Epílogo

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Quando o dia amanheceu e todos estavam começando a contabilizar todas as perdas, encarei Aruna através de uma das janelas do castelo. Meu reino estava completamente destruído como nunca antes e aquilo partia meu coração.

Kardama deitou para descansar por algumas horas, mas meus pensamentos não permitiam que eu fizesse o mesmo. Eu estava preocupada com os argians, com nossa amada Aruna e pensando em meu pai. Eu era a culpada por ele estar adormecido, e tudo o que desejava naquele momento era ouvir sua voz e seus conselhos.

Enquanto eu caminhava no corredor para tentar distrair minha mente, a mão direita do rei de Aruna, um idoso calvo e baixo, aproximou-se de mim. Ele queria avisar que agora que meu pai estava adormecido e portanto impedido de governar, eu deveria ocupar seu lugar até que acordasse de seu sono.

Naquele momento deparei-me com outra das escolhas difíceis como as que sempre precisei fazer. Se ficasse em Aruna para governar, Kardama precisaria voltar para Senka e não poderíamos estar juntos... Mas eu não poderia abandonar meu povo e minha família.

Colocar os argians em primeiro lugar sempre foi meu dever. Apesar de antes ser difícil abrir mão dos meus sonhos para arcar com minhas responsabilidades, aquela era a primeira vez em que escolher a coroa de luz partia meu coração.

Tomei um banho e troquei a malha de ferro dourada por um dos vestidos brancos no armário. Decidi ficar na sacada encarando Aruna enquanto tentava aceitar a ideia de arcar com aquela responsabilidade.

Quando Kardama parou ao meu lado, inclinei meu rosto em sua direção com os olhos marejados e abri meus lábios para falar. Aquelas palavras não pareciam minhas.

— Os argians precisam de um governante enquanto meu pai está adormecido — comentei.

O rei de Senka ficou paralisado por alguns segundos, porque entendeu o que eu queria dizer.

— Eu imaginei, princesa.

— Isso significa o fim para o nosso casamento? — perguntei tentando esconder meus olhos marejados.

— Não, princesa. Isso significa que ficaremos separados por algum tempo antes de construirmos um castelo no meio do caminho para nós — ele respondeu olhando em volta para evitar me encarar.

Sorri entristecida.

— Tudo bem.

— Você sabe que podemos visitar um ao outro sempre que quisermos, não sabe? — Kardama perguntou, então encarou a própria mão que continha uma marca escura e respirou fundo. — Acho que essa fusão torna esse tempo separados algo mais difícil do que deveria ser.

Balancei a cabeça para concordar e dei uma breve risada.

— É como se estivéssemos nos separando de parte de nós mesmos. E de fato é assim — concordei.

— Por isso eu não vou saber o que fazer se algo acontecer com você enquanto estiver aqui, princesa.

— Eu sei... "Porque se eu morrer, não poderemos cumprir q profecia". — Revirei meus olhos ao imitar o tom de voz que ele sempre usava.

— Não. Porque não estou disposto a perder parte de mim.

Encarei seu rosto por alguns segundos antes de voltar a olhar para Aruna. Era uma frase surpreendente quando vinda do rei sombrio. Toquei sua mão, mesmo que agora não estivesse olhando em sua direção.

— Eu também não estou disposta a te perder.

— Senka não está em perigo por agora. Você e Aruna estão. — Ele fez uma pausa e me encarou pelo canto dos olhos. — Eu estou depositando minha confiança em você para proteger Aruna e a si mesma. Se morrer, princesa, eu não a perdoarei.

Vê-lo partir para Senka sem a certeza de que nos veríamos novamente foi como estar sem chão. Mesmo assim, eu não poderia deixar Aruna, aquele era o meu lugar e aqueles eram os meus deveres. Mais do que isso: era a minha família precisando de mim.

Naquele momento eu senti que estava partida em diversos pedaços, todos tristes... E nenhum deles podia coexistir.

Aqueles foram os primeiros dias escuros e cinzentos de Aruna e eu não consegui abrir qualquer sorriso enquanto a coroa dourada de luz era colocada na minha cabeça. Meu pai não estava ali, Kardama também não. A cidadela estava destruída e os morroians voltariam para me matar quando soubessem que eu estava de volta.

Fui visitar meu pai naquela noite. Ele ainda estava dormindo tranquilamente enquanto eu observava sentada na poltrona ao lado de sua cama.

Meus pensamentos repetiam mais uma vez nossa despedida em Senka enquanto eu chorava. Eu não queria aquela coroa de luz. Ela era dele, não minha. Por isso eu não poderia decepcioná-lo. Meu pai ficaria orgulhoso de mim quando acordasse.

Eu não permitiria mais um ataque contra Aruna. Qualquer morroian que voltasse, pagaria pelo que aconteceu com o meu povo e com o meu pai.

Estendi minha mão para tocar a de meu pai, que repousava ao lado do seu corpo na cama.

— Vou proteger os argians até seu retorno. Eu serei a rainha que você viu em mim.

O Príncipe Sombrio [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora