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Hermione olhou perplexa para o quadrado de papel que segurava.

Ela franziu as sobrancelhas enquanto o dobrava ao meio e então parou, sentindo-se perdida.

Ela não conseguia se lembrar de como dobrar um Tsuru de origami.

Ela dobrou mais de mil deles. Grandes e pequenos. Dia após dia. Ela tinha lembranças distintas de dobrá-los.

Mas de alguma maneira...

Ela não conseguia mais se lembrar de como fazer isso. Ela continuava tentando, todas as manhãs depois de ler o jornal, mas de alguma forma ela não conseguia mais descobrir como fazê-los.

Ela não conseguia se lembrar da ordem das dobras. Foi uma dobra diagonal primeiro? Talvez ela devesse dobrá-lo ao meio e depois novamente? Ela tentou dos dois lados.

Ela não conseguia se lembrar. O conhecimento havia desaparecido.

Ela não tinha nenhum de seus guindastes dobrados anteriormente para examinar a fim de fazer engenharia reversa do processo. Os elfos sempre baniam todos eles no final do dia.

Hermione suspirou para si mesma e deixou o papel de lado.

Deve ter sido perdido durante a convulsão. Talvez tenha havido danos cerebrais.

A memória – o conhecimento – desapareceu de onde quer que ela o guardasse. Como se nunca tivesse existido. Exceto que ela sabia que sim. Ela se lembrou claramente de ser capaz de dobrá-los.

Não importa.

Ela nem sabia por que dobrava Tsurus. Ela não conseguia se lembrar de quando aprendeu isso. Talvez na escola primária...

Ela vestiu a capa e saiu.

A propriedade era sombria e lamacenta. O inverno dava seus últimos suspiros antes da primavera. As janelas ficavam ocasionalmente tingidas de geada pela manhã, mas os dias esquentavam e chovia torrencialmente durante dias seguidos.

A chuva caía apenas levemente, então Hermione se aventurou.

Ela havia chegado ao ponto de poder atravessar a maior parte dos jardins que cercavam a mansão; desde que não estivesse muito aberto. Espaços abertos com os quais ela ainda não conseguia lidar.

Quando ocasionalmente tentava forçar-se a passar pelas sebes e entrar nas colinas abertas e onduladas, sentia como se alguém a estivesse dissecando; arrancando os nervos do corpo e expondo-os ao frio e ao vento. Sua mente simplesmente se fechava e a deixava sozinha em um estado de terror absoluto.

Ela não conseguia... não conseguia.

Ela se perguntou se algum dia seria capaz de lidar com isso. Se algum dia ela se recuperaria da agorafobia. O medo parecia ter se enraizado profundamente, enroscando-se dentro dela e através dela; do cérebro até a garganta, envolvendo seus pulmões e órgãos como uma videira invasiva; esperando para estrangulá-la até a morte.

Nos dias em que não chovia, Hermione passava a maior parte do tempo vagando pela propriedade. Ela voltava para dentro coberta de lama e não tinha escolha a não ser arrastá-la para dentro e pelos corredores. Os lares bruxos não tinham tradição de manter tapetes de porta ou raspadores de botas, quando uma rápida limpeza poderia banir a maior parte da lama. Hermione murmurava desculpas internas aos elfos domésticos todos os dias.

Seus dias haviam mergulhado numa espécie de temida monotonia.

Ela acordou e tomou café da manhã. Ela leu o jornal repetidamente. Ela tinha dobrado o origami. Ela almoçou. Quando não estava chovendo lá fora, ela explorou a propriedade por horas e horas. Se a chuva fosse muito forte, ela saía apenas por alguns instantes e depois se exercitava em seu quarto até estar prestes a desmaiar. Ela tomou banho. Ela explorou a mansão. Ela jantou. Às vezes Malfoy vinha e fazia legilimência com ela. Às vezes ele vinha e a fodia indiferentemente sobre uma mesa. Ela foi para a cama. Ela acordou e repetiu a rotina.

Manacled | DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora