03

116 10 20
                                    

Dias atuais...

Por mais turbulento que tenha sido fazer com que Yaçanã aceitasse a proposta dos pais, quando Stephani colocava algo em sua cabeça nada a fazia mudar de ideia ou desistir daquilo, dia após dia a mais nova se empenhou em entrar na mente da amiga para fazê-la mudar de ideia, ficando bastante satisfeita quando a mais velha não aguentou mais a pressão e acabou cedendo.

Quatro meses se passaram e mesmo que não admitisse em voz alta, a garota realmente tomou gosto em trabalhar na livraria. Não era sempre que o local recebia muito movimento, o que permitia a ela conhecer mais a fundo determinados clientes que atendia a deixando cada vez mais maravilhada e agradecida por sua melhor amiga ter insistido tanto para que ela aceitasse a proposta dos pais.

Dentro desses quatro meses Yaçanã notou uma presença constante de um garoto que não importava o clima, todos os dias ele ia até a livraria, pegava uma amostra de café expresso e sentava para ler algum livro, que depois de alguns dias a garota descobriu serem livros da loja, e não dele. Ela verdadeiramente não se incomodava em ver o castanho fazer aquilo, achava até um tanto quanto engraçado mas principalmente curioso, as vezes pensava em abordar o garoto e perguntar o motivo dele fazer aquilo sempre, mas tinha medo de constrangê-lo ou algo do tipo, chegou até mesmo a perguntar ao menino que trabalhava na cafeteria se ele sabia quem era ou o motivo do garoto sempre fazer aquilo, mas também não teve sucesso.

Assim como nos outros dias, lá estava o garoto da livraria sentado de maneira despojada em uma das mesas da cafeteria lendo algum livro que pela distância era impossível Yaçanã descobrir qual era. Seu olhar se manteve fixo por alguns segundos no castanho observando cada movimento feito pelo mesmo, era curioso a atenção que ele mantinha nas páginas a sua frente, ou a forma que tirava a franja de seu rosto, sua atenção foi desviada por uma criança cutucando sua perna perguntando alguma coisa sobre algum livro infantil que a negra realmente não entendeu, não era sempre que ela tinha que entender o dialeto "bebênes".

Uma das piores partes da livraria era a sessão infantil, se Yaçanã pudesse evitar aquele lugar, ela com certeza o evitaria, e o motivo era bem simples: os livros sempre estavam fora da ordem. Desde que começou a trabalhar ali a garota passou praticamente um mês organizando os livros por cores, mas as crianças adoravam misturar tudo sem se importar se havia ou não uma organização, se bem que ela não podia culpar apenas os pequenos, os adultos conseguiam ser mil vezes piores já que nem nas prateleiras eles deixavam os livros que pegavam para ver.

— Quem te vê uniformizada assim deve até te confundir com uma pobrete —  a voz de Stephani ecoou nas costas de Yaçanã que se virou tentando controlar o sorriso

— Você nunca vai deixar de me perturbar né?! — cruzou os braços

— Que isso, bebê. Eu jamais fui capaz de te perturbar um dia — a mais nova respondeu em um tom sarcástico acompanhando a amiga para fora da sessão infantil — Vim te fazer um convite, na verdade, são dois

— Hm, lá vem — revirou os olhos enquanto começava a catalogar uns livros

— Agora que você está se misturando no mundo dos pobres, queria saber se você não quer ir em uma resenha que vai ter na casa do Potter esse sábado — Stephani abriu um sorriso forçado tentando soar convincente já que a negra nunca aceitava seus convites para festas

— Para de falar como se eu só andasse com gente com condição boa — ignorou a proposta encarando a amiga irritada

— E você anda com outra pobrete além de mim? — a morena questionou arqueando uma sobrancelha se encolhendo da livrada que levou em seguida — Não, mas é sério, quer ir? — voltou a questionar rindo

— Primeiramente, eu também ando com o Benjy — deu língua pra amiga — Mas seguindo, não sei — suspirou — Eu não conheço ninguém, seria estranho

— Aquele pobre tá rico desde que se mudou pra Espanha — bufou — Você me conhece, oras. Você fala como se não fizesse amizade até com uma formiga — revirou os olhos — Enfim, depois você me da a resposta

— Ok, ok. E qual a segunda proposta? — se virou na direção da morena vendo o garoto de sempre se levantar indo até a sessão de fantasia devolver o livro que estava lendo

— Irmos almoçar juntas — respondeu Stephani olhando pra trás na mesma direção que a amiga, mas logo voltou sua atenção para a negra a sua frente — Eu pago já que seus pais estão brincando de te deixar pobrete cortando sua mesada e cancelando seus cartões — riu

— Ta bom, eu saio em 5 minutos — respondeu vaga ainda observando o garoto que agora saía da livraria calmamente

— O que tanto você olha ein? — Stephani voltou a se virar vendo dessa vez o possível motivo da distração da amiga — Ui, ui, ui. Ele é bonito mesmo pra você estar olhando assim ou só é alto?

— Que? — Yaya olhou confusa na direção da amiga que a olhava como se sua pergunta tivesse sido óbvia

— O garoto que você estava olhando, é bonito mesmo ou só é alto? — repetiu — Ah, se bem que só pela altura dele nem importa muito se é bonito, a gente finge

— Garota!! — Yaçanã repreendeu a amiga rindo — Nunca reparei na beleza dele pra ser sincera, só acho engraçado que ele vem pra cá todos os dias, pega um livro, senta na cafeteria, pega uma amostra grátis de expresso, lê por algumas horas e depois vai embora

— Nossa — a mais nova fez uma careta rindo em seguida — Mas ele nunca leva nada?

— Nadinha — balançou a cabeça negativamente indo na direção de sua bolsa

— Errado ele não tá — disse pegando um dos livros e olhando a etiqueta — Caríssimos! — colocou o objeto de volta no lugar fazendo careta — E a quanto tempo ele faz isso?

— Desde que eu entrei aqui, mas segundo o Dean da cafeteria, ele faz isso desde antes de eu começar a trabalhar aqui — disse entrelaçando seu braço no de Stephani começando a caminhar para fora do local — Estava pensando em uma forma de perguntar a ele o motivo dele fazer isso mas não sei como

— Escreve um bilhete, ué — respondeu Stephani de forma óbvia dando de ombros

— Como assim? — olhou confusa na direção da amiga que revirou os olhos

— Pega um papel, uma caneta, começa a juntar as palavras com coerência, o nome disso é bilhete

— Eu sei o que é um bilhete, puta — empurrou a amiga que riu — Quero saber como eu iria entregar isso a ele

— Você não entregaria, deixaria dentro do livro que ele está lendo, quando ele for pegar pra continuar, touché

— E se ele não responder?

— Ai você chora — deu de ombros

Mais uma vez Yaçanã revirou os olhos pelas ironias da amiga, mas realmente gostou da ideia de escrever um bilhete para o garoto, poderia pensar em uma forma de abordá-lo de um jeito cômico para que ele não pense que é um problema ele estar ali lendo os livros que ficam de mostruário, ela realmente não ligava para aquilo, só achava curioso o método de leitura do garoto, por mais que ela tenha tomado repulsa por livros, com certeza deve ser muito mais confortável ler um livro no conforto da sua casa do que em uma livraria no meio de um shopping.

Agora sua principal tarefa era descobrir qual livro o garoto estava lendo, e ela realmente não via a hora daquele dia acabar para que ela voltasse a se deparar com a presença do garoto de cabelos castanhos dourados, podendo finalmente botar seu pequeno planinho em ação.

Library Boy || Remus LupinOnde histórias criam vida. Descubra agora