Capítulo 9

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O baile acabou pouco antes do amanhecer, quando o último convidado partiu em sua carruagem. Todos foram dormir imediatamente, porque estavam exaustos, mas eu continuei acordada.

Deitada em minha cama, eu encarava o teto sem conseguir desviar meus pensamentos do beijo. Ele não tinha qualquer significado e foi útil, já que até mesmo a rainha ficou surpresa quando viu, mas eu ainda o sentia como um grande erro.

Ter seu maior inimigo como seu aliado mais próximo é uma ideia confusa, principalmente para mim. Cresci me preparando para lutar contra os itzans e nunca sequer poderia imaginar que um dia estaria em Senka, descobrindo que eles são pessoas muito melhores do que eu esperava.

O sol já iluminava aquele dia quando o sono conseguiu vencer meus pensamentos confusos. Minhas pálpebras pesavam mais a cada vez que eu piscava, e a cama parecia mais confortável, até o momento em que, sem perceber, adormeci.

Já era tarde quando abri meus olhos novamente, com o coração acelerado e sem lembrar de qualquer sonho, assustada sem saber o motivo. Olhei em volta, lembrando que não estava em casa e que estava sozinha.

Levantei da cama e caminhei diretamente para o banheiro, onde a empregada silenciosa já havia deixado um banho preparado. A água ter esfriado pela demora não era um problema, já que os argians tinham capacidade de gerar calor.

Peguei um dos vestidos brancos com mangas longas mais simples que havia levado. Eu não precisava de ajuda para vestir as roupas que usava diariamente, porque elas não tinham saias volumosas ou espartilhos.

Saí do quarto para continuar minha busca pela biblioteca do castelo quando estava vestida, mas não demorei a perceber que estava sendo seguida por alguém além da empregada silenciosa.

Parei de andar e olhei para trás, encontrando a irmã mais nova do príncipe, Anika. Franzi o cenho e encarei os arredores em busca de sua mãe ou da empregada que deveria estar cuidando dela. A princesa era jovem demais para andar sozinha pelo castelo.

— Onde está sua dama de companhia? — Quebrei o silêncio para perguntar, mas ela continuou calada. — Você gostaria de tomar um chá?

— Eu não posso ser agradável com nenhum argian. Foi o que minha mãe disse. — A criança cruzou os braços ao falar, como se minha pergunta fosse ofensiva.

— Não precisamos ser agradáveis enquanto bebemos chá. Podemos ficar em silêncio ou trocar ofensas e ameaças. — Dei de ombros ao falar e isso foi o suficiente para que ela ficasse satisfeita.

Anika deu alguns passos e estendeu a mão para segurar a minha enquanto me observava com raiva. Tentei conter uma risada, então encarei a empregada silenciosa que sempre estava por perto.

— Pode servir xícaras de chá e biscoitos para nós duas na sala de chá, por favor? Procure também a dama de companhia dela. — Pedi para a empregada, que balançou a cabeça para confirmar e adiantou seus passos pelos corredores.

— Também não devemos ser agradáveis com os empregados. — A princesa reclamou irritada.

— No lugar de onde venho, devemos ser agradáveis com todas as pessoas que não nos fizeram mal algum. — Expliquei enquanto encarava o fim do corredor, para onde caminhávamos com calma.

A pequena princesa franziu o cenho, mas não disse nada a respeito. Ela certamente estava confusa e eu já estava cansada de ouvir sobre as coisas que a rainha falava.

A sala de chá no castelo de Senka era ocupada com apenas algumas mesas redondas, alguns apoiadores feitos de madeira, uma cristaleira e um pequeno fogareiro na bancada, que servia para aquecer a água. As grandes janelas permitiam que víssemos a floresta coberta de neve.

O Príncipe Sombrio [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora