Epílogo- Parte 1

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- FERNANDA, CHEGUEI E ESTAMOS INDO. - O meu irmão gritou do andar debaixo.

- TÁ BOM! - Respondi tentando vestir mais uma calça jeans.

- TCHAU MÃE!

- TCHAU CLARA, PEGOU A LANCHEIRA NA COZINHA?

- SIM, TE AMO! - Sorri e respondi com o coração aquecido. - EU TE AMO, FILHA!

Desde que nos mudamos há quase dois anos tem sido assim a nossa rotina. Quem estiver disponível, leva Clara para o colégio na cidade vizinha. Na maioria das vezes é o meu irmão e desconfio que ele faça muita questão de sempre ser ele o motorista da vez. A relação dos dois ficou ainda mais próxima e intensa. A minha filha é completamente apaixonada no tio, e o meu irmão faz exatamente tudo que ela quer. O que já nos rendeu boas discussões, mas no final, além de brava eu fico muito feliz, pois aqui nós conseguimos construir o nosso lar.

No começo não foi fácil, principalmente para Raul. Eu estava em casa, apesar de ser uma residência diferente, ela fica dentro da nossa propriedade. Um pouco longe da casa dos meus pais, o que nos dá muita liberdade e próximo o suficiente para irmos e voltarmos a qualquer momento. Era como se fossemos vizinhos.

Raul levou um tempo para se adaptar ao trabalho a distância. Em casa, ele construiu um escritório, onde controlava tudo, da mesma maneira que fazia no Rio. Pelo menos uma vez na semana ele ia presencialmente ao escritório, quando muito necessário, por conta de reuniões, acabava passando dois ou três dias por lá, a sua secretária foi promovida e com a sua ajuda o meu marido conseguia manter o home office, o que eu adorava, já que tínhamos muito mais tempo juntos.
Ele cumpria rigorosamente os seus horários, mesmo estando em casa, mas nada me impedia de ocasionalmente fazer uma visita na sua sala.

Com o tempo a nossa relação fortaleceu-se, éramos diferentes, porém, tínhamos muitas coisas em comum, o melhor e mais importante, a gente procurava sempre entender e apoiar o outro.
Raul foi fundamental quando decidi que comercializaríamos o nosso café. Com o seu conhecimento profissional ele tomou a frente da parte burocrática e tornou-se o meu sócio e parceiro de negócios.

O nosso produto é um sucesso, focamos na divulgação do cultivo que fora cem por cento orgânico e ganhamos espaço no mercado. Agora estávamos nos preparando para o próximo lançamento, uma linha gourmet e inovadora.

Tudo que eu sempre sonhei estava acontecendo, de uma maneira muito melhor. Estava trabalhando na fazenda, diretamente com as terras e tinha a minha família comigo. Eu e Clara, com a ajuda de alguns funcionários, cultivamos a nossa própria horta. O meu marido amava termos tantas verduras e legumes no quintal de casa. Construímos galinheiro, curral, galpões para o café, máquinas e tudo que precisávamos!

A minha filha amava participar do dia a dia na fazenda, com quase oito anos, Clara amava ficar no haras e lidar com os cavalos, para o deleite do meu irmão, ela dizia querer seguir os seus passos e ser veterinária. Fazia aulas de montaria e se deixasse passava mais tempo na casa dos meus pais do que na nossa.

- Mais uma calça perdida, amor? - Olhei meu marido pelo reflexo do espelho e sorrimos. Ele acariciou a minha barriga e suspirei.

- Mais uma, vou colocar separada. Preciso comprar calças de elástico.

A minha barriga estava cada vez maior, era impressionante como estava crescendo rápido. Com quase cinco meses, nosso menino já mostrava que seria grande. Toda a família estava ansiosa a espera do nosso João. Em alguns meses seriamos quatro!

Assim que encaixamos nossa rotina e finalmente conseguimos alinhar a nossa vida, eu e Raul decidimos que era a hora de tentar mais um filho, alguns meses depois sentindo alguns sintomas, fiz um teste rápido e confirmei a gravidez.

- Não vejo a hora de ver o rostinho dele. - Raul disse me abraçando. Ele era um pai incrível e estava se redescobrindo com a minha gravidez tranquila. Totalmente diferente de como foi com Clara. Ele me mimava 24 horas por dia e sua preocupação chegava a ser exagerada. Mas eu compreendia e aceitava todos os agrados com muito amor e gratidão.

Gratidão, essa com certeza era a palavra. Por conta de um desejo que nem sei de onde surgiu, decidi me mudar para uma cidade estranha e sozinha, buscando por algo, que até aquele momento eu não sabia o que era, hoje, eu sei exatamente o que me esperava: a minha família!

♡♡♡

Raul

A data prevista para o nascimento de João estava próxima e Fernanda me matava com a sua disposição. Ela não parou um dia sequer, trabalhou, cuidou da Clara e andava para cima e para baixo esbanjando a barriga mais linda do mundo. Era incrível imaginar que lá dentro estava o nosso filho, crescendo com saúde e muito amado. Tudo entre nós era tão bom e hoje eu sei que isso sim, é o amor. Uma relação saudável, feliz e cheia de cumplicidade.

Fernanda era uma mãe excepcional, uma empresária competente, dona de casa dedicada e eu não sei como ela fazia para dar conta de tudo e ainda sustentar aquela barriga enorme.
Desde que nos mudamos, a minha vida principalmente mudou drasticamente. Morando na fazenda toda a rotina que estava acostumado, deu lugar a algo novo. Sem trânsito, sem violência, sem poluição e apesar de a qualidade de vida ser infinitamente melhor, no início foi um pouco complicado conseguir alinhar tudo.

Hoje, completamente adaptado a vida no campo, não trocaria a nossa rotina por nenhuma outra. Eu adorava ter a nossa própria horta, ovos e leite frescos, amava o fato de ver a minha filha crescendo livre e saudável, cercada por pessoas boas que a amava. A nossa família era unida e feliz e eu não poderia estar mais realizado.

Observei Fernanda de longe, enquanto eu dirigia até a casa dos seus pais, ela estava aos pés da escada conversando com o seu irmão, a mão na barriga e com a outra ajeitou o chapéu na cabeça. Clara estava se aproximando e puxava a rédia da sua égua, com a sua fiel companheira ao lado, Amora, a cachorrinha que os meus sogros deram a ela, era uma sombra e super protetora.

A nossa filha estava começando a montar na égua que ganhou do meu cunhado de presente, Estrela foi domada e todos os dias no fim da tarde o meu cunhado dava aulas de montaria a Clara. Eu e Fernanda assistíamos e adorávamos acompanhar a sua evolução. Era visível como a minha filha era muito feliz e amava os animais.

Ao fundo da pista onde Clara cavalgava o céu estava pintado em vários tons de laranja e amarelo, o que me fez lembrar do dia do nosso casamento. Infelizmente não foi possível nos casar logo após o aniversário da Clara, tanto por conta da burocracia quanto pela mudança. Foi uma cerimônia simples, na fazenda, num fim de tarde, com um pôr do sol incrível e o lago de fundo. O mesmo lugar onde pedi Fernanda em casamento. Ela caminhou na minha direção, como um anjo, pés descalços num caminho coberto por flores. O seu pai a entregou a mim, e eu prometi que iria amá-la até o fim da minha vida.

Não teria como ser diferente eu a amaria para sempre!

Reta final, mais um capítulo e chegaremos ao fim! Estou emotiva, amo essa história e espero que vocês também tenham gostado! Sei que preciso melhorar e espero um dia ser uma autora tão boa quanto as que eu amo acompanhar e sou fã.

Até breve! ❤️

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora