Capítulo 14

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Fernanda

Acompanhando Dona Rosa até a cozinha faço um balanço mental sobre os últimos acontecimentos. Que eu estou completamente apaixonada por Clara, não há dúvidas. Todavia em relação ao seu pai, meus sentimentos estão um tremendo caos. Quem será aquela mulher? Não pode ser a mãe ds Clara, além de não ter qualquer semelhança física com a menina, ele foi um pouco rude com ela.
Uma amante? Santo Deus! Será? Acho que não, ele não me parece o tipo de homem que traz uma amante para dentro da casa em que se encontra sua filha.

Durante o dia todo ele não tocou no nome de nenhuma mãe ou esposa, nem Clara. Será que são separados e compartilham a guarda? Será que ela morreu? Como eu já mencionei, eu senti que tivemos uma conexão. Ele não me pareceu um homem que tem essas atitudes estando comprometido. E como eu sei disso? Não sei, não faço ideia. Acho que isso é o que eu quero acreditar.

De qualquer maneira, mesmo que Raul seja livre e desimpedido, não acredito que eu seja o tipo de mulher que lhe chame a atenção. A julgar pela loira siliconada que acabei de ver na sala, estou bem longe do seu gosto. Eles com certeza têm algo, ou já tiveram. Ela fez questão de demonstrar intimidade com ele. O decote estava praticamente expulsando seus peitos para fora da blusa que usava e chutando baixo, ela deve ter uns dois metros só de perna. Super maquiada e com saltos enormes.

A loira platinada me fuzilou com os olhos, mais ainda, depois que ele não foi nada simpático e demonstrou total insatisfação com sua a presença. Me senti uma intrusa e todo aquele clima que nos rondava, evaporou. Com a graça de Deus, vi dona Rosa e inventei que iria beber água.

- Essa mulher é muito abusada. - Ouço dona Rosa dizer e não tenho dúvidas que se refere á loira aguada que se encontra na sala nesse momento.

Não gosto de fazer mexerico e nem de fofoca (talvez só um pouquinho, afinal, quem não gosta?) me julguem, mas estou sedenta para saber um pouco mais sobre meu chefe gato. Então decido, como quem não quer nada, perguntar. Com sorte conseguirei descobrir o que vem me atormentando durante todo o dia.

- Ela é a mãe da Clara?

Dona Rosa que estava com a geladeira aberta, pegando, acredito ser, uma garrafa de água, coloca a cabeça para fora do eletrodoméstico e me encara com a testa franzida.

- Ele não te disse nada sobre a mãe dela?

- Não, não conversamos sobre esse assunto.

- Certo. - Ela fecha a geladeira e coloca a garrafa sobre a mesa, me da um sinal para que eu me sente. Quando penso que ela não me dirá nada, fala:

- Não posso te contar sobre a mãe dela, pois essa história não é minha. Se Raul quiser que você saiba, ele mesmo lhe contará. Por ora, só lhe digo que esse assunto é quase que proibido nessa casa. Clara não tem mãe.

Encho um copo com a água gelada e lhe encaro esperando que continue. E ela o faz.

- A mulher lá na sala trabalha para ele. Ela é insuportável, arrogante e muito metida. Me trata muito mal quando Raul não está por perto e fingi gostar da minha menina na tentativa de fisgar o pai. - Dona Rosa continua e eu fico concentrada em suas palavras. - Ela se acha no direito de aparecer aqui quando bem quer, mesmo Raul lhe colocando em seu devido lugar.

- Mas eles têm alguma coisa? - Pergunto e aguardo a resposta com medo de que ela me diga que sim. Com coisa que eu tenho algum direito sobre o homem.

- Não, eles já tiveram um caso, mas ela é muito diferente de Raul. Apesar de ser um homem podre de rico, ele é simples. É exigente porém educado. Trata a todos com respeito e não desfaz das pessoas por conta de terem menos dinheiro que ele. - Continuo em silêncio e ela completa.

- Depois que Clara nasceu, Raul se tornou muito discreto, em relação as mulheres eu digo, antes fazia festas aqui, trazia namoradas. Depois que Clarinha chegou, ele nunca mais teve esse comportamento. E essa mulher fica se impondo. Ele é respeitador demais. Apesar de ser um pouco grosso com ela às vezes, ele já deveria tê-la colocado para fora daqui a muito tempo.

Enquanto assimilo as palavras de Rosa, algumas estão passando em letras garrafais diante dos meus olhos.
Raul não tem esposa.
Clara não tem mãe.
Ele não ter uma esposa é compreensível, ninguém é obrigado a manter um relacionamento só por conta de filho.
Agora, Clara não ter mãe? Ela não nasceu de chocadeira, uai. Como assim, não tem mãe? Deve ter acontecido algo muito sério. Barriga de aluguel? Não né?! Talvez uma das minha primeiras hipóteses esteja certa, e a mãe dela morreu, e trazer o assunto a tona faz com que Raul sofra, por isso prefere tornar o assunto "proibido".

Outra questão muito importante é sobre a loira. Eles não tem um relacionamento. Sinto que respiro um pouco aliviada, e me faço uma pergunta mentalmente. O que isso muda em sua vida, Fernanda? Raul não ter uma esposa, ou sobre o envolvimento dele com a tal Tatiana não muda em nada.

- Acredito que já esteja acostumado. - Percebo que Rosa fala algo que eu não estava prestando atenção e peço para que ela repita.

- Sobre as mulheres se jogarem em cima dele. Acho que ele já se acostumou. - Ela da uma risada, dessas que acontece quando lembramos de algo.

- Não sei se eles comentaram com você, mas já passaram muitas babás por aqui durante os anos. Nenhuma deu certo.

- Por que? - Pergunto curiosa diante do humor que ela traz consigo.

- Elas ficam malucas quando chegam aqui e veem essa casa e principalmente o dono dela. E quando descobrem que ele é pai solteiro, ai sim a coisa fica feia. Teve uma vez que tive que salvá-lo. - Dona Rosa gargalha e eu a acompanho sem nem saber porque estou rindo.

- O que aconteceu? - Pergunto curiosa.

- Uma moça o atacou. Ele estava chegando da empresa e de repente ouvi uns gritos. A moça avançou pra cima dele e o coitado tentando segurá-la, tive que entrar no meio e arrastá-la para fora de casa. Ainda bem que Clara estava no banho.

Ela conta a história rindo tanto que foi impossível não acompanhá-la. No fim estávamos nós duas gargalhando como duas hienas descontroladas. Eu chorava de tanto rir, imaginando a tal cena.

Assim que nos controlamos um pouco, Raul aparece na cozinha nos questionando sobre o motivo de tanta risada. Ele senta ao meu lado na mesa e me recordo do que dona Rosa contou. Ele realmente é um homem simples. Não acredito que qualquer outro, sendo podre de rico como ela disse, se sentaria na mesa da cozinha com suas funcionárias. (Sim, já estou me sentindo na função). Apesar que eu tenho ótimos exemplos em casa.

- Estava contando para Fernanda quando aquela moça o atacou na sala e eu tive que interferir.

- Não sabia que você era fofoqueira Rosa. - Ele tem humor em suas palavras e até nos presenteia com um sorriso. Se precisasse pagar para vê-lo sorrindo, meu pai já estaria falido. Eu gastaria todo nosso dinheiro.

- Não precisa ficar contando sobre os apuros que minha beleza já me colocou.

Dessa vez sou eu que sorrio. - Nada convencido, hein Dona Rosa?! - Digo brincando e ele gargalha.

- Me respeite, sua atrevida. Sou seu chefe bonitão a partir de hoje.

Noto Dona Rosa nos observando, ela intercala seus olhares entre nós dois e acho que percebo um levantar no canto de seus lábios.

- Fico feliz que você cuidará da nossa menina, Fernanda. Sinto que você é a pessoa que essa casa precisa.

Notaram um duplo sentindo nas palavras dela? Parece que eu notei. Raul me encara sério e decido me arriscar um pouquinho.

- Eu também estou feliz em estar aqui. - Suspiro. - E prometo me controlar para que a senhora não precise intervir, mais uma vez, em socorro do patrão.

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora