Capítulo XIX

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Londres, 1 ano e 6 meses desde a partida de Tom.

Existem momentos em que eu acredito no céu e no inferno, em monstros mitológicos e em deuses gregos e nórdicos. Existem momentos em que eu acredito que exista um purgatório ou um paraíso.

Em momentos como este eu acredito nessas coisas. Porque só acreditando nesse tipo de coisa que eu consigo suportar a dor da perda eterna.

Estamos no meio de Junho e o alto verão chegou com força. O céu está límpido fazendo o azul reluzir sobre nossas cabeças. Eu amaria ficar debaixo desse sol se fosse um dia qualquer. Mas hoje...Hoje eu estou odiando ficar debaixo desse sol.

Quero sumir, voltar a ser poeira estelar e nunca mais ser vista ou lembrada.

- Deus leva quem amamos por um motivo, nada é de propósito...- O padre fala com a voz baixa e grave

Se tudo tem um propósito, porque então dizem que temos o livre arbítrio? Com certeza o padre me almadiçoaria se me ouvisse profanar tais palavras.

Cruzo mais meus braços encima dos meus seios e mordo meu lábio inferior. Oliver está logo atrás de mim com uma mão no meu ombro e olhos fixos na grama verde sob nossos pés.

- ...Charlie sempre será o marido excelente, o amigo verdadeiro e o avó exemplar, ele se foi mas deixa um legado para trás, conosco e... - O padre continua seu texto olhando diretamente para o caixão de madeira que desce sem pressa até o subsolo

Engulo em seco. Isso não pode ser real. Não pode. Todos em minha volta estão indo embora aos poucos e não tenho tido como segurar ninguém, todos estão escorregando por entre meus dedos e indo embora.

Lágrimas dolorosas escorrem pelo meu rosto e minha garganta queima enquanto seguro os soluços teimosos.

Ao meu redor ouço os soluços, os murmúrios e os lamentos da família e amigos que estão reunidos aqui hoje. Deyse está logo ao lado do Padre bem de frente pra nós — Oliver e eu — e posso ver seu rosto encharcado por lágrimas. Seu corpo pequeno e rechonchudo tremendo enquanto chora sem parar, um de seus filhos a abraça pela lateral tentando consolá-la, mas nada e nem ninguém vai conseguir amenizar a dor que a consome de dentro pra fora.

Não consigo imaginar a dor que ela deve estar passando agora. O amor da sua vida sendo tirado de suas mãos sem pressa e nem pudor. Charlie foi diagnosticado com câncer na próstata á apenas dois meses atrás.

Já estava super avançado e não pudemos fazer nada além de esperar a morte o acolher como uma velha amiga.

Nos últimos dois meses fui todos os dias á biblioteca para fazer companhia á ele, porque Charlie se recusou a ficar em casa nos seus últimos dias de vida.

Vivi a vida toda aqui e quero terminar essa vida entre essas paredes que eu tanto conheço.

Foram essas palavras que ele soltou no rosto do filho mais velho que tentou fazê-lo parar de ir á biblioteca.

E agora cá estamos nós. Em um dia tão lindo testemunhando algo tão horrível.

- Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados, Mateus 5:4 - O padre fecha a Bíblia e cruza os braços na frente do corpo - Que ele descanse na paz de Cristo, no peito do Espírito e nos braços do Pai...

E então o caixão chega ao solo. Deyse se derrama sobre a grama macia, seus joelhos amassando as folhas tão verdes. Seu filho se ajoelha ao lado dela a abraçando formando um casulo em sua volta.

Eternos - Tom Hiddleston Onde histórias criam vida. Descubra agora