Library Boy || Remus Lupin

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Alguns dias se passaram desde a conversa que Yaçanã teve com sua melhor amiga, e dentro desse um mês a negra foi protelando cada vez mais a conversa que deveria ter com Remus, piorando mais ainda sua situação ao inventar pro castanho que conseguiu um estágio, o que poderia ser visto como omissão de fatos, já que ela realmente iria fazer uma espécie de estágio intensivo em relação ao desenvolvimento de produtos, ou poderiam dizer que ela estava mentindo, se for levar pelo lado de que o estágio na verdade é apenas o primeiro passo pra abertura da sua própria empresa.

Sua vida estava uma verdadeira correria, quando não estava resolvendo coisas que ela particularmente não entendia nada, agradecendo aos céus por seus pais já serem muito bem resolvidos em relação a papeladas burocráticas, ou então, conhecendo pessoas que seus pais recrutaram para começar a desenvolver a equipe de pesquisa e criação dos produtos, isso quando não estava visitando universidades ou já desenvolvendo o design das coisas.

Estava no carro com seus pais indo para algum restaurante, que ela já não lembrava mais, para almoçarem depois de uma manhã enfiados em um escritório resolvendo a parte que Yaçanã poderia dizer com tranquilidade ser a mais chata, desviando a atenção da conversa de seus pais para seu celular ao ouvir um barulho de notificação de mensagem, logo o desbloqueando para responder.

Moony: Hey Sun

Saudade te ver na livraria todos os dias :(

Já soube da festa do James?

— Hey Moony

Também estou com saudades aaaa :(

Que festa? Ste ainda não me disse nada, ou disse e eu não vi

Moony: Dia 27 é aniversário dele

Cai na segunda, mas ele já está programando o final de semana inteiro de festas

Acho que você já tem uma noção de como eles são kkkkkk

— Ficou tudo muito claro no aniversário da Ste kkkkkk

Depois vou ver com ela, se ela for eu vou

Moony: E se ela não for, você é minha convidada

— Uau

Tudo bem

Vou ter que sair agora, mais tarde nos falamos

Sem esperar pela resposta de Remus, a garota fechou a conversa vendo uma mensagem pendente no chat com Stephani que dizia exatamente o que o castanho havia acabado de conversar com ela, não dando nem oportunidade para resposta já que a mais nova apenas informou que iria buscá-la no sábado as 18h deixando claro que não era pra ela se atrasar.

— Então, você está gostando de tudo? — disse John desviando sua atenção de seu aparelho para o mais velho que a observava pelo retrovisor

— Sim — sorriu — É meio intenso as vezes, coisas demais ao mesmo tempo, mas está sendo um experiência verdadeiramente interessante — disse sincera

— É assim mesmo no início, com o tempo você se acostuma — Joanne disse sorrindo — Mas não precisa se preocupar tanto com a parte administrativa e burocrática, você terá a melhor equipe que conseguirmos contratar

— Não duvido disso — riu saindo do carro assim que seu pai estacionou — Mas pretendo estudar sobre essas coisas — voltou a dizer quando seus pais também desceram do carro — Se for pra ter um negócio meu, pretendo saber como funciona cada parte dele, não me parece completamente coerente deixar algo meu totalmente nas mãos de outra pessoa administrar — deu de ombros

— Você fala como o seu pai -— Joanne revirou os olhos rindo em seguida

— É claro que fala — o mais velho disse convencido com um sorriso largo no rosto — Ela é uma Uckermann, honra o sangue que tem!

Se antes o clima estava tranquilo e descontraído para a garota, foi apenas ouvir aquela última frase de seu pai que ela sentiu como se um balde de água fria tivesse sido despejado em sua cabeça.

Durante todo o almoço a mesma frase permaneceu martelando em sua mente "Ela é uma Uckermann, honra o sangue que tem!", o que seu pai pensaria se soubesse que ela na verdade estava escondendo ser uma Uckermann? Por mais que seus pais soubessem o que aconteceu com ela quando era apenas uma criança, talvez não tenham entendido o quanto aquilo pesou para ela e como desde aquela situação, ser uma Uckermann não era exatamente uma coisa que ela se orgulhava.

Por volta dos seus 13/14 anos, Yaçanã começou a morar definitivamente em Liverpool, não sendo mais obrigada a ter que ficar viajando de país em país com seus pais, não precisando mais mudar de escola todo ano e as vezes até mesmo todo mês, ficaria em uma escola definitiva e ela não podia estar mais feliz por aquilo. O fato de ser sempre bem comunicativa e extrovertida fez com que logo fizesse amizades na nova escola, que parecia crescer cada vez mais quando sabiam quem ela era, entrou até mesmo para a equipe de líderes de torcida, tudo estava definitivamente incrível, mas infelizmente ela havia feito amizade com as pessoas erradas, se abriu com as pessoas erradas e de uma hora para outra sua vida virou um inferno, foi ridicularizada e ouviu da menina que considerava sua melhor amiga que as pessoas apenas se aproximavam dela por ela ser uma Uckermann, que sem aquele sobrenome ela não passava de uma "negra qualquer".

É óbvio que ela ficou arrasada, chorou como nunca antes, se odiou por confiar nas pessoas, chegou em casa aos prantos se jogando nos braços de Jessie, que já cuidava dela a quase um ano, contando tudo o que tinha acontecido naquele dia para mais velha, só então notando a presença de Stephani, na época pouca coisa menor que ela, completamente emburrada indo decidida até a porta dizendo que quebraria o nariz de quem tinha feito ela chorar e dito aquelas coisas horríveis para ela, foi basicamente ali que foi selada a amizade entre as duas.

A família Uckermann soube o que aconteceu no mesmo dia através de Jessie que ligou para o casal que estava em outro país, e por mais displicentes que John e Joanne poderiam ser em diversas coisas, os dois voltaram no mesmo dia para Inglaterra a fim de resolver o que havia acontecido, haviam fotos de sua filha espalhada pela escola, montagens, frases horríveis em todas as portas dos banheiros. Todos com o nome de Yaçanã, tudo era voltado a ela. A escola foi processada e os pais da negra trocaram mais uma vez ela de escola, que dessa vez implorou para os pais colocarem Stephani junto com ela, se fosse para ter alguém com ela, que fosse alguém que não se importava com quem ela, ou como ela era, e que de bônus quebraria o nariz de quem a tratasse mal.

— Filha, está tudo bem? — disse Joanne estalando os dedos na frente do rosto de Yaçanã

— Ah, ta sim — riu forçado — Desassociei foi mal

— Estou a uns 15 minutos falando sozinho, que beleza — John fez drama recebendo uma revirada de olho a filha

Olhando para seus pais ali, sorridentes, ainda sentindo o peso da frase de seu pai em sua mente, Yaçanã apenas compreendeu que mesmo que eles tenham movido montanhas para destruir a escola e a família dos alunos que a ridicularizaram, eles nunca entenderam o que aquilo causou em sua vida de fato e aparentemente não imaginam que o peso do nome Uckermann pra ela, na realidade, é totalmente negativo.