Capítulo 25

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Meu celular toca e como se adivinhasse o quanto eu estava precisando, vejo o nome do meu irmão aparecer na tela. Respiro fundo, limpo o rosto e tento disfarçar um pouco o estado melancólico que estou antes de atender a chamada de vídeo. Me esparramo no sofá e sorrio quando seus olhos idênticos aos meus aparecem na tela.

— Irmão.

— Oi minha princesa, já está em casa?

— Sim, cheguei a pouco tempo.

Não deu nem tempo de falar mais nada, Fernando me conhecia como ninguém. Me viu crescer, me ensinou e esteve ao meu lado em literalmente todos os momentos da minha vida. Não consigo pensar em nada, nenhuma situação onde ele não esteja.
Foi ele quem me ensinou a andar de bicicleta, uma Ceci amarela com cestinha na frente. Lembro perfeitamente quando andávamos juntos, eu ainda com as rodinhas e do nada ele disse que iria retirá-las. Vibrou mais do que eu quando consegui me equilibrar e desci a estrada de terra desembestada só parando depois de cair e me ralar inteira.  Na hora ele ficou desesperado com a minha queda, correu gritando, chamando a atenção de todos na fazenda, mas assim que me levantei e gargalhei vibrando pela conquista ele me rodou no ar. Ainda tenho a cicatriz no queixo.

A primeira vez que montei, não tenho certeza se me lembro ou se criei a lembrança do tanto que ele conta, foi por causa dele que também aprendi a amar os cavalos. Ganhei Trovão de presente, logo após uma égua, Lua, que era do meu pai e depois passou a ser do meu irmão dar a luz. Um potrinho arredio, que ficou grande demais e imponente, que não gosta de mais ninguém além de mim. É até engraçado, o bicho é bravo até eu aparecer. Parece até mentira.

Depois veio a fase da escola, eu tive que lidar com um irmão ciumento que afugentava, por conta do seu porte físico e diferença de idade, qualquer garoto que tentava se aproximar de mim. Sem contar as  meninas que queriam ser minhas amigas só pra ficar perto dele.

No fim restavamos nós dois e o Rafa.

Vi Fernando se tornar um homem, irmão e filho amoroso e protetor. Sempre disposto a ajudar quem precisa. Muito além de um patrão, um amigo, que era respeitado por todos no fazenda.

— Por que essa carinha triste? — Sabia que ele não deixaria passar.

— Saudade de casa, de vocês...

— Então vem embora uai. A gente também tá morrendo de saudade você.

Como eu iria embora se agora eu tinha Clara e Raul? Como simplesmente eu faria as malas e voltaria pra casa? Aquele aperto só intensificou e não dava mais pra esconder do meu irmão o que estava acontecendo.

— Desde quando existem segredos entre nós, Nanda?

Sorri diante da sua pergunta. Foi inevitável, esse laço que nós tínhamos era estranho e incrível ao mesmo tempo.

— Eu me envolvi com o Raul, o pai da Clara.

Meu irmão ficou em silêncio, sabia que ele estava pensando em tudo que aquela confissão implicava. Me preparei para o surto que viria. Conhecia bem Fernando, não duvidava que ele quisesse pegar um avião e me levar de volta arrastada para casa ou que fosse até a casa de Raul tirar satisfação. Ele era assim.

— Me conta como isso aconteceu.

Uai, ele estava calmo? Não tinha gritado, surtado ou exigido que eu fosse imediatamente embora?

— Você tá bem? Não vai surtar? — Perguntei e rimos juntos.

— Ainda é difícil pra mim entender que você cresceu. Que não é mais a minha irmãzinha, o bebê que eu preciso cuidar e proteger. Aceitar que você agora é uma mulher... — Meus olhos encheram imediatamente ao notar que a emoção na voz do meu irmão. Não consegui dizer nada e ele continuou.

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora