Fernanda
Senti dedos passearem pelos meus cabelos antes mesmo de abrir os olhos, e quando o fiz me surpreendi ao encontrar Clara sorridente me encarando. Ela estava deitada na minha frente, com uma carinha de sapeca que eu amava. Ela estar ali significava que sabia que eu tinha dormido na sua casa, na cama do seu pai. Não sei como ela entenderia essa situação.
— Bom dia, Nanda. — Ela sussurrou como se estivéssemos compartilhando um segredo. — Você dormiu na minha casa.
Mantive o mesmo tom que ela e sorri ao responder.
— Sim e bom dia, meu amor!
— Hoje nem é sábado e tem café da manhã especial.
Ela continuou cochichando e só então notei Raul ao seu lado apenas observando nossa interação.
— E por que tem café da manhã especial?
— Porque você é a namorada do meu papai.
Senti um frio na barriga, ela continuava na mesma posição, agora passando os dedinhos delicados pelo meu rosto. Sua voz baixinha fazia daquele papo um momento tão íntimo. Eu estava com muito medo da sua reação. Clara era tão pequena, não convivia com a mãe, estava com receio que ela achasse que tirararia o seu pai. Que seus sentimentos em relação a mim acabassem.
— E o que você acha sobre isso?
Perguntei com o coração na mão, ela parou sua mãozinha sobre a minha bochecha e sorrio. Um anjo com os olhos mais lindos.
— Eu amei.
A puxei para os meus braços aliviada e apertei forte fazendo com que ela soltasse uma gargalhada. Me sentei na cama e a coloquei sobre o meu colo, olhando dentro dos seus olhos disse:
— E eu amo você.
— Agora você é minha babá, melhor amiga e namorada do meu papai. — Ela contou nos dedinhos as minhas três posições na sua vida. — Você vai morar aqui com a gente?
Olhei para Raul que só nos observava sorridente sentado no canto da cama.
— Eu vou continuar morando na minha casa, mocinha! E esse café?
— Para as duas princesas da minha vida. Minha filha e minha namorada.
Clara bateu palminhas animada, gargalhando feliz. Eu também estava feliz e principalmente muito aliviada. Tomamos café, os três juntinhos na cama num clima gostoso de família.
♡♡♡♡
Aquela nuvem escura e pesada que estava entre mim e Raul depois da cena da Tatiana desapareceu completamente. Eu sentia como se aquele véu de apreensão que pairava entre nós tivesse finalmente sumido.
Clara foi para a escola, Raul para a empresa e eu fiquei com dona Rosa. Liguei para casa e assim como fiz com Fernando abri o jogo com a minha mãe. Contei tudo, foi um alívio poder compartilhar com ela e não sei o por quê escondi por tanto tempo o nosso envolvimento.
Talvez seja porque agora eu estava realmente segura em relação a nós. A conversa que tive com meu irmão fortaleceu o que eu já queria.
Agora que Clara sabia seria muito mais tranquilo, não precisaríamos ficar nos escondendo e assim poderíamos viver tudo sem medo e ressalvas.Queria apresentar os dois a minha família, levá-los à fazenda e mostrar principalmente a Clara como era minha vida antes chegar até aqui. Sabia que ainda tínhamos muita coisa pela frente, mas assim era a vida, não é? Um pouquinho de cada vez. O principal nós já tínhamos amor e vontade.
♡♡♡♡♡
Estava na cozinha com dona Rosa ensinando a ela uma receita de bolo de fubá com goiabada que minha mãe fazia, quando Raul chegou, bem mais cedo que seu horário de costume.
Minhas mãos estavam sujas de farinha, pois estava empanando os pedaços do doce para colocar na massa do bolo que já tínhamos batido. Ele me abraçou por trás, descansando sua cabeça em meu ombro sem se importar com a presença da sua outra funcionária.
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Laços de Amor (CONCLUÍDA)
Historical FictionFernanda, envolta pelo calor familiar de uma fazenda em Minas Gerais, nutria em seu coração o anseio de desbravar o Rio de Janeiro. Determinada a realizar seu sonho, ela parte para a cidade maravilhosa, onde sua vida toma um rumo inesperado ao cruza...