Prólogo

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Treze anos antes.

O pequeno Louis William sabia que tudo estava acabado quando foi tirado de sua cama no meio da noite pelas mãos trêmulas de sua mãe. Ele soube que algo estava errado antes de ouvir os cavalos e sentir o cheiro de fogo. Johannah o puxava desesperadamente pela mão, Charlotte era apenas um monte de panos nos braços da mãe, apenas com os pézinhos aparecendo, nova demais para correr. No meio do caos Louis mal teve tempo de se perguntar onde estava o pai e a recém nascida Félicité.

A aldeia que antes costumava ser tão bonita agora era um cenário aterrorizante aos olhos do menino de apenas sete anos. Casas e carroças estavam em chamas, pessoas corriam e gritavam, ouviu o choro de bebês e mulheres implorando por algo, ouviu cães latindo e então viu os cavalos. Enormes garanhões montados por cavaleiros de armadura dourada. Os humanos não usavam ouro, não quando ele era destinado aos feéricos que se queimavam ao tocar o ferro, aqueles eram cavaleiros do rei feérico.

Ele viu algumas crianças com quem brincava correndo dispersas, quis gritar para que se escondessem mas a voz não saiu, viu pessoas de pijamas fugindo de casas em chamas, viu o templo da praça sendo destruído, os tesouros e lindas estátuas sendo despedaçados como se não fossem nada. Louis torceu para que não encontrassem a biblioteca, ele ainda não sabia ler, mas aquele lugar fazia os olhinhos azuis brilharem como joias pensando nas milhares de histórias que haviam por ali, ele não queria, não podia perder aquilo.

E então viu o líder da aldeia ajoelhado aos pés do templo, o velho senhor que costumava reunir as crianças em torno da fogueira para passar ensinamento, o idoso favorito de Louis, avô do menino. Era segurado por dois homens de pele brilhante e orelhas pontudas que sorriam diabolicamente. O senhor ergueu os olhos para o céu, talvez uma oração para a deusa, talvez estivesse pedindo por todos ali, Louis nunca saberia. Na velocidade de um raio a cabeça do homem bateu seco no chão, os olhos ainda abertos em prece. O menino fechou os olhos.

Se fosse perguntado, nenhuma outra pessoa saberia responder como Johannah e as crianças passaram despercebidos no meio daquilo tudo. Os cavaleiros feéricos com suas espadas brilhantes de prata banhada em sangue atingindo qualquer um em seu caminho. Louis corria de olhos fechados com medo apenas dos sons, a mão da mãe segurando a sua firme como ferro. Finalmente chegaram ao bosque que conhecia como a palma da própria mão, torcendo para que lá as crianças pudessem ficar em segurança, nem o mais arrogante dos cavaleiros ousaria provocar os espíritos do bosque que viviam em paz com os humanos há milênios.

E eles correram por entre as árvores até o menino sentir os pulmões falharem, até chegar em uma gruta que era abrigo dos caçadores e somente os da aldeia conheciam. Havia uma lenda que dizia que a gruta sempre protegeria aqueles de coração puro e objetivos nobres, humano, feérico ou feiticeiro. Agora a mulher rezava para que a lenda fosse verdadeira e mantivesse suas crianças seguras. Louis foi empurrado para um canto escuro no fundo da gruta e Charlotte foi empurrada para seu colo.

_ Louis olhe para mim - Ela levantou o queixo do menino, forçando-o a olhar - Eu preciso procurar seu pai e Félicité, não saia dessa gruta por nada no mundo, está entendendo?

Ele acenou com a cabeça, sem coragem de falar.

_ Cuida da sua irmã, mamãe ama vocês independente do que acontecer - Ela beijou a testa dos filhos - Se eu não voltar até o anoitecer, pega sua irmã e siga a estrela sul, os espíritos vão levar vocês a um lugar seguro.

_ Mamãe, eu estou com medo.

_ Eu sei, querido, mas você é um guerreiro agora, se lembra o que papai diz sobre guerreiros?

_ Eles são fortes porque tiram força do medo que sentem. - Falou baixinho.

_ Isso mesmo, nunca se esqueça disso - Ela abraçou os filhos - Mamãe e papai amam vocês.

Midnight Prince || L.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora