Penúltimo

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Ele suspendeu a mão. Escorria sangue pelas desferidas, onde as correntes esfolavam sua pele. O odor acobreado de sangue e inebriado misturavam-se à carne dos guerreiros mortos.

O sangue do seu amigo se misturou aos dos soldados, impregnando o solo arenoso. Ele memorizou mais uma vez a expressão conformada e tranquila no rosto de Shikadai. O brilho repentino na lâmina não o intimidou no momento mais obscuro, ao invés disso, apenas esperou que seu destino fosse selado com a empunhadura do inimigo.

A angústia inundou sua consciência quando Boruto se deu conta do que havia feito.

Ele lamentou e odiou ainda mais o responsável pela armadilha traiçoeira. Obito Uchiha.

A raiva rompeu dentro de si quando percebeu que um dos soldados se aproximava com a espada empunho, decerto para lhe cortar a cabeça.

As mãos de Boruto varreram rumo às correntes. Apertou os punhos com firmeza e com força descomunal ao puxar o aço que sustentava os antebraços. As correntes permaneceram intactas, enroladas sobre seu braço, quando rodopiou e golpeou os soldados que o mantinha preso.

Ele ergueu uma perna, enquanto a outra inutilizada pela flecha apoiou-se incerta no chão. Mesmo assim, Boruto não se fez de rogado, tirou as correntes e enlaçou o pescoço do terceiro soldado. Puxou-o e o estrangulou até a morte.

Os outros gritaram e correram ao auxílio dos demais.

Puxou e girou mais uma vez atingindo seus inimigos, retorcendo seu rosto em sinal de puro desprezo. Os berros de agonia dos adversários era música para os seus ouvidos. Louco, sem fazer distinção, lutou, gritou em agonia e raiva desenfreada em seus golpes e ataques.

Boruto soltou um grito gutural quando um dos soldados o atingiu no local calejado, sua panturrilha. Se desdobrou em dois e caiu de joelhos mais uma vez no chão, tentou se erguer, mas três soldados o imobilizaram novamente antes de chutá-lo no rosto.

Ele desabou e manteve as mãos contra o solo, mas segundos depois um chute o fez cair de costas no chão. Uma sombra enorme de um dos soldados refletiu à sua frente.

Um homem portava uma lança e estava prestes a desferir o golpe, quando o sangue fresco, saído de sua boca e do corte grotesco aberto na altura do estômago fez estagnar.

Boruto observou a ponta da espada atravessar o sujeito e em seguida erguer-se, parando abaixo do pescoço. O soldado caiu ao lado e a figura familiar surgiu em seu campo de visão.

Ainda embevecido pelo cansaço mental e físico, Boruto virou o rosto, observando Naruto matar todos os soldados encontrados na arena. Desmembrando, estripando e decapitando.

O centro de batalha tornou-se sufocante com o odor de sangue.

Quando o nevoeiro estava prestes a dominá-lo, Boruto tentou se erguer e viu seu pai aproximar-se com uma expressão obscura nos olhos azuis.

— Comprando a luta do seu filho? — Boruto perguntou sarcástico, embora sentisse seu corpo querer desabar a qualquer momento.

— Não poderia ficar parado vendo lutar e estar prestes a ser morto pelos soldados.

Boruto deu de ombros e ergueu os olhos para a arquibancada.

Ele retalhou Obito com o olhar.

A expressão do rosto não mudou quando os olhos de desespero de sua mãe também correram em sua direção.

Voltando o rosto ao pai, Boruto olhou-o sobre os ombros e encontrou mais uma vez o corpo do amigo no chão.

Mancando aproximou-se do corpo de Shikadai. Seus olhos se detiveram na cabeça decapitada. Engolindo a seco, agachou e a pegou, não teve coragem de sustentar o olhar mórbido do amigo, apenas fechou os olhos e segurou firme nos braços, antes de rodar os calcanhares e rumar para longe da arena.

O gladiador de PompéiaOnde histórias criam vida. Descubra agora