Raul
O meu mundo estava de cabeça para baixo. No quarto da minha filha, sentei-me na cama e observei cada cantinho com as suas coisas. Os brinquedos, a decoração que ela amava das princesas, o armário com as suas roupas e sapatos, as fotos. Tudo ali tinha o jeitinho dela. O que seria de mim sem a minha filha?
Eu estava completamente apavorado com o diagnóstico, ver Nanda surtar me fez entender que eu precisava ser forte por nós três. Mas como eu conseguiria se por dentro eu estava destroçado?
Uma doença rara, desconhecida e perigosa.A conversa que tive com o médico depois que ele fez a nova coleta de sangue ainda rondava a minha cabeça. Essa Hepatite ainda era um mistério para a ciência, ela poderia agir de forma leve ou agressiva.
Cerca de 10% dos casos exigiu um transplante de fígado. Me permiti desmoronar ali, sozinho e chorei desesperado pela possibilidade. A minha filha era só uma criança inocente, porquê ela tinha que passar por isso?
Achei melhor não dizer nada a Fernanda, se Deus quiser o transplante não seria uma opção e o tratamento se faria necessário. Nanda estava tentando ser firme, mas ela não conseguia e acabava se desmanchando em lágrimas. A sua atitude desesperada mostrou o quanto ela se preocupa com a minha filha e não me passou despercebido quando ela se referiu a Clara como a nossa filha.
Peguei tudo que julguei necessário, roupas, brinquedos, livros e o tablet. Fiz duas malas, tomei um banho rápido e voltei para o hospital. Bruno mais uma vez estava sendo um irmão. Não saiu do nosso lado um minuto. No caminho de volta não trocamos uma palavra, era palpável o quanto estávamos apreensivos.
Ao chegarmos, fomos direto para o quarto de Clara, minha filha e Nanda estavam vendo um filme na TV e pude notar que Clara estava ficando com a pele amarelada. Mais um sintoma da doença. Respirei fundo e não deixei que o desespero tomasse conta de mim. Eu precisava ser forte pela minha família.
Assim que Clara dormiu, Fernanda tomou banho e Bruno trouxe uma marmita para o nosso jantar. O meu amigo deu um beijo na afilhada e prometeu que voltaria no dia seguinte. Comemos um pouco em silêncio e após organizarmos tudo, Fernanda e eu nos deitamos nas nossas cadeiras, que estavam grudadas uma na outra, e ficamos o mais próximos que conseguimos.
Segurei a sua mão e dei um beijo.
— Obrigado por ficar! — Eu não tinha dúvidas que ela ficaria, porém, sabia que Fernanda não tinha obrigação nenhuma de estar ali, ao meu lado. Ela não era a mãe biológica de Clara, era jovem e poderia escolher uma vida mais fácil, a vida que, aliás ela tinha na fazenda. Eu nunca me cansaria de me perguntar, o porquê ela me escolheu.
— E onde eu estaria se não ao lado de vocês? — Ela beijou a minha mão, como fiz com a dela. — Vocês são a minha família, Raul, eu sinto como se Clara fosse a minha filha. Nós não temos o mesmo sangue, mas eu a amo de todo o meu coração. Não tenha dúvidas, se eu pudesse eu trocaria de lugar com ela. Não duvide do meu amor por vocês.
— Eu não duvido, eu te amo. Não sei o que seria de mim sem você ao meu lado.
— Eu sinto muito por perder a noção quando o médico explicava sobre o diagnóstico. Eu deveria ter sido sua parceira e não surtado.
— Você foi e está sendo a minha parceira. Vai ficar tudo bem e logo nós voltaremos para casa.
♡
Na manhã seguinte Clara iria fazer uma ultrassonografia para que o médico avaliasse como o seu fígado estava, já que os exames de sangue específicos deram muito alterados. Foi confirmada a possibilidade da hepatite misteriosa e agora partiríamos para o próximo passo: saber o quanto o fígado estava sendo afetado pela doença.
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Laços de Amor (CONCLUÍDA)
Historical FictionFernanda, envolta pelo calor familiar de uma fazenda em Minas Gerais, nutria em seu coração o anseio de desbravar o Rio de Janeiro. Determinada a realizar seu sonho, ela parte para a cidade maravilhosa, onde sua vida toma um rumo inesperado ao cruza...