Capítulo 6

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O dia nem amanheceu e já me vejo desperta depois de uma longa noite em claro. Decido por fim me arrumar e descer para o café da manhã. Na cozinha encontro alguns funcionários à mesa e meu irmão que nem me olha quando me aproximo e cumprimento todos.

Assim que me sento e começo a me servir de uma xícara de café, tia Tereza puxa assunto percebendo o clima tenso entre nós.

— Rafa disse que vem nesse fim de semana.

Já era tempo! Rafa é filho de tia Tereza e foi criado junto com todos nós aqui na fazenda. Ele é como um irmão para Nando e meu melhor amigo. Não posso o considerar um irmão, já que nós dois tivemos um relacionamento. Meu primeiro beijo, minha primeira vez. Rafa foi o primeiro e único na minha vida. Ele é um príncipe, aquele tipo de pessoa que faz tudo pelos outros. É gentil, muito carinhoso, honesto e generoso, desde sempre esteve presente em nossas vidas. Meus pais são seus padrinhos de batismo e isso fez com que fossemos ainda mais próximos. Ele está no último semestre do curso de Agronomia, durante a semana ele fica na cidade onde conseguiu uma bolsa integral de estudos, e só vem aos finais de semana para casa.

Porém, nos últimos cinco finais de semana ele não veio. Rafa é muito parecido com Nando, e estava me sufocando com seu ciúme e como vocês devem imaginar ele não aprova a minha mudança para o Rio. Tivemos uma briga feia, ele foi para a faculdade e desde então não voltou, não me ligou, nada... Não trocamos nenhuma palavra em todos esses dias. Nós nunca ficamos tanto tempo sem contato, e confesso que estou ficando sufocada de tanta saudade. Eu o amo, isso é um fato!

Desde que demos nosso primeiro beijo, eu com quatorze e ele com dezoito anos, continuamos nos beijando as escondidas, não por Rafa que já queria contar para meu irmão, mas por mim que morria de medo de Nando não aprovar e acabar brigando com seu melhor amigo. Ficamos um tempo nos encontrando as escondidas e devido à persistência de Rafael, juntos, contamos ao meu irmão. Ele deu uma surtadinha na época, mas depois ficou super contente, afinal sua irmã e seu melhor amigo estavam juntos. Meus pais e os pais de Rafa também aprovaram, e com o tempo nossa relação que já era consolidada, se tornou ainda mais fortalecida.

Nós estávamos cada dia vez mais próximos ainda mais apaixonados. Nossa primeira vez foi perfeita e isso nos ligou ainda mais. Porém Rafael foi para a faculdade e além do seu ciúme, preciso confessar que eu também dei uma piradinha. Ele é lindo, todo gentil e solicito, é óbvio que as meninas iam cair em cima dele. E no fim, depois de tantas brigas acabamos terminando.

No entanto, continuamos ficando, como eu disse, temos uma ligação muito forte, entretanto da última vez tivemos uma briga feia e ele disse que estava tudo acabado. Sinceramente não levei a sério, acreditei que no dia seguinte ele faria como sempre, me mandaria mensagem ou me ligaria por vídeo e ficaria tudo bem, mas não. Já se passaram cinco semanas, malditos trinta e cinco dias e as únicas notícias que tenho dele vêm através de meu irmão ou tia Tereza.

— Achei que ele não voltaria mais. — Respondi querendo parecer desinteressada enquanto bebia meu café forte e fumegante.

— Vocês ainda estão brigados? — Tia Tereza perguntou de costas sem parar de lavar as louças na pia.

— Sim, e eu não to nem ai.

Ouvi risadinhas do pessoal que estavam na mesa, Fernando disfarçou o sorrisinho cínico abaixando a cabeça. — Isso ainda vai dar casamento! — Ouvi de um dos peões da fazenda, um dos mais antigos que nos conhecia desde pequenos.

— Deus me livre! Já basta um no meu pé, não preciso de outro cão de guarda! —  Fernando se levantou batendo as mãos na mesa, e os outros rapazes que estavam tomando café esperaram que ele estivesse longe para dar risada do seu comportamento. Tia Tereza parou seu trabalho e se virou, as risadinhas acabaram e eu sabia que vinha sermão. 

— Vocês precisam parar com essa história de ficar sem conversar. Ele liga e fica perguntando de você, você fica perguntando dele, que bobeira.

— Não é pra falar que eu pergunto dele, tia.

Ela sorriu, secou as mãos no pano de prato que trazia no ombro. — Tudo bem, eu não falo. Do mesmo jeito que não falo que ele pergunta de você toda vez que liga.

— Sua traidora, fofoqueira. —  Ela sorriu e me bateu com o pano. Levantei e me aproximei para que somente ela ouvisse minhas palavras. — Quando ele ligar de novo, diz que eu to morrendo de saudade. —  Ela sorriu e eu sai da cozinha para dar início a mais um dia de trabalho.

Como se fosse um castigo passei o dia todo com Rafa na cabeça. Por que será que ele não veio? Tem alguma coisa nessa história. Eu entendo que ele esteja no fim do curso, que são muitas coisas para resolver, mas cinco semanas?

Talvez ele só se cansou de você! 

Uma voz dos infernos sussurrou no meu ouvido. Rafa sempre deixou claro que após a faculdade voltaria para a fazenda e aqui construiria sua vida, sua família, criaria seus filhos. No entanto entre nós sempre existiu a incerteza de um futuro, por conta da minha vontade de me mudar. Não lhe tiro a razão, ele não tem segurança ao meu lado, ele nunca iria comigo, e eu nem lhe pediria isso, e também seria cruel pedir que  me esperasse. É, talvez seja isso, ele se cansou! Rafael não é desses homens que se aventuram, que pula de um relacionamento para outro, com certeza ele não vê um futuro entre nós e achou melhor me afastar de vez.

***

A semana passou voando e quando vi já era sexta. O dia que Rafa chegaria... Trabalhei o dia todo com um olho na estrada e qualquer veículo que se aproximava meu coração já se agitava com a expectativa de ser ele. No fim do dia eu já estava com dor de estômago, tentei especular alguma novidade com Nando, mas ele ainda não estava falando comigo e sempre que eu me aproximava ele dava um jeito de se afastar. Tia Tereza percebendo minha afobação contou que ele havia ligado avisando que chegaria em breve.

Estava recolhendo alguns cavalos para suas respectivas baias, quando ouvi o som do motor de uma camionete, eu sabia que era ele. Segui meu irmão até o pátio em frente nossa casa, e permaneci um pouco afastada. Meu coração errou uma batida quando o vi descer, ainda mais lindo, com os cabelos mais curtos, a pele morena e aqueles olhos cor de mel que eu tanto amo. Sorri quando nossos olhares se encontraram e minhas pernas traidoras, como se tivessem vontade própria, caminharam até ele que me olhou por alguns segundos antes de me acolher em um abraço. Um dos meus lugares preferidos!

— Que saudade Rafa! 

Minha voz saiu embargada e senti meus olhos molhados. Ficamos um tempo assim, sentindo o calor de nossos corpos unidos, ele me apertou ainda mais forte e me arrepiei quando ele disse próximo ao meu ouvido: — Saudade demais estrela!

Afastei-me e olhei em seu rosto, automaticamente reconhecendo cada detalhe, cada sinal de expressão, suas sardinhas no nariz, seus longos cílios. Meu Deus, eu estava mesmo com muita saudade dele!

O barulho de uma porta sendo fechada me tirou da nossa bolha e quando eu procurei por quem havia sido o responsável por estragar nosso momento, meu coração não errou as batidas, ele parou. Sim, não estou exagerando. Eu tenho certeza que meu coração parou. 

Fiquei paralisada, Rafael se virou para a moça que saiu de sua camionete. Filho da mãe! Ele trouxe uma garota.

Inferno! 

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora