Lutar ou morrer

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Os punhos de Naruto cerraram com firmeza, os tendões de seus braços ressaltaram conforme as algemas de ferro envolviam seus pulsos. Ele seguiu com o olhar o homem forte e alto prendê-lo de encontro à corrente que se estendia a outro escravo. As veias de seu pescoço saltaram e o sangue parecia ferver em suas veias. Atreveu olhar para o quadril do sujeito, tendo a brilhante loucura de tomar-lhe a espada que ali jazia, mas antes que pudesse pôr seus planos em ação, o murmúrio ao seu lado chamou-lhe atenção.
— Péssima escolha. — disse o sujeito de cabelos estranhamente espetados no topo da cabeça. — Se pretende ter o corpo estendido pelo caminho a Britânia, vá em frente e tente desarmá-lo.
Naruto olhou-o pelo canto do olho antes de virar o rosto na direção do desconhecido.
— Você não sabe nada sobre mim.
— Tem razão. Mas sei muito sobre mercadores de escravos e o que são capazes de fazer. — Shikamaru retrucou com um tom de voz baixo.
Um movimento brusco forçou-os a andar e a encerrar o assunto.
Naruto foi obrigado a obedecer, ao menos por enquanto faria o que estava diante de suas possibilidades. Tinha tanta raiva que era capaz de meter os pés pelas mãos, aquele estranho tinha razão e nunca perdeu o bom senso quando se tratava de uma derrota. O melhor seria esperar e encontrar oportunidades para escapar.
Eles caminharam pelo percurso íngreme que se abria entre os campos, obrigados a fazer uma caminhada sem pausas. Percorreram pelas montanhas, arvoredos, desceram morro e quase foram afogados quando os mercadores decidiram atravessar o rio.
Como animais, presos uns aos outros em fila, os escravos precisaram usar todas suas forças para manter-se equilibrados contra a correnteza. Os cavalos que seguiam adiante eram orientados a não parar, tornando a travessia ainda mais perigosa. Um dos escravos escorregou nos pedregulhos encontrados no meio do rio e quase levou-os todos rio abaixo. Se não fosse a força dos outros em manter-se alinhados, aqueles sujeitos que se sentiam no direito de apanhar vidas e escravizá-las, teriam perdido toda sua "mercadoria".
Naruto sentiu o ferro das algemas esfolar-lhe a pele com os movimentos bruscos que fora preciso fazer para salvar-lhe a vida e a dos outros. Quando finalmente atravessaram o rio, os mercadores pararam na margem, mudando o responsável por quase matar todos afogados e mantendo-o dentro da gaiola humana na carroça.
Continuaram o percurso até o sol se esconder e acamparem.
O fogo da fogueira crepitava incandescente, Naruto perdeu o olhar diante as chamas, lamentava por seu trágico destino, se sentia exausto e cansado à medida que se via longe de seu objetivo.
Uma sombra parou a sua frente subitamente. Ele teve que olhar para o homem mal encarado que lhe entregou uma cuia com má vontade. Naruto precisou segurar a tempo o objeto antes que o grude que ali se encontrava voasse em seu rosto.
Ele olhou para o conteúdo homogêneo, espesso e com características nada agradáveis.
— Vai aprender a gostar quando não lhe restarem escolhas.
O mesmo sujeito de cabelos estranhamente desgrenhados no topo da cabeça sentou-se ao seu lado, como se fosse bem-vindo.
— É o conselheiro da caravana? — Naruto perguntou, ácido e sarcástico. Remexeu a colher de madeira contra a "comida", e franziu o cenho ao sentir a consistência estranha.
O outro riu.
— Não me classificaria como conselheiro, mas acho que não há tanta diferença com o que desempenho no grupo.
Naruto o olhou com uma expressão indignada.
— Você é um deles? Ajuda a escravizar pessoas?
— Sou um escravo. — Shikamaru respondeu com seriedade, antes de desviar os olhos para as chamas. — Faz muito tempo que venho desempenhando o papel de treinar os novatos que são capturados.
— E você aceitou a função com muita benevolência, acredito. — Naruto continuou, irônico e aborrecido.
— Não tive escolha. — disse Shikamaru os olhos voltando a Naruto. — Não tinha planos em tornar-me escravo, mas quando me vi diante das possibilidades escassas tentei transformar aquilo que foi me dado com aptidão. Era isso ou não estaria vivo para tentar... — Ele calou-se por um instante, antes de sorrir amargurado e continuar. — Encontrar uma saída.
Naruto assentiu. Seus olhos azuis cravaram-se sobre o homem ao seu lado. Havia uma história longa e trágica nos olhos dele, os mesmo que ele mesmo guardava dentro de si. Não. Refletiu. Todos os ali se encontravam tão desalentados que pareciam capazes de entrar na fogueira e acabar com a própria existência a qualquer momento.
Sentindo-se egoísta e idiota, Naruto apaziguou a raiva e tentou ser mais complacente.
— Faz quanto?
— Quatro anos.
— Quatro anos?! — Naruto exclamou pasmo. Se dando conta que chamou a atenção da maioria que se encontrava ao redor da fogueira, tratou de conter o tom de voz e de tentar engolir ou fingir que estava comendo. — Quatros anos e ainda não conseguiu encontrar uma forma de fugir?
— Não há tantas possibilidades se você tiver notado. Além do mais, desempenho um cargo importante. E isso pode facilitar meus planos.
— E como seria? Acha que o mercador deixará sair por leis e espontânea vontade?
— Tenho lhe dado bastante lucro. Sou o melhor entre todos os escravos e por isso ganhei o direito de treiná-los antes de entrar na arena. Além do mais, ganhei a confiança do comerciante. Eu serei um homem livre.
Ele já vira muitos homens tolos na vida, mas não um que acreditasse que seu maior inimigo lhe daria o direito da liberdade, quando foi responsável por prendê-lo.
— Acredita mesmo nisso?
— Sim. Ele vem tentando obter a minha liberdade, mas para o meu azar, ironicamente, os nobres gostam de um belo espetáculos. E não há muitos escravos que venham desempenhar tão bem nas arenas como faço.
Naruto soltou um suspiro de pouco caso. Aquele homem parecia mesmo acreditar nas palavras de seu "dono". Como se devesse importar com isso.
— Como se chama?
Ele ouviu a voz pertinente do outro lado.
Naruto já ia respondê-lo, quando lembrou-se do totem. Desesperado, apalpou o envoltório e não o sentiu dentro da borda da túnica. Seu coração gelou, então se deu conta que o totem estava envolta de seu pescoço, em um amarrilho.
Pousou a mão contra a figura do dragão de marfim e relaxou os músculos, no mesmo instante seus olhos se desprenderam do fogo e subiu aos céus. As estrelas apareceram. Havia passado muito tempo que não as viria. O local escolhido por ele e Iruka costumava tornar as noites sombrias e mal iluminadas. Agora sob o céu cheio de estrelas, Naruto decidiu que deveria manter-se distante da sua originalidade se quisesse viver.
— Draco. — Naruto falou ainda olhando o céu e identificando no exato momento as estrelas com formato de dragão. Voltou a olhar para o outro e afirmou: — Chamo-me Draco.
Naquele momento, a expressão do sujeito era de comiseração, de alguém que procurava incutir confiança.
— Shikamaru. — falou. — Acho que nos daremos bem, novato.
— Você acha, é? — Naruto zombou, tratando de preencher o estômago se quisesse manter-se forte.
— Tentarei ser gentil em seu primeiro treinamento. — Shikamaru inquiriu com sarcasmo.
— Não pretendo lutar. — Naruto afirmou, dedicando a comer o grude, engolindo sem fazer esforço para mastigar ou sentir o gosto.
— Você vai lutar. — Shikamaru rebateu.
Em silêncio, Naruto continuou no que parecia enfrentar seu primeiro desafio, terminar a refeição sem ser engasgado.
Shikamaru ficou encarando-o à espera da resposta, parecia preocupado. Ele tinha visto homens que haviam recusado seguir seu destino naquele mundo de escravos lutadores e acabaram mortos no campo de batalha.

O gladiador de PompéiaOnde histórias criam vida. Descubra agora