Library Boy || Remus Lupin

PRÓLOGO

Fazer parte de uma família rica tem seus prós e contras. Você tem fácil acesso a cultura, estuda nas melhores escolas, conhece o mundo a sua volta, não precisa se preocupar com nada além de atualizar sua coleção de brinquedos, e durante a adolescência, seu guarda roupa, se certificando sempre de estar com o celular/notebook do momento, você tem simplesmente tudo o que quer quando quiser, mas estamos falando de uma família rica, e infelizmente dinheiro não cai do céu ou brota em árvore. A fortuna da família Uckermann começou a se erguer, sendo passada de geração a geração até cair nas mãos de John Uckermann, que se orgulhou ao receber a responsabilidade de administrar toda a rede editorial de sua família junto com sua esposa, Joanne.

Uma criança não estava nos planos de John e Joanne, eles eram jovens demais, com uma grande empresa em suas mãos e muitos planos para colocar em prática, planos esses que escorregaram como grãos de areia pelas mãos do casal ao descobrirem que Joanne estava grávida. Não é que eles não quisessem ser pais, mas definitivamente não queriam naquele momento de suas vidas. E é quando chegamos na gravidez repentina de Joanne que entendemos que nem sempre nascer em uma família rica só lhe traz coisas boas.

O ambiente que Yaçanã cresceu foi cercado de babás que nunca ficavam por muito tempo com a garota pela necessidade de seus pais sempre se mudarem temporariamente enquanto acompanhavam de perto mais uma filial de sua livraria ser aberta em um novo país/estado. Cedo demais a garota conheceu todo o Reino Unido, cedo demais ela se viu na América do Norte indo de ponta a ponta do continente, pulando de escola em escola. Seu ensino era relativamente atrasado e só não piorou pelo esforço que a garota fazia para atrair a atenção de seus pais com boas notas. Muito nova, Yaçanã desenvolveu um ódio crescente por livros, já que eram eles o motivo de seus pais nunca a olharem verdadeiramente, eles mal sabiam a cor favorita da garota mesmo ela já tendo dito umas mil vezes. Mesmo sempre tendo uma vida cheia de luxos algo essencial para uma criança faltou para Yaçanã, amor e atenção de seus pais.

Aos 14 anos a garota parou de acompanhar seus pais em suas diversas viagens, tendo pela primeira vez uma presença, que com o tempo se tornou materna, em sua vida, além de ter conhecido a melhor amiga que poderia um dia ter imaginado ter. Se Yaya não se tornou uma adolescente completamente problemática foi graças a Jessie que entrou na vida da garota a tempo de contornar certas situações que claramente seriam péssimas para a menina, junto com sua filha Stephani que era apenas 2 anos mais nova que Yaya, mas mesmo assim as vezes as coisas saíam do controle.

Não importava quantas vezes Yaçanã falasse que odiava seus pais e não os suportava, no fundo ela sabia que estava mentindo para si mesma, sabia que fazia todas aquelas besteiras para chamar a atenção dos dois, não se importando mais em tentar ser uma boa garota para isso. Quase todos os dias a garota quebrava alguma coisa dos pais, ou aparecia com uma cor de cabelo diferente, se odiando ao perceber que aquilo não importunava mais seus pais, e se odiando mais ainda por saber que não faria mais do que aquilo para atrair a atenção dos mesmos. Por mais que desejasse, a garota era medrosa demais para fazer algo radical demais, deixando o cargo inteiramente para Stephani, que claramente deixaria Jessie com os cabelos brancos cedo demais. Com muito custo Yaçanã aprendeu a ignorar a ausência dos pais, se sentindo satisfeita por ter Jessie e Stephani como sua nova família.

Assim que terminou o ensino médio a garota decidiu ir para outro país fazer sua faculdade, junto com sua melhor amiga que por mais bizarro que tenha sido para todos, havia conseguido uma bolsa integral para a mesma universidade que Yaçanã havia escolhido, mas para ela aquilo não era lá algo muito esquisito, já que a amiga estudava na mesma turma que ela, mesmo sendo mais nova, por ter sido considerada avançada demais para a série certa para sua idade. Seus pais não interferiram, não questionaram a distância, e durante toda sua formação mal mantiveram contato com a filha, que apenas recebia ligações e mensagens quase que diárias de Jessie.

Após se formar, as duas garotas voltaram para suas casas, e foi naquele momento que a vida de Yaçanã praticamente virou de ponta cabeça.