Capítulo 3

397 46 62
                                    

Organizar um baile não era difícil em Aruna. Eles aconteciam em quase todos os meses do ano por causa das datas festivas. Naquela ocasião foi preciso apenas alterar alguns detalhes na organização da festa da lua de sangue, que aconteceria em duas semanas.

Eu sabia que precisaria conversar com Kardama antes da data do nosso casamento, porque queria esclarecer alguns assuntos, mas minha vontade de evitá-lo sempre era maior. Luz e sombras eram duas forças opostas, que sempre se repeliram em toda a história.

Quando a lua sangrenta despontou no céu noturno e os lobos começaram a uivar, as empregadas estavam terminando de ajustar meu vestido ao meu corpo. Eu não gostava de saias tão grandes e rodadas, tão cheias de camadas de tule, tampouco costumava vestir preto, que apenas realçava a palidez mórbida da minha pele. Aquele vestido brilhante foi uma escolha de Nair, minha mãe, para agradar a família real de Senka.

A parte de cima era composta por um espartilho com decote em formato de coração, cujos nós estavam deixando as empregadas completamente confusas, e mangas longas. Elas também não gostaram muito daquela roupa, mas pareciam entender mais sobre a importância dela do que eu.

Após cruzar as grandes e pesadas portas de madeira do salão onde o baile acontecia, precisei aguardar no topo da escadaria enquanto o empregado anunciava a minha chegada. Todos pararam para dar atenção ao aviso e curvaram-se quando terminaram de ouvir. Meu pai estava no alto, em um camarote de onde não costumava descer durante os bailes. Ao seu lado estavam minha mãe e o rei Daren de Senka, que estava acompanhado por sua esposa.

Meu olhar passeou pelo ambiente decorado com detalhes dourados e eu sorri ao encarar Ermy trajado em sua roupa vermelha de guarda real no pé da escadaria que eu descia. A festa continuou e eu o cumprimentei quando cheguei ao seu lado.

Flautas, violinos e palmas.

— Você está linda, alteza. — Ermy sussurrou enquanto eu caminhava cumprimentando todos aqueles rostos desconhecidos, como a educação exigia que fosse feito.

Mas meu sorriso desapareceu quando encontrei Kardama. Ele costumava usar preto, mas naquela ocasião estava usando uma farda branca com detalhes dourados. O olhar do príncipe sombrio era frio e vazio como sempre, mas seus passos o guiavam em minha direção, abrindo caminho na multidão. Eu sabia que não poderia evitá-lo para sempre.

— Princesa Helene. — O príncipe sombrio curvou seu corpo levemente para cumprimentar e eu repeti o gesto.

— Príncipe Kardama. — respondi com a mesma frieza.

Ele estendeu a mão em minha direção e perguntou.

— Posso ter uma dança?

Encarei seus olhos azuis cintilantes tentando entender o que aquela pergunta realmente queria dizer, mas não havia nada. Tentar ler o príncipe sombrio era decepcionante.

Inclinei meu rosto para Ermy antes de concordar, porque sabia que era o certo a fazer apesar do olhar de reprovação do guarda real.

Flautas, violinos e palmas.

O salão estava cheio, mas isso não parecia importar enquanto eu caminhava ao redor de Kardama, como os passos daquela dança que era um costume tanto para os argians quanto para os itzans. Seu olhar me seguia e eu descobri que ainda guardava certa raiva da última vez em que estivemos tão próximos.

— Pensei que negaria a proposta. — O príncipe sombrio quebrou o silêncio e eu torci meus lábios em um sorriso amargo.

— Eu não confio em ninguém, Kardama Halfu, e não perderia a chance de garantir pessoalmente que você não vai descumprir sua parte do acordo. — Expliquei sem desviar meu olhar do seu.

O Príncipe Sombrio [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora