e cinco minutos então é isso, ah pelo amor né, eu vou deixar os convidados do senhor choi com fome? Se vira – desligou a ligação bufando – o que você ainda tá fazendo aqui?
- eu sou o advogado que a empresa convidou para uma reunião particular com choi soobin hoje – disse sério, já sem paciência
A expressão de doyoung foi um arraso, como se tivesse cometido um erro e chamado o presidente de idiota. O olhou de cima a baixo por alguns segundos, a culpa não era totalmente dele, yeonjun se vestia como um tipo de guitarrista de faculdade, aparentava ser bem mais novo do que era. Outra coisa que não havia passado.
Se desculpou brevemente avisando que informaria assim que soobin chegasse, o indicou algumas poltronas para que pudesse esperar.
Yeonjun estava nervoso, mordia o piercing no lábio, brincava com os anéis nas mãos, mordia o esmalte e brincava com os múltiplos adereços da calça, mas nada o acalmava.
Alguns minutos, que pareceram ser horas, depois, doyoung o chamou para irem à sala de soobin para a reunião. No elevador, as mãos de yeonjun suavam, ele as limpava na calça incansavelmente, tentava controlar a respiração para não passar uma má impressão, não queria acabar começando a chorar e saindo correndo.
Cada passo o fazia querer voltar atras, será que tudo aquilo valia a pena? Soobin fazia a dor valer a pena? Anos atras ele havia chegado à conclusão de que não, por que agora seria diferente?
Entrou na sala nervoso, soobin estava de costas, mas ele conhecia bem a silhueta do garoto que tanto amou, o terno caia bem nele, mesmo que não estivesse acostumado a vê-lo assim.
Por um segundo sua imaginação voou, se ele tivesse conseguido terminar a faculdade enquanto ainda estava com soobin, então ele teria o levado para seu baile de formatura, onde ambos de terno, dançariam aquela música no centro do salão, ele com as mãos em seus ombros, soobin o segurando pela cintura, um terno branco ficaria bonito em si, era o que imaginava, mas já sabia que o terno preto combinava com o choi. Sorririam um para o outro de forma boba, sabendo que se pertenciam de forma genuína, que seus corações batiam em compasso, no mesmo ritmo daquela música que soava tão bem. Olhando naqueles olhos ele veria sua felicidade projetada, naquela vastidão de mistérios que ele sempre quis explorar, queria mergulhar naqueles olhos escuros como o mais profundo e perigosos dos mares, se tornar naufrago, sozinho e inconsolável, sendo abraçado pelas águas. Ele queria tanto que soobin pertencesse a si como ele o pertencia. Chacoalhou a cabeça para os lados espantando a imaginação fértil que dava frutos.
Assim que soobin se virou para si, abrindo um sorriso amigável e lhe estendendo a mão, perdeu o chão. Todos os sentimentos que segurou esses anos explodiram em si em um misto de sensações, pode sentir como se todo um novo leque de cores se abrisse diante de seus olhos, como se a vida só pudesse ser colorida na presença do mais novo, talvez ele houvesse fechado os olhos para a realidade, mas soobin sempre os abria.
Fazia tempo eu não sentia as bochechas queimarem, sinceramente sentia falta disso, procurou em todos os lugares, mas não achou, não achou nada parecido com o que sentiu nos meses com soobin, procurou em cada cantinho da Ásia, na África, até em partes da Europa, mas nada se comparava aquilo.
Nem tudo passa, algumas dores e feridas nunca se cicatrizam de verdade e podem sempre infeccionar, o lembrando de que ela está ali. Não há certeza na vida. Não há verdade absoluta, não há tempo, mas assim podemos falar sobre o espaço, que entre o tudo que eu senti e o nada que faltou, há um campo inteiro de dentes-de-leão, que sopram longe minha vontade de te chamar de minha, assim eu digo que entre o 0 e o 1, há uma infinidade, que faz o espeço entre nós parecer maior, mas a cada centímetro mais próximo, as batidas do meu coração aceleram como um caça níqueis, talvez você seja meu tesouro. Esse sentimento esteve comigo toda a minha vida e mesmo que eu tentasse ignorar eu sempre voltava rastejando para você, muito ocupada sendo sua para amar alguém a mais. Quase tudo passa, mas é incrível como algumas coisas insistem em ficar.Eai, gostaram desse capítulo?
Podem me dar feedbacks e fazer comentários sobre a fic na minha conta do Twitter a @ddunoocheeks
Até o próximo cap pessoal ;)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Technical Feelings
General FictionChoi Soobin era um jovem ambicioso que almejava criar o primeiro androide de inteligência artificial capaz de desenvolver sentimentos e identificar emoções. Para isso, ele precisava da ajuda de Choi Yeonjun, o guitarrista e compositor de uma banda a...