Capítulo 35

148 17 23
                                    

Juliette mancou pelo escritório. Apesar de sua muleta, ela conseguiu se esquivar habilmente das várias secretárias que tentaram impedi-la de seu objetivo.

Ela abriu a porta do grande escritório e marchou para dentro.

"Juliette!" Arcrebiano ergueu os olhos e sorriu para ela. "Desculpe a bagunça." Ele indicou algumas caixas de arquivo descompactadas. "Só estamos abertos há uma semana. Ainda encontrando lares para tudo."

"Arcrebiano," Juliette cumprimentou com firmeza. "Nós precisamos conversar."

Ela não estava interessada em sutilezas falsas. Arcrebiano olhou para a muleta de Juliette com o cenho franzido. "Aconteceu alguma coisa?"

"Tenho certeza de que você já sabe que, infelizmente, me envolvi em um acidente de avião, mas não é por isso que estou aqui."

Ela se virou para ver uma das secretárias parada na porta, aguardando orientação. Juliette puxou a cadeira em frente à mesa de Arcrebiano, sentou-se e esperou em silêncio.

"Está tudo bem, Tina," Arcrebiano dispensou a jovem e deu a volta em sua mesa para se sentar. Ele olhou para Juliette novamente e apontou para a testa dela. "Um hematoma desagradável que você tem aí."

"Nada comparado com a faca nas minhas costas." Ela estava farta de rodeios.

Fingir não era coisa dela nos melhores momentos, mas agora ela precisava desesperadamente chegar aos fatos da questão. Arcrebiano deu uma risada.

"Então..."

"Eu entendo que você me odeia. Você sempre odiou. Mesmo eu não poderia deixar isso passar despercebido. Mas você está mesmo tão disposto a destruir o negócio que ajudou a construir? Você vai deixar centenas de pessoas sem trabalho. Você vai—"

"Não estarei fazendo nada disso." Arcrebiano se inclinou para frente e entrelaçou os dedos na mesa. "Há um lugar para todos, bem aqui."

"Todos da sua turma," Juliette apontou com um aceno de cabeça em direção ao escritório principal.

Ela os viu assim que entrou: os traidores óbvios, os caçadores de oportunidades e o estranho desertor surpresa. A maioria tinha desviado o olhar dela, ocupando-se com telefonemas ou e-mails repentinos.

"Oh, você viu a nova equipe de finanças corporativas?" Arcrebiano falou lentamente.

"Você quer dizer minha equipe de finanças corporativas?" Perguntou Juliette. "Aquela que passamos anos aperfeiçoando - promoções internas, treinamento, headhunting, estágios. Por que você está fazendo isso?"

Juliette prometeu a si mesma que permaneceria calma e controlada, manteria a conversa profissional. Mas Arcrebiano havia trabalhado com seu pai; ele sabia o quão importante a empresa era para ela. Esta não foi apenas uma decisão de negócios; foi um ataque pessoal, e Juliette o sentiu intensamente.

Arcrebiano soltou um suspiro e recostou-se em sua cadeira de couro de encosto alto, observando Juliette analiticamente. Ela sustentou seu olhar, não querendo desistir de seu escrutínio.

"Seu pai," Arcrebiano começou, "era um homem gentil. Mas ele não era um homem de negócios." Juliette abriu a boca para discutir, mas Arcrebiano ergueu a mão para silenciá-la. Ela fechou a boca, esperando para ouvir o que ele tinha a dizer antes de lançar sua contra-ofensiva. "Sua mãe era o cérebro dos negócios e lamento minha decisão de ir com seu pai a Londres para abrir o escritório europeu. Sim, ele era um contador brilhante, mas não tinha visão de negócios."

"Isso não é verdade," argumentou Juliette, incapaz de se impedir de defender seu pai.

"Sinto muito, mas é." Arcrebiano encolheu os ombros. "O homem era um peixe fora d'água sem sua mãe. Ele era covarde, Juliette."

Flight PJA016Onde histórias criam vida. Descubra agora