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Havia uma cama enorme, duas poltronas, uma cômoda e um guarda-roupa, no banheiro tinha uma banheira aceitável. Era tudo escuro, e a única cor que havia era dos meus livros. Eles chegaram uma semana depois de mim, ficaram empilhados no chão do quarto porque aparentemente não podíamos ter uma estante.

Lembro que nos sete primeiros meses, quando tudo que eu queria era atravessar uma adaga a garganta de Rhys, ele dormiu ao chão com apenas um edredom, ou na poltrona.

Eu ajudava ele todas as noites que ele chegava do quarto dela, sem dizer uma palavra, eu apenas ajudava.

Mas teve uma noite que eu senti uma avalanche de sentimentos conflituosos e terríveis, então entrei no banheiro e ele estava chorando encolhido na banheira com um escudo ao seu redor para que eu não o ouvisse, eu quebrei o escudo, e entrei lá com ele.

Ele precisava de alguém e eu seria esse alguém para ele.

Agora eu estava lendo quando ele abraçou minha cintura me puxando para perto, chiei e me encolhi quando ele tocou o ponto ainda dolorido de minha cintura.

Ao contrário do que meu irmão pensou, ela se deliciava em me castigar sempre que eu fazia algo fora das ordens e vontades. Na semana passada quando me recusei a me ajoelhar era me socou várias vezes e depois ordenou que eu tocasse para ela, mesmo tendo três dos meus dedos quebrados, então quando pela milésima vez ela reclamou alegando que eu havia errado a nota para me humilhar, eu arremessei o piano nela.

Eu literalmente joguei o piano, passei quatro dias nas masmorras sem comida, não que isso tenha impedido Rhys de ir me alimentar, ela usou magia para desacelerar minha cura, e depois não contente me bateu enquanto eu estava pendurada pelas mãos.

Eu chorei, e no final cuspi na cara dela, e então só me lembro de acordar no quarto.

Sinceramente não compreendo como ainda estou viva, ou como ainda não fui jogada montanha abaixo.

Eu posso ser insuportável quando quero.

— Posso te curar ‒ ele murmura.

— E ser jogado na masmorra, ou espancado? ‒ ele ia responder mais o lancei um olhar que o fez ficar quieto.

Minha voz ainda está rouca, e dói para falar, aquela pequena chama de esperança já foi apagada, vou morrer aqui, mas ao menos conheci Rhys, ele é a única coisa boa deste lugar.

Um morcego gigante, convencido, com o ego inflado, que participou do assassinato de minha família, e que mesmo quebrado não permite que eu desmorone e cuida de mim.

Só percebi estar chorando quando Rhys me puxou para perto e me abraçou, aprendi a chorar baixo e sem som, porque se eles ouvissem eu chorando depois, voltariam e me dariam motivos para chorar de verdade.

Era oque meu pai sempre dizia.

Um soluço escapou pela minha garganta, e então como se um botão se apertasse em minha cabeça eu paro de chorar, meus olhos se destacam fundo vermelho pelas lágrimas, eu me solto sentando na cama, respirando fundo para reconstruir tudo novamente.

— Não faça isso ‒ ele diz se sentando na minha frente ‒ Não na minha frente, lá fora erga a máscara que quiser, mas aqui dentro somos só você e eu, e você pode desmoronar, pode ser você mesma. Se continuar erguendo muros até mesmo para mim, não vai suportar.

— Eu aprendi a viver assim ‒ respondo na defensiva.

— Então agora aprenda a viver comigo, pode sempre ser sincera e verdadeira comigo. Na verdade, deve, isso é uma ordem ‒ ele diz com um sorrisinho idiota.

Sua marca registrada são sorrisinhos idiotas.

— Ordem? Você julga que manda em algo seu bastardo?

— Bom eu sou um Grão Senhor, eu com certeza mando.

— Eu te aconselho a ficar bem quietinho ou vai dormir no chão.

— Você não faria isso ‒ dou a ele um olhar que diz o contrário ‒ Fêmea cruel, vai acabar magoando meu coração"

— Eu estou em dúvida, você é um macho crescido ou ainda uma criança?

Ele deu um sorriso lascivo, e indicou com a mão todo seu corpo.

— Quer ver melhor o quanto eu cresci desde que era um garotinho?

— Seu nojento, eu estava falando sobre sua mentalidade, mas já tenho a confirmação.

— De quê?

— Você é apenas um bebê ‒ afirmo com um sorriso ‒ Bebê illyriano que nunca vai crescer.

— Bom, bebês precisam de atenção, precisam que alguém cuide deles, e mamam ‒ mais uma vez um sorriso sujo tomou conta do seu rosto ‒ Eu estou adorando este meu novo papel, cuide de mim.

Estiquei a perna e chutei ele até que caísse da cama enquanto gargalhava, me estiquei para olhar ela caído no chão com um sorriso.

— Já que irei dormir no chão, leia para mim.

— Você não vai gostar de meus livros ‒ murmuro voltando ao meu canto.

— Que categoria de livros você anda lendo que eu não vou gostar?

— Não é da sua conta, meu livros são áreas proibidas, toque neles e vai ter que acampar na porta do quarto.

— Anda lendo indecências, libertinagens, coisas depravadas? ‒ ele chutou com um sorrisinho ‒ Doce primavera?!

Meu rosto esquentou e ele riu voltando a se jogar na cama.

— Vai se foder Rhysand!

— Que belo palavreado para uma dama ‒ ele disse acariciando meu rosto e eu sorri.

Era tão estranho estar sorrindo naquele lugar, parecia fora de tom, mas era impossível não sorrir com esse macho do lado.

Corte de Luz e EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora