Capítulo 36

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Fernanda

O nosso dia não poderia ter sido melhor. Nós passeamos, comemos todos juntos, conversamos, rimos e ainda teve a oportunidade de falar sobre a mãe de Clara. Fiquei apreensiva que Raul me achasse intrometida. Por mais que tivéssemos um relacionamento eu sabia haver limites, não queria ser invasiva e falar sobre um assunto tão delicado, mas foi tão natural e Clara encarou a nossa conversa de forma muito espontânea.

Recebi um beijo quente, apaixonado e a promessa de uma noite inesquecível. Raul estava emocionado, aquele assunto era sempre evitado por ele e agora de uma maneira simples e lúdica conseguimos explicar a Clara. Obviamente que ainda teríamos outros momentos,  principalmente quando ela ficasse maior e  novamente a curiosidade surgisse.

A possibilidade da mãe dela voltar e tentar uma reaproximação assombrava-me. Se ela quisesse o seu lugar de volta, como mãe da Clara, eu não poderia impedir. No entanto, ao lado de Raul, ela teria que nascer de novo. Jamais abriria mão do meu amor.

Todos na fazenda estavam animados, a noite teria uma roda de viola. Todos os funcionários amavam esses momentos, eles conectavam-nos e tornavam-nos ainda mais unidos. O clima de festa, alegria e confraternização deixou-me com um gostinho amargo de saudade. Ainda nem fomos embora e já estava morrendo de saudade.

Os preparativos estavam intensos, a festa aconteceria ao ar livre. Algumas mulheres montavam animadas uma decoração improvisada. Luzes e algumas flores.
Alguns rapazes empilhavam pedaços de madeira formando uma fogueira. Seguindo a tradição assariamos queijos, carnes, linguiças, pães e muitas outras coisas gostosas. As bebidas já estavam no gelo e tia Tereza com certeza preparava alguns doces para sobremesa.

Observei o meu pai animado abraçado a minha mãe que mantinha Clara no colo. Eles riam de alguma coisa que o meu irmão falou após jogar um pedaço de madeira no amontoado que seria a fogueira. Raul estava em cima de uma escada ajudando as meninas a amarrar umas luzinhas numa árvore.

Era o cenário perfeito, eu não queria ficar longe.

Sentindo um aperto na garganta e uma vontade enorme de chorar, fui para um dos meus lugares preferidos: O lago!
Era início do fim da tarde e com isso o pôr do sol visto do deck era um espetáculo. Sentei-me no chão de madeira com as pernas cruzadas e me deixei levar pelas lembranças. Vivi tantos momentos inesquecível nesse lugar, com meu irmão, Rafael e tantas outras pessoas. Por que eu não poderia viver ali com eles? Será que seria algo impossível? A tristeza de pensar na possibilidade de ter que escolher entre a minha casa e o Rio de forma definitiva me fez chorar.

Estar de volta ao meu lugar me deixou extremamente sensível. Não tentei impedir e chorei, acompanhando a beleza de um pôr do sol que parecia mais uma pintura de tão belo.

Ouvi passos pesados atrás de mim e Rafael sentou-se ao meu lado.

— Qual o problema? — Ele era uma das pessoas que eu mais amava. O meu amor por ele não diminuiu, ao contrário, tornou-se mais forte, contudo de uma maneira diferente. Ele também me conhecia como a palma da mão.

— Não quero ir embora. — Respondia com a voz embargada e respirei fundo.

— Então não vai. — Ele não estava me olhando, ambos estávamos apreciando o “show” da natureza a nossa frente.

— Não posso deixá-los. — Respondi e essa era a minha maior certeza no momento. Eu não deixaria Raul e Clara para ficar.

— Ele parece ser legal, e demonstra gostar muito de você.

— Eu fui atrás de um sonho idiota de morar na cidade grande e voltei com um namorado e uma filha. — Sorrimos juntos e ele abraçou-me pelos ombros dando um beijo na minha cabeça. — Eu os amo muito.

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora