Capítulo 4

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Quando Kardama e eu nos concentramos juntos pela primeira vez não consegui entender nada. Eu não sabia o que sentia, não compreendia o que compartilhávamos, o que estávamos fazendo ou o que éramos. Muitos questionamentos surgiram em poucos segundos desesperadores, e então tudo sumiu e desmaiamos. Naquela segunda tentativa tudo foi diferente.

Eu entendia perfeitamente o que éramos: um. Um único soldado sem corpo físico, formado apenas de sombras, luz e da batalha entre essas duas forças. A tempestade agora não restringia-se aos céus. Eu controlava sua mente e ele a minha, ao mesmo tempo em que pensávamos de formas distintas, tínhamos os mesmos pensamentos.

Tudo o que aprendi e tudo o que Kardama aprendeu ele também sabia. Ele era eu, mas também era o príncipe sombrio e isso pareceu mais natural do que deveria ser. Mesmo assim era como se houvesse uma barreira entre nós. Nossa desconfiança sobre o outro parecia quase palpável.

Os doze morroians ficaram horrorizados, mas aqueles selvagens preferiam morrer do que recuar em qualquer batalha. Estendi minha mão na direção do primeiro deles que se aproximou para tentar nos golpear, e isso o fez começar a sufocar e o queimou enquanto as sombras de Kardama nos davam cobertura.

Uma das habilidades do príncipe itzan era a de enviar sombras de si em sua frente. Elas não podiam ser feridas, mas poderiam ser eliminadas como fumaça. Kardama costumava precisar de muita concentração para enviar cada uma delas, mas seu poder parecia infinito agora que estávamos juntos.

Os morroians não eram um povo grande, mas seus soldados tinham a habilidade de fazerem clones de si. Além disso, eram fisicamente mais fortes e difíceis de enfrentar, já que lutavam como bárbaros e sabiam se esquivar bem.

Mesmo que estivéssemos juntos, Kardama e eu ainda tínhamos as mesmas habilidades de quando estávamos separados e os morroians sabiam enfrentá-las muito bem, mesmo que alguns dos seus morressem no caminho.

Aquela batalha acabou quando restavam apenas quatro deles. O maior correu em nossa direção com sua espada em chamas e a cravou em nossa barriga, sorrindo satisfeito ao pensar que estávamos mortos. Inclinamos nosso olhar em sua direção e eu senti a risada de Kardama.

Aquele corpo não era físico e isso sim causou medo naqueles soldados.

Tínhamos poder suficiente para fazer todos eles morrerem como o dragão na ocasião anterior, mas a barreira entre nós impedia que fosse usado. O que era aquilo?

De qualquer forma, alguém precisava sobreviver para contar aquela história para os outros selvagens.

- Avise ao seu líder que esperamos mais visitas como essa. - Falamos enquanto segurávamos a cabeça de um deles.

Aquele que segurávamos deu seu último suspiro, porque estava sendo corroído por dentro. Aquela mensagem era para seus colegas, que correram tão rapidamente quanto puderam para fugir dali.

Quando os morroians partiram, deixaram para trás a cidadela em chamas. Olhamos em volta e percebemos a multidão que se aproximava. Eles sentiam medo de nós, porque nunca viram nada sequer parecido, mas também eram gratos e nos admiravam.

Os argians de Aruna ainda não sabiam nada sobre a guerra contra os domadores de dragões e nada sobre Kardama e eu. Os planos não incluíam que eles soubessem até que entendêssemos melhor o que estava acontecendo, afinal não queríamos causar pânico, mas agora todos podiam ver.

Aquele curto tempo juntos já havia sido o suficiente para desgastar cada um de nós, e tudo escureceu de repente.

Senti meu corpo atingir o chão frio, a brisa gelada em meus ombros nus era torturante. Eu não conseguia abrir meus olhos ou mover meu corpo, estava paralisada. Não havia mais qualquer rastro de Kardama em mim.

O Príncipe Sombrio [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora