Capítulo dezenove

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Uma hora depois, sentado à mesa real enquanto os criados serviam o jantar, Louis ainda não tinha superado o que viu no fundo da caixa.

Toda vez que se distraía ou fechava os olhos via a si próprio sentado no trono, via a coroa repousando em sua própria cabeça e a figura esguia de Harry em seu colo.

Ele queria voltar, queria cobrir toda a distância a pé, queria chegar em casa e colocar aqueles desenhos debaixo do nariz do feérico enquanto exigia uma explicação. Mesmo que Harry lhe contasse que era um espião, que ele dissesse que nunca viu aquilo na vida, que toda aquela situação não passava de uma armação para fazer Louis de bobo.

Qualquer coisa que Harry inventasse seria melhor do que a explicação que rondava na mente do humano.

Podia sentir o olhar de sua família sobre si enquanto se servia de uma porção de batatas que fez questão de salgar mais do que devia. Zayn parecia querer pular em seu pescoço por demonstrar que algo estava errado, mas Simon parecia não ter percebido nada e Mark estava fazendo questão de distraí-lo.

Sabia da fama que tinha, sabia que deveria agir como um guerreiro, estar sempre atento e manter a postura, mas ele estava cansado. Cansado de se sentar a mesa com o inimigo e estar em constante perigo, cansado de lutar, pensar, calcular e planejar.

Ele queria querer voltar a sua vida de antes da coroação, mas aí seria uma vida sem Harry e visto desse ponto parecia tão sem graça. Ele não queria deixar de ter Harry, mas queria que tivessem se conhecido de uma forma mais tradicional. Queria que não fossem uma história sem final.

Sem final porque Styles seria rei e Louis morreria, e um deles magoaria o outro independente do que acontecesse. Harry poderia aceitar a coroa e fingir que eles nunca acontecerem, Louis poderia declarar amor e viver com Styles até que sua pele enrugasse e seus ossos não aguentassem mais sustentá-lo enquanto o feérico seria eternamente jovem e cheio de vida.

Ou os dois poderiam morrer naquela guerra após lutarem por nada. Tudo poderia acontecer e aquilo deixava o humano confuso. Deveria se entregar de corpo e alma para depois ser quebrado em mil pedaços, ou deveria se segurar e perder sua única chance?

Ele sabia que não era a hora certa, mas sua cabeça doía e seu peito pesava. Segurou a faca com mais força que o necessário enquanto cortava a carne de cordeiro e assistia Simon discursar sobre qualquer que fosse a idiotice que pensava. Ele poderia se imaginar atravessando o pescoço do demônio com o talher de prata.

_ Hm...Louis? - Percebeu que todos os olhares estavam sobre ele.

_ Sim?

_ Está tudo bem? - Simon perguntou com ar curioso.

_ Está sim - Endireitou a postura - Perdoe-me, nunca passei tanto tempo perto de magia feérica, principalmente o próprio castelo - Inventou uma desculpa - Mesmo que o tempo tenha passado, acho que ainda está me fazendo mal.

_ Malditos fossem - Simon exclamou, agraciado pelas palavras do jovem - Mesmo depois de mortos são como veneno sobre a terra.

Louis apertou os dedos ao redor da faca com força o suficiente para marcá-los, mas se limitou a sorrir como se concordasse. 

_ Será um grande avanço para nós sem o peso deles cobrindo o reino - Conseguiu se forçar a dizer, estendendo a taça de vinho para do demônio - Estarei feliz em fazer parte dessa nova era.

"Uma nova era em que você não exista" completou em sua cabeça.

Um brilho cruzou o olhar de Cowell, como se ele estivesse esperando ouvir aquelas palavras o dia todo. Era óbvio o que tinha ouvido sobre Louis, sobre como se deixou ser torturado e como tirou sua família daquele porão. Tinha visto as baixas que o rapaz lhe causou e a forma como lutara para "proteger seu povo".

Midnight Prince || L.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora