Shawn
Quando ela finalmente entrou na cozinha usando nada além de minha camiseta, eu quase a virei de costas e a fiz marchar de volta diretamente para o quarto.
Ignorando a pulsação dentro de minha cueca, olhei fixamente para dentro de sua geladeira quase vazia.
— Você não tem comida — eu me queixei, fechando a porta.
— Eu como muito fora. — Ela deu de ombros. — Mas tenho cereal. E pão.
Ela pôs quatro fatias de pão na torradeira, e eu a conduzi pela mão até a mesa da cozinha, puxando-lhe uma cadeira. Coloquei uma tigela vazia e uma colher diante dela, seguidas pelo leite e uma caixa de cereal.
Depois sentei perto dela, enchendo minha tigela até a beira com a porcaria crocante.
— Posso saber da perseguição agora? — ela pediu ao derramar leite em sua tigela.
— Primeiro de tudo, gatinha, você tem que entender que assumi um compromisso comigo mesmo. Eu tinha que colocá-la em segundo plano até que a temporada acabasse. Sabia que se perdesse tanto o beisebol quanto você, eu não teria nada na vida.
Nunca seria capaz de sobreviver a tanta perda.
Estava certo de que ela entendera isso, conhecendo-me bem como me conhecia, mas ainda era preciso dizê-lo.
A mera ideia de não ter nem beisebol nem minha gatinha me revirava por dentro e me deixava oco.
— Entendo isso. — Seus olhos se suavizaram com compreensão antes de se apertarem demoniacamente. — Agora, vamos à perseguição.
Lentamente enfiei uma pilha de cereal em minha boca antes de dizer mais uma palavra. Meu ritmo de contador de histórias estava torturando-a, e eu sabia disso.
Gostava de ter a supremacia numa situação na qual eu não tinha realmente vantagem nenhuma. Tivera sorte de ela não bater a porta com violência em minha cara na noite passada.
Normalmente não teria uma segunda chance com a garota que quebrou todas as suas regras por mim. Eu daria tudo o que ela quisesse. Responderia a cada pergunta duas vezes se precisasse.
— Você está enrolando... — ela disse, erguendo-se de sua cadeira para pegar a torrada.
Meu compromisso terminou no momento em que perdemos a última partida em casa e nossa pós-temporada se encerrou. Eu tinha duas semanas para fechar meu apartamento no Arizona e me mudar. Eu não tinha muitas coisas ali, já que a maior parte de meus pertences permanecia abandonada na casa no Alabama. A casa que eu compartilhava com aquela piranha, Chrystle.
Eu sabia que teria que voltar para lá para empacotar tudo antes que minha vida pudesse seguir em frente, mas receava só de pensar nessa ideia. Se pudesse evitar, nunca mais poria um pé na maldita propriedade novamente.
Graças a Deus, o Alabama não tem um time de beisebol da liga superior. Pegando uma garrafa de água, entrei na sala de estar e desabei no sofá. Peguei meu celular, procurando pelo nome de meu advogado entre meus contatos.
Selecionei seu número, pressionei Ligar e relaxei entre as almofadas, enfiando minha cabeça sobre os travesseiros.
"Ei, Shawn, o que há?", a voz de Marc soou bem alto, interrompendo o ruído ao fundo.
"Você tem um minuto? Preciso falar com você."
"É claro. Espere um segundo." Com uma batida violenta de uma porta, as distrações anteriores foram silenciadas. "Certo, estou aqui. O que está acontecendo? Você está bem?"