Capítulo 19

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Os aliados de Senka receberam o convite de Kardama e enviaram suas respostas informando que compareceriam na data marcada. Assim, mais dias passaram antes que todos viessem para fazer a reunião que precederia a coroação.

O castelo tinha quartos suficientes para receber todos os convidados, que ficariam até depois da coroação, se fosse o caso de a maioria deles reconhecerem o novo rei itzan.

Aquele dia era um dos mais frios e o sol escondeu-se atrás de nuvens cinzentas que deixavam tudo mais pálido em Senka. Eu estava sentada em uma cadeira ao lado novo rei no salão do trono enquanto tínhamos uma conversa discreta sobre o casamento entre as entradas dos plebeus e nobres que vinham fazer pedidos, dar informações ou resolver assuntos que eram da importância real, como os julgamentos que os guardas não conseguiam resolver.

— Sem ensopado de okela — estreitei meus olhos ao falar.

— Com ensopado de okela ou não haverá casamento — Kardama continuava a protestar enquanto encarava o jardim através das grandes portas abertas no outro lado do salão.

Okela era uma carne com gosto peculiar, que não agradava todo tipo de paladar. Enquanto até mesmo o cheiro forte de sangue, que era característico desse corte, me causava ânsias de vômito, aquele era um dos pratos favoritos do novo rei sombrio.

— Sem casamento — concluí e ele arqueou as sobrancelhas e finalmente inclinou seu rosto em minha direção.

— Sem casamento? — Kardama perguntou para confirmar enquanto tentava conter uma risada.

— Ou com casamento e sem ensopado — respondi irredutível.

— Então com casamento, sem ensopado e com doce de lima oceânica — o rei propôs.

Os doces de lima oceânica também não eram saborosos, mas pelo menos não tinham nenhum odor forte. Por isso balancei a cabeça para concordar.

— Majestade — um guarda entrou e curvou seu corpo para cumprimentar o rei, então continuou quando o ergueu. — Os primeiros convidados chegaram.

— Deixe que entrem e chame algum dos empregados para cuidar das bagagens deles — Kardama falou com calma e o guarda saiu. — Não quer levantar, princesa?

Franzi o cenho ao ouvir sua pergunta repentina, mesmo assim levantei e teria perguntado o que aquilo significava, já que o próprio rei continuava sentado no trono, apoiando seu corpo em um dos braços da grande e confortável cadeira... Quando fui interrompida pela voz do arauto itzan.

— Sua majestade aruniense, o rei Malkiur, de Aruna, e sua esposa, a rainha Nair — o arauto anunciou a entrada dos meus pais.

Inclinei meu rosto rapidamente em direção à porta. Naquela altura eu já estava acostumada com o castelo sombrio e embora sentisse saudade de casa, já não pensava tanto em Aruna.

Vê-los ali tornava tudo diferente. Encarei Kardama mais uma vez, então comecei a caminhar rapidamente para cruzar o salão e abraçar meus pais. Eu queria contar tudo sobre Senka e também mostrar todo aquele território.

Meu pai foi o primeiro a me abraçar, envolvendo meu corpo com o mesmo carinho que sempre teve desde a minha infância. Minha mãe também me abraçou, mas passou mais tempo segurando meu rosto para observá-lo.

— Parece diferente, Helene — ela observou.

Aquele não era o momento para conversas e todos sabiam disso, por isso os dois me deixaram de lado para curvar suas cabeças e cumprimentar Kardama, que fez a mesma reverência para eles. Eu voltei a sentar na cadeira ao lado do rei enquanto trocávamos algumas palavras por mera formalidade.

O Príncipe Sombrio [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora