Os primeiros dias em Senka foram os mais assustadores. Ficar acostumada com o castelo sombrio e silencioso era uma tarefa mais complicada do que eu gostaria de admitir.
Kardama e eu não nos encontramos muitas vezes, porque o príncipe tinha muitos assuntos para resolver ao lado do rei Daren II. A rainha e as princesas sempre saíam para participar de eventos da alta sociedade itzan sem fazer qualquer convite. Eu também pensava que era melhor encontrá-las apenas durante o jantar.
Não demorei a notar que eu era seguida por uma das empregadas quando caminhava pelo grande castelo. A mesma que sempre trocava minhas roupas de cama, preparava meus banhos e que trazia as primeiras refeições do dia para que eu comesse dentro do quarto. Ela provavelmente estava seguindo ordens, mesmo assim era um pouco incômodo.
Em Aruna era Dahle quem realizava a função de me seguir pelo castelo, mas ela era como uma segunda mãe para mim e por isso sua presença parecia mais natural. Ela também deveria estar naquela viagem, já que não era comum que uma mulher estivesse sem sua dama de companhia, mas planejei aquele passeio como costumava planejar os acampamentos do meu grupo na guerra contra os itzans. Eu não costumava andar acompanhada.
O castelo de Senka era enorme e todos os seus corredores, que eram escuros mesmo durante o dia, pareciam iguais. Eu ainda não havia encontrado sequer a biblioteca em meio a tantas portas e entradas, mas certamente encontrei o caminho para alguma espécie de passagem secreta, que prometi a mim mesma voltar para explorar quando estivesse sozinha.
Naquela noite haveria um baile, porque a nobreza itzan estava curiosa para conhecer a primeira argian na linha de sucessão. A rainha Nisha não conseguia esconder seu desconforto, mas sua arrogância não importava. Todas as vezes em que olhava para ela agora, eu lembrava do segredo do príncipe.
A empregada silenciosa, que nunca revelou seu nome, estava me ajudando a vestir o vestido dourado em estilo evasê, que tinha decote ombro a ombro e mangas longas feitas de renda. O interior do castelo era aquecido, por isso não era preciso usar capas ali.
O salão já estava cheio quando cheguei e tentar olhar em volta em busca do príncipe era inútil. Meu nome foi anunciado, como os de todos os membros da família real deveriam ser, e de repente todos os olhos azuis cintilantes no salão voltaram-se em minha direção curiosos.
Eu já sabia que seria a única usando qualquer cor clara, mas isso pareceu mais evidente enquanto era julgada por todos os nobres de Senka. Não conhecer ninguém apenas tornava aquela situação ainda mais constrangedora.
O príncipe sombrio estava no camarote que ficava no andar superior. Ele parecia estar discutindo com a rainha enquanto o rei ouvia em silêncio. Franzi o cenho ao observar, sentindo uma pontada de curiosidade.
Algumas pessoas fizeram apresentações breves e tive a oportunidade de descobrir que nem todos em Senka eram arrogantes. Na verdade, aquelas pessoas pareciam muito mais com a mãe do príncipe do que com a família real.
Todos estavam curiosos sobre minhas habilidades. A população itzan não sabia muito sobre os argians, já que a paz entre os dois povos era algo recente. Muitos deles sequer imaginavam que tínhamos as mesmas características físicas, exceto por detalhes como as cores dos olhos. Enquanto os magos das sombras tinham olhos azuis cintilantes, os magos da luz tinham olhos castanhos dourados.
Também recebi apelidos como "a princesa brilhante" ou "iluminada", mas o mais engraçado de todos veio de um homem com cabelos brancos e couro cabeludo exposto pela calvície: "destruidora de haréns". Aparentemente a informação de que Kardama havia dispensado suas concubinas era de conhecimento geral.
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O Príncipe Sombrio [COMPLETO]
General Fiction[O Príncipe Sombrio é o 1° livro da trilogia Reino de Luz e Sombras]. A rivalidade entre os magos de luz e os magos das sombras gerou uma grande guerra, que não parecia ter fim ou ganhador até o surgimento de um dragão com uma ameaça que poderia des...